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- As ações da Ambipar (AMBP3) acumulam ganhos de 110% em agosto, enquanto sobem 560% no ano
- Em julho, tanto o CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, quanto fundos da gestora Trustee anunciaram aumentos de participação acionária na companhia
- Especialistas entendem, no entanto, que o movimento de valorização dos papéis foi puramente técnico, não estando relacionado aos fundamentos da Ambipar
As ações da Ambipar (AMBP3) passam por um momento positivo na Bolsa brasileira, para dizer o mínimo. Somente nesses 12 primeiros dias de agosto, os papéis da empresa de gestão ambiental registram uma valorização de 113%. No acumulado do ano, a alta chega a 560%. Esse movimento, entretanto, foi iniciado no fim de junho – antes disso, os papéis amargavam quedas.
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Esta reviravolta chamou até mesmo a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que por duas vezes – nos dias 12 de julho e 2 de agosto – pediu esclarecimentos sobre a movimentação atípica dos papéis. Em resposta aos ofícios, a Ambipar informou não ter conhecimento de “qualquer ato ou fato relevante que não seja público e que possa justificar as oscilações”.
Nos últimos meses, a autarquia também abriu investigações que envolvem a Ambipar. No final de junho, a CVM iniciou um processo administrativo (PA) sobre a não divulgação de notícias e fatos relevantes. Já em 2 de julho, outro PA foi iniciado. Desta vez, relacionado à cobrança de multa.
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Em comunicado enviado ao E-Investidor, a empresa reforçou que os processos não estão associados ao movimento atípico das ações. “A Ambipar afirma que os processos em questão não têm qualquer correlação com a oscilação dos papéis da companhia. Esclarece também que tais processos são anteriores ao atual movimento das ações”, diz a companhia.
Na visão de analistas, por trás da reviravolta dos ativos da Ambipar, a grande figura de destaque é o CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior.
No dia 10 de julho, a Ambipar comunicou ao mercado que o executivo ampliou sua participação acionária na empresa, atingindo o montante de 122.165.450 ações, correspondentes a, aproximadamente, 73,135% do capital social total e votante.
Em correspondência enviada à companhia, Tércio Borlenghi Junior explicou que a aquisição teve como objetivo reforçar o seu compromisso no investimento na empresa, sem intenções de alterar a estrutura administrativa. Disse ainda que a operação foi apenas uma consolidação do controle da Ambipar exercido por ele, em um momento em que as condições de mercado lhe pareceram favoráveis.
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O comunicado conseguiu explicar parte do movimento de recuperação que as ações da Ambipar já vinham registrando desde a segunda quinzena de junho – só do dia 14 ao dia 28 do último mês, os papéis tinham subido mais de 53%. “Naquele momento, a gente não tinha muita ideia do que estava puxando o ativo.
Depois do fato relevante, nós conseguimos ter certeza de que um dos players que estavam fazendo essa movimentação era o controlador”, destaca Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research.
Dois dias depois do anúncio de Borlenghi, um outro player de destaque ajudou os investidores a entenderem a repentina valorização de AMBP3. Em 12 de julho, a empresa informou que fundos da gestora Trustee passaram a deter 11.030.300 ações da Ambipar, o equivalente a 6,60% do capital social. Rumores apontam que, nos bastidores da Trustee, está o megaempresário Nelson Tanure, conhecido por suas estratégias de gestão mais agressivas.
Leia mais: Ambipar (AMBP3): Trustee amplia participação; relembre as movimentações da casa
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Cerca de duas semanas depois, em 25 de julho, a gestora anunciou um novo aumento de posição acionária na empresa, agora atingindo 11,03%, do capital social, o equivalente a 18.419.100 ações. Na última sexta-feira (9), a divulgação de mais uma empreitada: fundos da Trustee passaram a deter 25.117.800 papéis da Ambipar, o que representa 15,03% do capital social.
Em correspondência enviada à companhia, a gestora disse que pretende indicar dois novos membros para integrar o conselho de administração da empresa. “Oportunamente enviaremos um novo comunicado para a Ambipar para a indicação dos nomes, bem como solicitação de Assembleia Geral Extraordinária de Cotistas para deliberar sobre o tema”, reforçou a Trustee.
Com dois grandes players ampliando sua posição na Ambipar, analistas explicam que a alta recente dos papéis se deve a um movimento de short squeeze. Basicamente, ele acontece quando investidores com posições vendidas (short) desfazem suas apostas na queda do papel e recompram a ação para zerar a posição.
Isso acaba gerando um efeito em cadeia. Dessa forma, outros players que estão na mesma situação, ao verem os investidores desistirem de suas posições, fazem o mesmo, o que eleva a pressão de compra do ativo e faz seu preço disparar.
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“É importante notar que a Ambipar era uma das ações mais vendidas (shorteadas) na Bolsa. Como resultado, os investidores que possuíam posições vendidas foram forçados a encerrar suas operações, recomprando suas ações. Este fator contribuiu ainda mais para a elevação do preço dos papéis”, explicou a Guide Investimentos em relatório.
Leia mais: Até onde a ação da Ambipar (AMBP3) vai continuar subindo?
Ainda em julho, a Ambipar anunciou um novo programa de recompra de ações, com duração de até 18 meses. A iniciativa tem como principal objetivo maximizar a geração de valor para os acionistas. “A gente viu que, nos primeiros dias do mês, a empresa fez algumas recompras, então isso acabou contribuindo para o movimento de valorização recente”, afirma Vaz, da Nord Research.
No final do mês passado, a companhia também anunciou alterações na diretoria. João Daniel Piran de Arruda se tornou o novo diretor financeiro (CFO). O executivo começou no novo cargo em 5 de agosto. Ele substituiu Thiago da Costa Silva, que passou a ocupar o cargo de diretor de Integração e Finanças.
Houve melhora nos fundamentos da empresa?
Entre janeiro e junho deste ano, as ações da Ambipar acumulavam queda de 17,20% em 2024. O cenário mudou radicalmente a partir de julho: agora os papéis da companhia registram uma valorização de 560% no ano. Atualmente, são negociados no patamar de R$ 107,80, a maior cotação histórica.
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Os especialistas, no entanto, não são muito otimistas no que se refere às expectativas para o futuro das ações. A visão do mercado é de que o movimento recente foi puramente técnico, envolvendo mais especulações do que os fundamentos da empresa propriamente ditos. “Na minha visão, houve uma melhora muito mais relacionada à comunicação com o mercado”, ressalta João Daronco, analista da Suno Research.
No que se refere aos resultados trimestrais, a Ambipar obteve um prejuízo líquido consolidado de R$ 202,1 milhões entre janeiro a março de 2024. “A empresa de gestão ambiental fez a emissão de um título verde, basicamente trocando uma dívida mais cara por uma dívida um pouco mais barata, e isso acabou pesando muito no resultado financeiro”, explica Vaz, da Nord Research.
Em junho, a companhia anunciou mudanças em suas metas estratégicas. Antes, a previsão era de atingir uma alavancagem medida pela dívida líquida financeira sobre Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2,5x, com prazo até o final do ano de 2026. Com a atualização, a meta foi antecipada para 12 meses.
As informações foram bem recebidas pelo Itaú BBA, que tem recomendação market perform (equivalente à neutro) para as ações com preço-alvo em R$ 14,20. “Acreditamos que os investidores estão ansiosos por melhorias nas margens da Ambipar, bem como uma implementação bem-sucedida do seu plano de gestão de passivos”, indicou a equipe da casa à época.
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A XP também viu a atualização com bons olhos. Na opinião da corretora, a notícia demonstra um compromisso com a geração de caixa e um cuidado na alocação de capital. Além disso, as novas orientações, mais restritivas, diminuem a chance de um potencial follow-on (oferta subsequente de ações), que gerava preocupação nos investidores. A casa tem recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo em R$ 33.
Para Vaz, porém, as mudanças nas projeções podem não ser suficientes. “A gente precisa ver tudo isso ser bem executado para refletir em resultados melhores e eles conseguirem reduzir a alavancagem, começar a diminuir a queima de caixa e mais para frente passar a ter uma geração de caixa positiva”.
Fora as alterações nas previsões de alavancagem, nenhuma outra notícia relacionada aos fundamentos da Ambipar havia movimentado o mercado até julho. A companhia chegou a anunciar no último mês uma parceria com a Heineken para acelerar a reciclagem de vidro no Brasil, mas o fato não gerou grandes repercussões, conforme explica Max Bohm, estrategista de ações da Nomos.
“É uma parceria importante? Sim. Vai gerar um incremento de receita? Sim. Mas nada que justifique essa alta expressiva que a gente viu no papel. Então, a valorização se deve muito mais a um movimento técnico”, afirma o analista.
Já na última quinta-feira (8), a empresa divulgou seu balanço do segundo trimestre de 2024. No período, reportou um lucro líquido consolidado recorrente de R$ 45,5 milhões, crescimento de 90,4% em comparação ao mesmo período de 2023 e de 7,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Na opinião do BTG Pactual, os resultados foram sólidos, especialmente no que se refere ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 436,4 milhões, considerado recorde, que representou um crescimento anual de 18%. “Mas as despesas financeiras líquidas ficaram acima do esperado, totalizando R$ 390 milhões, contra a estimativa de R$ 324 milhões”, ponderou o banco, que tem recomendação de compra para o papel com preço-alvo de R$ 21.
O que fazer com os papéis da Ambipar (AMBP3)?
Nos corredores da empresa, a visão é de que a alta recente das ações deve se estender. Além da disputa entre comprados e vendidos no ativo, o entendimento nos bastidores é de que a mudança nas metas estratégicas e o plano de recompra de ações funcionaram como um incentivo de longo prazo. Isso teria contribuído para a recuperação dos papéis a partir da segunda quinzena de julho – principalmente, ao levar em consideração que os ativos chegaram a ser negociados na mínima histórica de R$ 8 ao final de maio.
Uma fonte ligada à companhia também viu de forma positiva o aumento de posição da Trustee e o interesse da gestora em indicar dois membros para o conselho de administração da Ambipar. O pensamento é de que a experiência da casa pode ajudar no plano de desalavancagem da empresa e melhorar a sua estrutura de capital.
Já os analistas consultados pelo E-Investidor ainda demonstram um ceticismo em relação aos papéis. “A gente não tem preço-alvo, mas a nossa recomendação foi de venda para os nossos assinantes”, indica Vaz, da Nord Research. “O mercado só vai precificar bem uma ação a partir do momento em que a empresa estiver dando confiança para os seus acionistas. A Ambipar ainda não está conseguindo fazer isso”.
O analista afirma ser difícil prever se os dois grandes players por trás da disparada dos papéis – Borlenghi e Trustee – vão continuar aumentando suas posições na empresa. “A gente não tem ideia sobre aonde eles querem chegar com isso. Mas o Borlenghi tem uma trave, a partir do momento que ele atinge uma certa posição, ele precisa abrir uma oferta pública de aquisição de ações (OPA)”.
Bohm, da Nomos, compartilha da mesma opinião de Vaz. O estrategista acredita que a empresa tem uma alavancagem muito alta ainda, e há outras opções mais atrativas na Bolsa brasileira. “Eu não teria o papel. Acho que ele está sendo alvo nos últimos dias de um movimento forte de especulação. Então, é um ativo que está meio à deriva, sem que os fundamentos impactem no preço.”
A Guide Investimentos, por sua vez, tem recomendação de venda para as ações da Ambipar, aconselhando os investidores a não especularem e a aproveitarem para realizar o lucro já obtido. “O aumento significativo do preço ocorreu sem quaisquer alterações nos fundamentos da empresa. À medida que as ações continuam a subir, com um número cada vez menor de posições vendidas, a probabilidade de uma queda acentuada nos próximos dias aumenta”, destacou a casa em relatório.
*Com Jennefer Andrade