Mercado

Como o ‘efeito Americanas’ aparece nos balanços dos bancos privados

Varejista deve R$ 26,4 bilhões a 12 instituições financeiras; Itaú, Bradesco e Santander estão entre elas

Como o ‘efeito Americanas’ aparece nos balanços dos bancos privados
Entre os resultados já divulgados, o do Itaú foi o que mais agradou o mercado. (Fonte: Warko/Wikimedia Commons/Reprodução)
  • Três grandes bancos privados do Brasil já divulgaram seus balanços referentes ao quatro trimestre de 2022: Santander, Itaú e Bradesco
  • Sem citar nomes, todos provisionaram a exposição a um "grande cliente do atacado" que está passando por "Recuperação Judicial", sinal que o rombo na Americanas já está impactando o resultado das instituições
  • Analistas destacam pontos positivos e negativos nos balanços; protagonismo até agora está com o Itaú

A temporada de divulgação de resultados referentes aos últimos três meses de 2022 já está a todo vapor no Brasil. Desde a última semana, três dos maiores bancos privados do País reportaram seus balanços financeiros – e, entre pontos positivos e negativos, lá estavam os primeiros impactos do rombo bilionário encontrado na Americanas (AMER3).

A varejista, que pediu Recuperação Judicial, deve ao menos R$ 26,4 bilhões a 12 instituições financeiras. Como mostramos aqui, o Bradesco tem R$ 4,8 bilhões a receber da Americanas; o Santander, R$ 3,6 bi; o BTG Pactual, R$ 3,5 bi; o Itaú, R$ 2,7 bi; e o Banco do Brasil, R$ 1,3 bi.

Embora as “inconsistências contábeis” na Americanas só tenham sido comunicadas ao mercado após o encerramento do último trimestre de 2022, a possibilidade de que a companhia não honre ou demore para honrar com o pagamento de suas dívidas fez Santander (SANB11), Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) provisionarem parte da exposição que têm à companhia.

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O balanço do Santander, por exemplo, trouxe um aumento de 14% ante o 3T22 das despesas relativas a provisões. O banco não deu detalhes sobre o assunto, mas disse que o ajuste foi causado por um “evento subsequente” ocorrido após o dia 31 de dezembro no segmento do atacado.

O Itaú também não citou nomes por sigilo bancário, mas provisionou 100% do “impacto de um evento subsequente de um grande cliente corporativo sobre o custo de crédito”. O banco informou que o esforço gerou um impacto negativo de R$ 719 milhões no lucro do trimestre.

O Bradesco seguiu o mesmo caminho e optou por provisionar 100% do crédito de “cliente de grande porte do atacado”.

Os provisionamentos foram vistos pelo mercado como um acerto por parte das instituições, que inevitavelmente precisariam de algum esforço para absorver o impacto causado pela Recuperação Judicial da Americanas.

“Gostamos da postura dos bancos, que preferiram provisionar um caixa para cobrir essa exposição já no balanço do 4° trimestre de 2022. Apesar do rombo ter sido divulgado neste ano de 2023, achamos uma postura conservadora e condizente com o cenário”, destaca André Fernandes, Head de Renda Variável e sócio A7 Capital.

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Veja mais detalhes dos resultados:

  • Santander

O Santander foi o primeiro entre os bancos privados a divulgar seus resultados do 4T22, no dia 2, informando um lucro líquido gerencial (quando exclui-se o ágio de aquisições) de R$ 1,689 bilhões. O montante representa uma queda de 56,5% em relação ao mesmo período de 2021 e de 45,9% em relação ao terceiro trimestre de 2022.

As margens do banco caíram 11,6% no período. A alta da Selic afetou os resultados da tesouraria e a inadimplência elevada entre os clientes pessoa física também pesou.

“Já esperávamos uma considerável contração do lucro por ação, mas os números divulgados foram ainda mais fracos”, classificam Thiago Batista e Olavo Arthuzo, analistas do UBS BB. “As principais tendências operacionais decepcionaram: margens do cliente, negociação, despesas de provisão e despesas operacionais”.

  • Itaú Unibanco

O Itaú divulgou seu balanço na terça-feira (7), com resultados aquém das expectativas do mercado, mas ainda assim considerado positivo por analistas. O banco reportou um lucro líquido gerencial de R$ 7,668 bilhões, uma alta de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

O desempenho poderia ter sido maior não fosse o provisionamento de 100%. Mas, agora, a perspectiva é mais positiva, já que o banco “retira” essa preocupação dos balanços futuros. “A melhor notícia vem que, com o balanço limpo, a agenda volta a ser de crescimento”, destacam Eduardo Nishio, head de research, e Wagner Biondo, analista do setor financeiro da Genial Investimentos.

  • Bradesco

Os resultados do Bradesco foram divulgados após o fechamento do pregão desta quinta-feira (9). O banco reportou um lucro líquido recorrente de R$ 1,595 bilhão, uma baixa de 75,9% em um ano. Um levantamento feito por Einar Rivero, do TradeMap, mostrou que é o pior resultado trimestral do banco desde o final de 2006.

Na avaliação de André Fernandes, da A7 Capital, o lucro reportado pelo Bradesco poderia ter surpreendido as expectativas do mercado, não fosse o provisionamento de Americanas. O Bradesco é o banco com a maior exposição absoluta à companhia.

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Fernandes aponta que o banco teve o menor lucro entre seus pares privados. “O resultado foi ruim, a inadimplência continua alta, e o ROE que figurava entre os melhores junto com Itaú, acabou decepcionando”, explica. “As ADR do banco nos EUA caíram no after hours logo após a divulgação do resultado, com o investidor estrangeiro já demonstrando uma decepção.”

Qual o melhor para investir?

Pela avaliação dos resultados do 4T22 e as perspectivas para 2023, a ação de banco que mais aparece entre as recomendações dos analistas é a do Itaú. A ITUB4 está, inclusive, entre as mais recomendadas por 14 corretoras para o mês de fevereiro.

O BB Research reduziu o preço-alvo das ações do Itaú para R$ 30,20, para “refletir as condições mais árduas do cenário macro”. Ainda assim, manteve a recomendação de compra dos papéis. “Entendemos que o Itaú deve permanecer registrando menor volatilidade nos resultados dentre os bancos de maior porte de nossa cobertura”, diz Rafael Reis, analista da corretora.

Na Genial, o papel ITUB4 também é a preferência, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 32. “Reiteramos o Itaú como nossa preferência de longo prazo entre os grandes bancos brasileiros. Negociando a apenas 6,64x P/L 2023E (nossas estimativas e meio do guidance), entendemos que as ações do banco estão em níveis atraentes”, dizem Eduardo Nishio e Wagner Biondo.

Recentemente, a casa alterou a recomendação das ações do Santander de neutra para venda – posição que foi reiterada após a divulgação do balanço da instituição. O preço-alvo é de R$ 27,10. “2023 deve ser difícil. Com a piora do ciclo de crédito, receita pressionada com fraca tesouraria e apenas 30% dos créditos podres de Americanas provisionados, esperamos que em 2023 os resultados continuem pressionados”, destacam Nishio e Biondo.

As ações do Bradesco também passaram por revisões recentes na Genial, antes mesmo da divulgação dos resultados do 4T22. Na primeira semana de fevereiro, a corretora rebaixou a recomendação de BBDC4 de compra para manutenção. Sem nenhum gatilho de curto prazo, o time da Genial entende que “com a deterioração do ciclo de crédito, os resultados do Bradesco devem piorar antes de melhorar”. O preço-alvo é de R$ 15,60.

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