Publicidade

Mercado

Americanas (AMER3): O que esperar da ação em 2025 após a empresa lucrar R$ 10 bilhões?

Foi um valor próximo ao lucro do Itaú. Analistas explicam quais serão os desafios da varejista e o que o investidor deve fazer agora

Americanas (AMER3): O que esperar da ação em 2025 após a empresa lucrar R$ 10 bilhões?
Lojas Americanas (AMER3). (Foto: Adobe Stock)
O que este conteúdo fez por você?
  • As ações da Americanas apresentaram forte volatilidade no mercado nos últimos dias
  • Investidor deve entender quais são os riscos de uma ação que dispara mais de 90% e perde todos os ganhos no mesmo dia
  • Analistas dizem quais serão os grandes problemas que a Americanas deve enfrentar em 2025

A Americanas (AMER3) chamou atenção nos últimos pregões. Na quinta-feira (14), as ações da companhia dispararam 180% em um único dia após divulgar um lucro líquido de R$ 10 bilhões no terceiro trimestre de 2024. Na última segunda-feira (18), os ativos chegaram a R$ 18,14 na máxima do pregão, uma alta de 92% em um único dia. Até a metade do dia de ontem, o investidor da Americanas parecia estar no paraíso. O ativo acumulava duas altas seguidas, uma de 180% e outra de 92% – mas é nesse ponto que o risco aparece, já que o papel terminou muito longe da máxima.

Embora a ação AMER3 tenha disparado mais 90% na máxima de segunda-feira, o papel fechou apenas com uma alta de apenas 1,17%, a R$ 9,52. Ou seja, quem comprou o ativo na máxima ontem acumula uma perda de 47,51% na comparação com fechamento de ontem, visto que a ação foi de R$ 18,14 na máxima para R$ 9,52 no fechamento do mesmo dia. Justamente por causa dessa gangorra, o E-Investidor conversou com analistas do mercado financeiro para saber se a Americanas pode ser um investimento confiável ou ativo meramente especulativo para investir em 2025.

Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, lembra que o investidor deve focar na análise fundamentalista da empresa, pois o desempenho do papel nos últimos dias não foi nada racional. Na visão dela, a companhia apresentou um desempenho especulativo e volátil. Isso porque o lucro da Americanas no terceiro trimestre de 2024 foi de R$ 10,27 bilhões (enquanto o Itaú lucrou R$ 10,67 bilhões), mas a empresa fez uma renegociação da dívida, o que jogou os débitos para futuro e acabou inflando o resultado neste último trimestre.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Em entrevista ao Broadcast, Camille Faria, CFO da varejista, explica que os números refletem o processo de novação de dívida, mecanismo jurídico de reestruturação das pendências financeiras. A medida criou uma receita financeira decorrente do pagamento de dívidas por um valor menor após um acordo entre credores. Isso garantiu uma “economia” para os resultados operacionais da Americanas.

“Além disso, de ponto de vista contábil, enquanto o plano de recuperação judicial da Americanas não tinha sido aprovado, tínhamos de seguir reconhecendo a despesa financeira da dívida. No momento da aprovação, estorna-se toda essa despesa financeira que se vinha reconhecendo nos últimos trimestres em mais de R$ 4 bilhões. Então, entre haircut (redução do valor de alguma dívida) e estorno desse serviço da dívida, temos esses R$ 10 bilhões de lucro”, comentou Camille em entrevista ao Broadcast.

Ou seja, o investidor deve entender que, se não fosse o adiamento do pagamento da dívida da Americanas, a companhia não teria um lucro próximo ao do Itaú. Olhando apenas para o lucro bruto, a Americanas teve um resultado de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre de 2024. Humberto Silva, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), diz que o investidor deve entender que esse lucro bilionário puxado pela redução das dívidas não mostra que a empresa se recuperou e sim que ela está buscando melhorar os seus indicadores.

“O fato de ter caído o Volume Bruto de Vendas (GMV, na sigla em inglês) em 4% na comparação entre o terceiro trimestre de 2024 e o mesmo período do ano passado não indica uma super recuperação. Nem da receita líquida, que cresceu 0.6% no terceiro trimestre de 2024 ante o terceiro trimestre de 2023. É um avanço bem menor que a inflação do período. O que impulsou o resultado foi que diversos credores aceitaram quitar suas dívidas recebendo 70% a 80% menos do que o valor efetivamente devido pelas Americanas, o que aliviou bastante o resultado da varejista”, argumenta Silva.

Publicidade

A Nord Research acrescenta que outro fator favoreceu o resultado do trimestre: os benefícios fiscais e créditos operacionais, incluindo aproximadamente R$ 41 milhões em créditos fiscais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e R$ 47 milhões referentes à recuperação de Verba de Propaganda Cooperada (VPC).

“Esses valores foram contabilizados na linha de outras receitas operacionais, ajudando a expandir o lucro bruto. Ainda que o trimestre tenha registrado despesas de R$ 56 milhões associadas aos custos do processo de recuperação judicial e investigações, esses gastos foram compensados pelos efeitos extraordinários e ganhos financeiros mencionados”, afirma a Nord Research.

O que esperar das ações da Americanas em 2025?

Para 2025, os analistas dizem estar receosos. A Nord comenta que a varejista deve manter o foco em fortalecer a operação física e estabilizar o digital. A corretora entende que a empresa terá um 2025 focado em margens de lucro elevadas e a otimização do parque de lojas, que indica uma estratégia voltada à rentabilidade e eficiência. No entanto, o cenário ainda requer atenção quanto à recuperação judicial e sua execução.

“No momento, não temos recomendação de compra para os papéis da Americanas. A empresa atravessa um processo de recuperação judicial e reestruturação financeira, buscando estabilizar e fortalecer suas operações, o que pode ser moroso e custar parte da lucratividade do investidor”, comenta a corretora.

Caroline Sanchez, da Levante, também comenta que o processo da empresa será lento. Ela enxerga que 2025 será um ano extremamente desafiador para a Americanas por vários motivos. O primeiro é o cenário macroeconômico, que, com juros elevados, tende a resultar em um ano problemático para a empresa. O mais recente boletim Focus estima que a Selic deve terminar 2025 a 12% ao ano. Atualmente a taxa básica de juros está em 11,25%. Com a Selic elevada, o consumo tende a ser reduzido, impactando diretamente o lucro da companhia.

Publicidade

“Não só a Americanas terá um ano difícil em 2025, mas todas as empresas do e-commerce em função do cenário macroeconômico. Além disso, a empresa enfrenta um processo de recuperação judicial. O caminho para sair dessa situação tende a ser longo, com uma resolução final por volta de 2026. Ou seja, o investidor ainda encontrará muita volatilidade no papel ao longo de 2025”, afirma Sanchez. A especialista também não recomenda compra para as ações da Americanas. Ela diz que o Mercado Livre é sua ação favorita do setor e complementa: o investimento em Americanas é mais especulativo do que fundamentado.

Humberto Silva, da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), diz acreditar que os novos executivos da companhia estão empenhados em retomar a credibilidade da Americanas, mas a curva de juros ainda deve continuar elevada em 2025, o que pressionará o consumo e as despesas financeiras da companhia. “Por isso, acredito que existem melhores opções de investimentos para 2025 sob o aspecto de diversificação, a não ser que se pense em alocar uma fatia muito pequena do seu patrimônio, abaixo de 2%, para o rentabilizar seu portfólio”, afirma.

Ou seja, o consenso é de que o investidor deve manter distância das ações da Americanas, pois em 2025 a ação pode apresentar uma alta volatilidade. O papel pode ser imprevisível e, entre algumas disparadas, as ações podem ter algumas derrocadas e é neste contexto que o perigo surge para o investidor. Caso a pessoa não queira correr esse grande risco de acumular uma perda de 47% em poucas horas, o ideal é não investir nas ações da Americanas (AMER3), segundo a opinião dos analistas.