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- Guedes criticou analistas e a mídia afirmando que “não podemos ser negacionistas em matéria econômica”, mas negou que a situação esteja descontrolada e que a inflação até 8% está “dentro do jogo”
- Para analistas, o “otimismo” de Guedes é uma tentativa de dar confiança ao mercado
- O E-Investidor ouviu especialistas da BRA, Ativa, B.Side, Alkin Reserach, Financial Move, RB e 051 Capital
(Luana Meneghetti, Luiz Felipe Simões e Rebeca Soares) – O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que “não podemos ser negacionistas em matéria econômica”, mas negou que a situação esteja descontrolada ao afirmar que a inflação na casa de 7% ou 8% está “dentro do jogo”. A declaração foi feita nesta segunda-feira (23) durante evento virtual da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e após o Ibovespa encerrar em queda, aos 117 mil pontos.
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A Bolsa vem operando em baixa nos últimos dias, impactada por incertezas fiscais, com o mercado sinalizando grande preocupação com o cumprimento do teto dos gastos, e ruídos políticos com o atual conflito entre os três poderes. O cenário reflete também a volatilidade do dólar e a alta da inflação, criando um movimento de migração para ativos mais seguros em momento de juros altos.
Além do reflexo nos investimentos, a inflação elevada reduz o poder de compra da população em consequência da desvalorização da moeda e da alta dos preços dos produtos, afetando diretamente o crescimento econômico. Analistas do mercado projetam no Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, um IPCA menor no próximo ano, na casa de 3,93%, mas não é otimista com o crescimento econômico.
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O ministro disse, porém, que o “Brasil vai mais uma vez desmentir as previsões dos pessimistas”, ao apontar que o Brasil deve manter o ritmo de crescimento deste ano, de 5,5%. O mercado contraria a visão de Guedes e projeta um PIB de 2% no próximo ano. Há quatro semanas, a projeção era um pouco maior, de 2,10%.
O E-Investidor conversou com sete analistas sobre as declarações do ministro Paulo Guedes, que afirmou “não haver fundamento para dizer que o Brasil está perdendo o controle” do ponto de vista econômico. Entenda a visão de cada um deles:
João Beck, economista e sócio da BRA
“Ao invés de um déficit primário de 3% do PIB que o mercado estimava no início de abril, os dados agora apontam para um déficit de 1,5% do PIB. Ou seja, em apenas cinco meses a expectativa de déficit primário caiu pela metade. A retórica de todo ministro é de otimismo e o mercado tende a não se influenciar por esse tipo de argumento. Os dados e os ruídos do congresso afetam mais”, afirma Beck.
Na opinião do economista, o que tem deixado o mercado tenso é o debate sobre como conciliar o pagamento de sentenças judiciais com o teto de gastos, além do Bolsa Família. “ O que assusta é essa flexibilização do teto que criaria mais insegurança na busca por espaço fiscal”, diz.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos
“É completamente compreensível que o ministro esteja querendo restabelecer a confiança do empresariado no Brasil, mas o compromisso e a análise têm que ser minimamente em linha com a realidade”, afirma Sanchez.
Para o especialista, o ministro “tem razão” sobre o Brasil não estar passando por uma turbulência fiscal do ponto de vista estritamente econômico. Apesar disso, segundo Sanchez, a PEC dos precatórios pode mudar a dinâmica. “A expansão do Bolsa Família sem recursos gera um piora sistemática na trajetória de dívida. As reformas tributária e administrativa perderam ímpeto e força na tramitação, destacando que hoje as mesmas não são mais optativas e sim obrigatórias”, destaca.
Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos
“Ele [Guedes] está fazendo o papel dele de se colocar na defensiva”, afirma. Segundo Vieira, os analistas estão sendo mais realistas com o que é visto no mercado por conta da consequência de estímulos na economia. “Houve um erro do Copom (Comitê de Política Monetária) em levar os juros para um patamar mínimo no ano passado, o que não faz sentido para o Brasil”, afirma Vieira.
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Para a analista, é possível que a tentativa de regular a inflação com aumento da taxa de juros possa novamente ultrapassar o limite ideal. A especialista da B.Side explica que não é possível comparar a inflação brasileira com a situação dos Estados Unidos e outras nações com economia mais forte. Segundo ela, os países têm dinâmicas diferentes.
Anderson Meneses, CEO da Alkin Research
“Com a fala, Guedes tenta transferir um certo otimismo para o mercado e assim tranquilizá-lo. Nós estávamos em 2019 com um cenário muito bom, aí veio pandemia e estourou, foi realmente uma bomba que caiu no nosso colo, assim como todos os outros países, mas mesmo assim, não estouramos o teto de gastos. É importante frisar que passamos uma pandemia sem romper o teto de gastos, o que mostra até uma certa disciplina fiscal”, afirma.
De acordo com Meneses, os precatórios são outra bomba, de quase R$ 90 bilhões, sobre a qual o ministro disse que ainda não sabia o que fazer. Para o CEO, a falta de estabilidade política acaba maculando a expectativa sobre o fiscal. “O que de fato é sinalizado quando se diz que o Brasil não tem controle para os investidores é mais o quadro político, que na minha visão acaba influenciando a percepção sobre o fiscal”, completa.
Tasso Lago, fundador da Financial Move
“Tem grande parte do mercado que acredita que há o descontrole fiscal, mas creio que temos métricas como, por exemplo, a dívida líquida sobre o PIB, que se encontra estável. Conseguimos controlar da mesma forma em que o PIB vem se recuperando de maneira satisfatória”, afirma.
“Eu concordo com o Guedes em relação ao ponto de vista estritamente econômico, ou seja, olhando puramente para os números o Brasil está se recuperando bem, apesar de termos uma inflação acima do esperado, um IPCA acumulado de quase 10% e um IGPM descontrolado. Temos esse cenário de preocupação, mas vemos a dívida líquida controlada e o PIB se recuperando”, diz.
Rossano Oltramari, estrategista e sócio da 051 Capital
“Não tiro a razão dele [Guedes], do ponto de vista de que essa deterioração que observamos ao longo das últimas semanas nos ativos, aqui podemos falar de câmbio, bolsa, juros e em um caso bem isolado do Brasil mesmo, não foi um agravamento a nível global que nós estamos vendo principalmente nos EUA, com suas bolsas batendo recorde atrás de recorde. Aqui estamos bem longe das máximas históricas”, afirma.
Na visão do analista, essa deterioração tem como cerne o cenário político e institucional, que está em Brasília. “Todas essas questões envolvendo essa disputa política, ou mesmo esse imbróglio entre os poderes que tem também uma questão econômica por trás, aqui podemos citar a questão dos precatórios, que sem dúvida nenhuma está impactando os mercados”, diz.
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Para Oltramari, a questão de impeachment de ministros tem feito muita pressão no preço dos ativos. “Quando tiramos o cenário político e analisamos estritamente a economia brasileira, acho que não estaríamos com esse cenário que estamos vivendo hoje, ou seja, a economia está apresentando uma recuperação robusta, os dados macroeconômicos mostram isso, nós temos sim pressões inflacionárias disseminadas, mas isso ocorre no mundo inteiro.”
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
Segundo o estrategista, faz parte do papel institucional do ministro passar um pouco de otimismo na fala. Do ponto de vista econômico, Cruz concorda que o movimento é positivo com a reabertura e o avanço da vacinação.
No entanto, observa Cruz, a inflação é sim um ponto de preocupação. “Não faz sentido o que ele [Guedes] disse em relação à inflação. Ela dá sinais de preocupação aqui e lá fora, e se não der uma suavizada até o final do ano, vai pressionar gastos importantes para o governo”, afirma.
Na situação fiscal, o estrategista critica os precatórios. “A solução que o ministro está dando não faz muito sentido e só piora a questão do custo Brasil, gerando incerteza para o investidor.”
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