As ações da Azul(AZUL4) inverteram sinal e passaram a subir após despencarem mais de 10% na abertura do pregão desta quarta-feira (28), reagindo ao anúncio de reestruturação nos Estados Unidos por meio do Chapter 11 – equivale à recuperação judicial no Brasil. Às 12h06, as ações da Azul avançam 0,93%, a R$ 1,08.
Mais cedo, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial nos EUA visando eliminar mais de US$ 2,0 bilhões em dívidas. A companhia disse que obteve um financiamento Debtor-in-Possession Financing (DIP, que se refere a uma linha de financiamento para manter as operações da companhia durante o processo) de aproximadamente US$ 1,6 bilhão obtido de parceiros financeiros, que será usado para refinanciar certas dívidas existentes e prover cerca de US$ 670 milhões em nova liquidez.
Ao final do processo de recuperação judicial da Azul, está prevista a amortização do DIP com os recursos de uma oferta de subscrição de ações de até US$ 650 milhões, com garantia firme dos referidos investidores. A empresa também prevê um possível investimento adicional de até US$ 300 milhões por parte da United Airlines e da American Airlines, sujeito a determinadas condições. Esse pacote completo de financiamento viabiliza uma saída estruturada e acelerada do processo.
Segundo especialista em investimentos da GTF Capital Artur Horta, a ação da companhia deve cair no pregão desta quarta-feira porque a recuperação judicial deve fazer com que a companhia seja excluída de vários índices, levando à sua exclusão da lista de investimentos de diversos fundos. “Esse deve gerar uma pressão vendedora no mercado hoje, pois boa parte dos fundos passivos e ativos não podem investir em empresas que estão em recuperação judicial”, diz Horta.
A Azul (AZUL4) entra com o pedido de recuperação judicial após após quatro anos seguidos de prejuízos bilionários. Em 2020, a companhia reportou prejuízo líquido de R$ 10,17 bilhões. Em 2021 o prejuízo foi de R$ 4,7 bilhões. No ano seguinte, R$ 1,37 bilhão. Em 2023 o número foi negativo em R$ 700,3 milhões. No ano passado, a empresa teve prejuízo de R$ 8,23 bilhões.
Bradesco BBI e Ágora rebaixaram recomendação para a ação da Azul por recuperação judicial
A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI mudaram a recomendação para as ações AZUL4 de compra para neutra, temendo que a empresa entrasse em recuperação judicial – o que acabou ocorrendo hoje. Os analistas lembram que a oferta de ações da Azul para transformar US$ 275 milhões (R$ 1,6 bilhão) de notas com vencimento em 2029 e 2030 em ações praticamente não teve subscrição ou participação externa, impedindo a Azul de transformar outros US$ 100 milhões em notas.
“Para completar, os resultados da Azul no 1T25 foram mais fracos do que o esperado, com o Lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda) 2% abaixo do ano anterior, impactado pela desvalorização de 18% do real e por desafios operacionais”, dizem André Ferreira do Bradesco BBI e Wellington Lourenço da Ágora Investimentos, que assinam o relatório em conjunto divulgado para os clientes na segunda-feira (26).
A dupla explica que isso resultou em uma queima de caixa de R$ 313 milhões nas operações e levou a AZUL4 a encerrar o período com uma posição de caixa de R$ 655 milhões (49% menor em relação ao trimestre anterior). Na visão deles, o fluxo de caixa até o final do ano é restrito — o que conferiria liquidez à Azul seria se o governo disponibilizasse R$ 2 bilhões para serem usados como garantia para novas dívidas. Segundo os especialistas, isso poderia acontecer no primeiro semestre de 2025, mas tem sido repetidamente adiado nos últimos meses.
“Agora, temos recomendação neutra para a ação da Azul (AZUL4), com um novo preço-alvo de R$ 1,30, que pressupõe a conversão de outros R$ 3 bilhões em dívida a preços de mercado atuais, resultando em diluição significativa aos minoritários”, explicam Ferreira e Lourenço. O novo preço-alvo equivale a uma potencial alta de 21,49% na comparação com o fechamento de terça-feira (27), quando a ação encerrou o pregão a R$ 1,07.