O que este conteúdo fez por você?
- As ações do Banco do Brasil caem 16,5% de setembro até o fim de 2024. No acumulado do ano passado, a queda é de 6,5%
- Mercado teme resultados piores que o esperado, puxado pela inadimplência do agronegócio
- Analistas dizem que a ação é atrativa para dividendos, mas o investidor deve estar ciente dos riscos
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) recuaram 6,53% em 2024. O papel do bancão foi de R$ 25,86 no fechamento de 28 de dezembro de 2023 para R$ 24,17 no encerramento do pregão de 30 de dezembro de 2024. A queda aconteceu em um ciclo de pessimismo do mercado com os ativos de riscos, com baixa de 10,36% do Ibovespa no mesmo período. Além disso, o temor do mercado de uma piora do agronegócio trouxe volatilidade para a ação: o papel entrou em queda livre após bater a máxima do ano em 9 de setembro de 2024, quando chegou ao preço de R$ 28,94. Desde então, a ação caiu 16,5% até o dia 30 de dezembro.
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Para analistas do mercado financeiro, o ano que começou há poucos dias pode ser um pouco diferente e o investidor deve aproveitar essa queda recente de mais de 16% e comprar o ativo. Na visão dos especialistas da Genial Investimentos, os investidores mostraram grande preocupação com a empresa do setor financeiro devido à deterioração do agronegócio reportada no balanço do terceiro trimestre de 2024.
“O problema da inadimplência está relacionado principalmente com o cenário dificultoso de liquidez dos grandes produtores de soja do Centro-Oeste brasileiro. Do 0,65 ponto porcentual de aumento da inadimplência na relação entre o terceiro trimestre de 2024 e o segundo trimestre de 2024, cerca de 80% estava relacionado com essa dinâmica. Isso ocorre principalmente em relação aos créditos tomados em setembro de 2023, que deveriam ter sido pagos entre abril e maio de 2024”, dizem Eduardo Nishio e sua equipe, que assinam o relatório da Genial.
Quando a inadimplência deve melhorar no Banco do Brasil?
A deterioração mais latente da inadimplência, lembram os analistas, já ocorreu no terceiro trimestre de 2024, apesar de alguns vencimentos de crédito de custeio sejam contabilizados no quarto trimestre de 2024 e promovam uma elevação residual no índice. Para o primeiro semestre de 2025, a equipe da Genial observa que a perspectiva é de que a inadimplência apresente um comportamento mais estável, enquanto o banco intensifica as renegociações com os produtores que ainda não quitaram seus compromissos.
“No segundo trimestre de 2025, com o desembolso das novas safras, a dinâmica deve melhorar, pois os produtores em atraso precisarão quitar suas dívidas para acessar novos créditos. Essa prática tende a contribuir para a queda no índice de inadimplência”, argumenta Nishio e sua equipe.
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Ou seja, o grande temor do mercado, que provocou a forte queda no ativo, tende a se concentrar no passado. Isso faz com que as perspectivas para a ação do Banco do Brasil em 2025 sejam positivas. A equipe do BTG Pactual tem uma visão similar, mas estima que o indicador de inadimplência do Banco do Brasil deve permanecer elevado no primeiro semestre de 2025. O time concorda que o alívio deve acontecer ao longo do segundo semestre deste ano, justamente quando os agricultores precisam pedir novos empréstimos, sendo obrigados a regularizar pendências.
“Embora os próximos trimestres apontem melhora, a rentabilidade, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês), deve seguir sob pressão. No entanto, uma taxa Selic mais alta deve auxiliar a margem financeira a crescer perto de 10% ao ano, em linha com o crescimento do empréstimo, o que deve garantir expansão do lucro líquido em 2025”, dizem Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, que assinam o relatório do BTG.
Quanto o Banco do Brasil vai lucrar e pagar em dividendos em 2025?
Os especialistas do BTG estimam que o lucro do Banco do Brasil deve ser R$ 37,6 bilhões no acumulado de 2025, alta de 1,26% em relação ao estimado para 2024. Os analistas projetam também que a rentabilidade do Banco do Brasil, medida pelo ROE, deve cair 1,7 ponto porcentual, de 20,9% no estimado para 2024 para 19,2% no estimado em 2025.
Genial e BTG concordam que o Banco do Brasil apresentará um lucro estável em 2025, com a pressão da inadimplência do agronegócio sendo compensada por uma Selic mais alta. O mais recente boletim Focus mostra que o mercado precifica a Selic a 14,75% no fim de 2025, uma possível alta de 2,5 pontos porcentuais em relação aos atuais 12,25%.
Em meio a esses números, a Genial Investimentos diz que o Banco do Brasil deve manter seu pagamento de dividendos em níveis elevados, com o porcentual do lucro a ser pago em proventos (payout) na faixa dos 45%. O BTG estima que os dividendos do Banco do Brasil devem ficar em 11,6% do valor de mercado da empresa ao longo de 2025.
Por isso, BTG e Genial recomendam compra para as ações do Banco do Brasil. O preço-alvo calculado pelo BTG é de R$ 34 para o fim de 2025, uma potencial alta de 42,14% na comparação com o fechamento de quinta-feira (2), quando a ação encerrou o pregão a R$ 23,92. A Genial também tem o mesmo preço-alvo de R$ 34, equivalendo a um avanço de 42,14%.
Cautela com as ações do Banco do Brasil não deve ser esquecida
Ainda que o BTG Pactual e a Genial Investimentos recomendem compra para o BB com o mesmo preço-alvo, nem todos os analistas estão otimistas com a ação. Para a equipe da Ágora Investimentos e Bradesco BBI, a empresa tem apresentado tendências desafiadoras em relação à inadimplência do agronegócio. Eles preferem esperar que a situação fique mais clara nos próximos balanços.
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“Notamos melhoras em relação às despesas operacionais nos últimos balanços, que também levaram à revisão da orientação, enquanto o portfólio do Banco do Brasil continua crescendo próximo ao limite superior da orientação da administração, em 11% em base anual (contra a orientação de 8 a 12%)”, argumenta Francisco Navarrete do Bradesco BBI e Renato Chanes da Ágora Investimentos, que assinam o relatório em conjunto.
Temendo uma piora do agro, os analistas da Ágora Investimentos e Bradesco BBI possuem recomendação neutra para o Banco do Brasil. O preço-alvo é de R$ 32 para o fim de 2025, alta de 33,8% na comparação com o fechamento de quinta-feira. Os especialistas calculam que o dividend yield do Banco do Brasil (rendimento em dividendos) deve ser de 11,5% em 2025.
Em linhas gerais, o investidor, segundo os analistas, deve entender que o Banco do Brasil (BBAS3) não terá um ano brilhante. A companhia terá manutenção do atual patamar de lucro, que será segurado pela Selic elevada, enquanto a inadimplência do agronegócio pode puxar a rentabilidade para baixo. Ainda assim, Genial e BTG enxergam potencial na ação devido aos dividendos de dois dígitos, enquanto a Ágora Investimentos e Bradesco BBI estimam que essa piora da inadimplência esteja apenas no começo. A decisão final é de aportar ou não, é do investidor, que deve avaliar se o risco apresentado cabe dentro do seu perfil para obter o provento robusto estimado pelos analistas.