

A Bolsa brasileira está barata demais. Este é um argumento que vem sendo repetido há meses – talvez anos – no mercado financeiro para defender o investimento em ações, que estão com o valuation descontado frente à média histórica há algum tempo e ainda patinam na falta de gatilhos para voltar a subir. Mas isso não tem sido suficiente para convencer o investidor estrangeiro a olhar para o Brasil de forma estrutural, diz Felipe Nobre, CEO da Jera Capital.
A Jera é um multi family office independente com mais de R$ 4 bilhões sob gestão e quase 70% da estratégia focada em investimentos offshore. Em contato com grandes gestoras no exterior, a casa não tem encontrado grande otimismo em relação à alocação no Brasil. Mesmo com o valuation barato e apesar da entrada positiva de capital estrangeiro na B3 este ano.
O entendimento é de que o fluxo positivo em R$ 10,5 bilhões visto no primeiro trimestre do ano é mais especulativo e esse volume vai entrar e sair do País em trades curtos, mas não como uma posição estrutural de carteira. Nos 4 primeiros pregões de abril, a saída foi de R$ 3,6 bi; agora, o saldo está perto de R$ 7,3 bi.
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Nobre faz uma analogia: “O Brasil é um apartamento no centro. É barato, mas ninguém quer morar lá.”
O que poderia reverter essa tendência de forma estrutural? A “mudança do prefeito. Se alguém prometer tirar a cracolândia do centro, o preço do imóvel vai subir””, diz ele, uma alusão às eleições presidenciais de 2026 e ao problema fiscal que vem pesando sobre os ativos domésticos.
Especialistas têm chamado de “trade de eleição” o posicionamento mais favorável do mercado frente à possibilidade de que a disputa política do próximo ano traga uma mudança na condução de política econômica do País. Em um cenário de queda da popularidade presidencial, inflação de alimentos, juros altos e desconfiança com o fiscal, o presidente Lula (PT) enfrenta seu pior nível de aprovação em três mandatos; e há quem já esteja montando posições mais favoráveis a ativos de risco pensando que esse pacote levará a não reeleição do petista.
Para Nobre, da Jera, o tema vai ditar a direção do mercado até 2026. Se houver uma percepção de que o problema fiscal pode ser resolvido, os ativos brasileiros como ações e o câmbio tendem a se valorizar. Como há poucos sinais de que o governo esteja comprometido com um ajuste nas contas públicas, investidores têm colocado as esperanças na possibilidade de mudança de governo em 2026 – no fim de março, a própria ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que o Brasil precisará passar por um ajuste fiscal “robusto” principalmente “pós-eleições de 2026”.
“Se o mercado acha que a bolsa vale 300 mil pontos com a direita ou com o Tarcísio, e vale 80 mil pontos com o Lula, vai se encontrar em algum lugar no meio do caminho”, explica o CEO da Jera. O entendimento, que aparece cada vez mais nas análises do mercado, é de que, daqui para a frente, qualquer evento que fortaleça uma candidatura de direita no próximo ano deve fazer preço positivamente nos ativos brasileiros. O contrário também é verdadeiro.
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“O Brasil tem um componente assimétrico muito grande. O câmbio vai depender um pouco do dólar lá fora, mas a bolsa, se acompanhar o CDI em 18 meses, deveria subir 23% até as eleições“, diz Nobre.