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- O BC está preocupado com os desenvolvimentos fiscais no Brasil e no mundo e seus reflexos para a estabilidade financeira, na reunião do Comef
- No Brasil, os testes de estresse mostram que o impacto mais severo viria de um cenário de quebra de confiança no regime fiscal
- O apetite a risco das instituições financeiras brasileiras ao crédito às famílias também foram pontos de atenção destacados
O Banco Central (BC) mostrou preocupação com os desenvolvimentos fiscais no Brasil e no mundo e seus reflexos para a estabilidade financeira na ata da 51ª reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), realizada na semana passada.
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No documento, o Comef listou o tema em seus principais pontos de atenção após destacar a sensibilidade dos mercados globais ao fiscal, com chance de cenários “extremos” de reprecificação de ativos – no Brasil, os testes de estresse mostram que o impacto mais severo viria de um cenário de quebra de confiança no regime fiscal.
Citando que está atento à evolução do cenário local e global e que está preparado para minimizar eventual contaminação desproporcional nos preços de ativos, o BC ressaltou que a alta de gastos públicos e a incerteza sobre a trajetória do endividamento podem elevar os prêmios de risco e as expectativas de inflação. Isso teria reflexos à estabilidade financeira por meio “do aumento da volatilidade dos ativos, da piora da capacidade de pagamento dos agentes e da deterioração da qualidade do fluxo de capitais”.
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Entre os outros pontos de atenção está o apetite a risco das instituições financeiras brasileiras no crédito às famílias, que segue elevado. “O ritmo de crescimento em modalidades mais arriscadas, como cartão de crédito e crédito não consignado, segue alto, o que requer mais atenção em um ambiente de piora do comprometimento de renda e do endividamento das famílias”, disse o BC, reforçando que algumas instituições já adotam critérios de concessão mais restritivos.
“O Comef avalia que é importante os intermediários financeiros continuarem preservando a qualidade das concessões, levando em conta, notadamente, a exposição total dos seus clientes junto ao Sistema Financeiro Nacional (SFN)”, completou.
Outro fator citado como ponto de atenção foi a condição financeira global mais restritiva. “O Comef avalia que a exposição do SFN ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência de funding (financiamento) externo é pequena.”
Incertezas
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Segundo o comitê, os preços dos ativos e o crescimento do crédito não representam preocupação no médio prazo, mas que é preciso acompanhar as incertezas. O BC afirmou que o crescimento em modalidades com maiores retornos e, consequentemente, com maiores riscos indica aumento da inadimplência, ainda que dentro dos padrões históricos. No caso da iniciativa privada, os ativos problemáticos estão nas empresas de menor porte. “Assim, uma frustração substancial do desempenho da atividade econômica pode resultar em elevação do risco de crédito.”
O Comef ainda disse que está atento à contribuição do mercado de capitais no crescimento do crédito amplo e às suas potenciais consequências para a acumulação de riscos. “O Comef segue recomendando que as instituições financeiras mantenham a prudência na política de gestão de crédito e de capital.”
Segundo o Comef, a política macroprudencial – abordagem da regulamentação que busca mitigar os riscos ao sistema financeiro como um todo – neutra segue adequada ao atual momento, caracterizado pela ausência de acúmulo significativo de riscos financeiros. “Considerando as expectativas do Comef sobre o crescimento do crédito, não há necessidade de ajustes na política macroprudencial no curto prazo.”
Na semana passada, o Comef manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0%. O ACCPBrasil é uma parcela do capital a ser acumulada na expansão do ciclo de crédito e consumida em sua contração. O instrumento trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos. A próxima reunião ordinária do comitê ocorre no dia 1º de março de 2023.
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A recomendação do comitê internacional de Basileia é que o regulador comece a considerar ativar o ACCP quando o chamado hiato do crédito estiver acima de 2% em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – ou seja, mostrar um aumento do crédito mais desordenado e mais descorrelacionado da atividade econômica.
Atualmente, esse indicador está perto de 1,5% e a autoridade monetária estima que deve chegar a 2% em 2024, mas, mesmo assim, o acionamento não é automático e depende de uma análise mais ampla.