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- Segundo levantamento, o lucro líquido de 402 companhias de capital aberto listadas na B3 recuou 11,1% no 3º tri
- O resultado foi afetado, em parte, pelo ciclo de aumento da taxa Selic, que saiu de 2%, em março de 2021, para 13,75% em agosto de 2022
- Para o diretor técnico do Ibracon, Rogerio Mota, a magnitude do impacto depende do perfil de dívida de cada empresa
A receita de 402 companhias de capital aberto listadas na B3 no terceiro trimestre cresceu 15,7% em relação a igual período de 2021, para R$ 1,1 trilhão, ao passo que o lucro líquido recuou 11,1% na mesma base de comparação, para R$ 78,2 bilhões, segundo levantamento da Grant Thornton e da Fipecafi Projetos, realizado a pedido do Broadcast. O descompasso se deve principalmente aos juros elevados, que aumentaram as despesas financeiras das empresas no período. Para especialistas, a tendência é de resultado similar no quarto trimestre.
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A amostra exclui Petrobras (PETR3, PETR4) e Vale (VALE3), cujos resultados podem distorcer o levantamento. Se consideradas as duas empresas, a receita somou R$ 1,2 trilhão no terceiro trimestre, enquanto o lucro totalizou R$ 147,6 bilhões.
De acordo com o superintendente da área de projetos da Fipecafi e consultor na área de investimentos, otimização e hedge (proteção) de operações financeiras, Gabriel Emir Moreira e Silva, o aumento da receita é explicado, em parte, pelo efeito da inflação, com as empresas conseguindo repassar preços. Em sua avaliação, num contexto de guerra na Ucrânia, o Brasil também foi beneficiado pelo aumento dos preços das commodities.
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“Muitas empresas foram positivamente impactadas pela circunstância global. O Brasil, como exportador de commodities, teve elevação das receitas, alinhada ao aquecimento da demanda interna”, diz Silva.
Para o analista da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, a receita das companhias no terceiro trimestre avançou em linha com o crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB). “O grande destaque positivo no período foi o setor de papel e celulose, que registrou bons volumes e, com o real depreciado, acabou sendo beneficiado pelo aumento do preço da celulose no mercado”, diz.
Silva afirma que o setor de utilidade pública sofreu impacto na receita em relação ao mesmo período de 2021. “Empresas de setores regulados como saneamento e energia, que não podem aumentar a tarifa livremente, tiveram impactos. Essas companhias também fazem uso intensivo de materiais que registraram aumento expressivo de preços”, diz.
Outro destaque negativo ficou para o e-commerce, segundo Siqueira. “De maneira geral, os resultados do setor foram ruins, com vendas crescendo pouco e as margens caindo”, diz. A receita líquida do Magazine Luiza, por exemplo, cresceu apenas 2% no terceiro trimestre, para R$ 14 bilhões. Já a Via reportou queda de 4,6% do indicador no período, para R$ 7 bilhões. “As empresas também estão mais endividadas”, afirma.
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Conforme o levantamento da Grant Thornton/Fipecafi Projetos, a dívida financeira das empresas (excluindo passivos de leasing) aumentou 6,17% no terceiro trimestre, para R$ 4,5 trilhões – R$ 4,7 trilhões com Petrobras e Vale.
O resultado no período foi afetado, em parte, pelo ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic), que saiu de 2% ao ano, em março de 2021, para 13,75% em agosto de 2022. Para o diretor técnico do Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon), Rogerio Mota, a magnitude do impacto depende do perfil de dívida de cada empresa.
“O que sabemos é que parte importante dos empréstimos contratados por empresas no País utiliza taxas de juros pós-fixadas, predominantemente o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Considerando o ciclo de alta da Selic iniciado no ano passado, é esperado que esse aumento tenha se refletido no resultado das empresas”, diz Mota.
A gigante de infraestrutura CCR (CCRO3) reportou no terceiro trimestre aumento de 19,7% do endividamento na comparação anual. Segundo a companhia, o CDI anual médio saiu de 4,8%, no terceiro trimestre de 2021, para 13,5% de julho a setembro deste ano. “Já estamos sentindo o efeito da alta (da Selic) na linha de juros e empréstimos”, afirmou a superintendente de Relações com Investidores (RI) da CCR, Flávia Godoy, em entrevista ao Broadcast após a divulgação do balanço da companhia. O grupo atua em um setor intensivo em capital, com necessidade de investimentos vultosos para manter as operações e continuar crescendo.
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Mota diz ainda que grandes grupos econômicos que captam empréstimos em moeda estrangeira também devem começar a sentir impactos em suas demonstrações financeiras por conta do aumento das taxas de juros iniciado por autoridades monetárias ao redor do mundo, em especial o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Na última linha dos balanços do terceiro trimestre (excluindo Petrobras e Vale), o setor que apresentou maior crescimento foi o de bens industriais, com avanço de 157,1% do lucro líquido, para R$ 3 bilhões. O setor apresentou expansão de forma espraiada, mas um dos principais destaques ficou com a WEG (WEGE3), que registrou alta de 42,5% do indicador frente ao mesmo período de 2021, para R$ 1,15 bilhão.
Por outro lado, o setor que teve o pior desempenho do indicador foi o de petróleo, gás e biocombustíveis, com prejuízo acumulado de R$ 356 milhões. A Raízen (RAIZ4), por exemplo, registrou lucro de R$ 1,1 milhão no segundo trimestre do exercício 2022/2023 (o equivalente ao terceiro trimestre do ano), com queda de 99,9% em relação ao apurado no mesmo período de 2021. “A maioria dos setores perdeu na última linha do balanço, com a dívida mais alta em decorrência do aumento da taxa de juros”, diz Silva.
4º trimestre
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Na visão de Siqueira, da Guide, o quarto trimestre vai ser muito parecido com o terceiro. “De maneira geral, a receita (das empresas) deve continuar crescendo. O preço das commodities vai ser um fator positivo, mas os juros não vão mudar”, diz ele.
Para Silva, a tendência é que o setor de bancos encerre o ano positivamente. Para os outros, haverá pressão do aumento de custo do serviço da dívida e também da inflação, tanto de materiais quanto de mão de obra. “A taxa de juros é um entrave nesse cenário”, afirma.