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Baixa alocação de fundos multimercado explica a recente alta da Bolsa?

Guide Investimentos vê relação entre o apetite dos fundos com a alta em agosto, mas parte do mercado discorda

Baixa alocação de fundos multimercado explica a recente alta da Bolsa?
Foto: Renato Cerqueira/Futura Press
  • A alocação estimada dos fundos multimercados gira entorno de 5%, abaixo da média dos últimos anos
  • Anbima: fundos multimercados e de ações acumularam até agosto saldo negativo de R$ 73,8 bilhões
  • Analistas, porém, acreditam que forte alta da Bolsa se deve à entrada de investidores estrangeiros

O Ibovespa registrou seis altas nos últimos oito pregões de setembro. Em agosto, o indicador apresentou valorização de 6,16%, a maior desde janeiro, quando subiu 6,98%. Esse quadro de alta pode ter sofrido influência de uma mudança de posição dos fundos multimercados – eles saíram de operação vendida (aposta em queda) para posição comprada (aposta em valorização) na Bolsa brasileira, segundo relatório da Guide Investimentos.

De acordo com a corretora, a alocação estimada de recursos dos fundos multimercados em ações saiu de -2% no menor patamar de maio para cerca de 5%. Isso indica que esses fundos passaram do estágio de vender ações apostando na desvalorização dos ativos para comprar papéis diante de uma tendência de valorização.

Os fundos multimercados reúnem vários fatores de risco e podem investir em diferentes classes de ativos, como renda fixa e ações, e, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), podem “utilizar derivativos tanto para alavancagem quanto para proteção da carteira”.

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O porcentual de alocação de 5%, embora ainda abaixo da média dos últimos cinco anos (12%) e dos últimos três anos (13%), mostra há espaço para acomodar o apetite dos fundos multimercado por ações na Bolsa. Em agosto, a demanda já se refletiu na alta do Ibovespa, conforme a Guide.

Segundo a Guide Investimentos, a alocação estimada dos fundos multimercados foi calculada a partir da correlação do retorns do Índice de Hedge Funds (IHFA) da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que acompanha a evolução setor, com os resultados do mercado brasileiro de ações.

O relatório afirma que o fim do ciclo de aumento de juros, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o lucro das empresas acima do esperado devem contribuir para a boa performance da B3. “O maior risco segue sendo a política monetária nos Estados Unidos, além da desaceleração econômica por lá. Mas mesmo no cenário internacional há alguns pontos positivos recentemente, como a redução dos juros na China”, consta no relatório da corretora.

Investidores estrangeiros

Nem todo o mercado concorda com a conclusão da análise da Guide. Para o economista e sócio da BRA, João Beck, o que explica a forte alta da Bolsa em agosto é a entrada de investidores estrangeiros na B3.  Segundo o economista,  o mês registrou o terceiro superávit consecutivo estrangeiro, com a entrada líquida de R$ 16,393 bilhões do exterior no mercado de ações brasileiro.

Ele afirma que os fundos multimercado apostaram em outros investimentos que anteviram a trajetória crescente dos juros dos EUA e, assim, conseguiram maiores ganhos. Enquanto os fundos subiram, a Bolsa brasileira caiu – por isso, a relação de dependência de ganhos dos fundos multimercados com a B3 diminuiu. Mas, segundo João Beck, isso “não significa que eles (gestores) diminuíram a carteira de ações” e podem, até, terem aumentado a exposição em ações.

Dados da Anbima mostram que os fundos multimercados e de ações acumularam até agosto deste ano saldo negativo de R$ 73,8 bilhões e de R$ 54,7 bilhões, respectivamente. Isso indica que houve mais resgates do que aportes. Já os de renda fixa captaram R$ 103,7 bilhões nos oito primeiros meses de 2022.

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Segundo Eliz Sapucaia, da equipe de análise da Terra Investimentos, o cenário de aversão a risco e alta de juros torna os fundos de renda fixa mais atrativos do que os demais. A situação de menor captação dos fundos multimercados e dos  fundos de ações pode impactar negativamente no volume de negociação na Bolsa.

“Entretanto, é preciso sinalizar que o investidor estrangeiro exerce grande influência sobre o volume. Os dados demonstram que ainda não é possível afirmar que existe um movimento de reversão dos investidores, ou seja, que eles estão saindo da renda fixa e entrando no mercado de renda variável“, pondera Sapucaia.

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