

Os mercados globais têm um novo dia de pânico nesta segunda-feira (7), com temores de que a guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, leve a economia global a uma recessão. As Bolsas de Nova York, assim como o Ibovespa e os mercados na Ásia e Europa, iniciaram o pregão com quedas expressivas – no Japão, até o circuit breaker foi acionado. Mas o jogo virou.
Por volta de 11h20 (de Brasília), os índices deram um salto e reverteram as perdas. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq subiam 0,6%, 1,7% e 2,5%, respectivamente. No mesmo horário, o Ibovespa tinha alta de 0,91%, aos 128.410,57 pontos; mais cedo, na mínima, o índice de ações brasileiro chegou a ser negociado abaixo de 124 mil pontos. O dólar também reduziu o ritmo. Depois de subir mais de 1% no início da manhã, a alta era de apenas 0,19%, a R$ 5,849.
Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos, destaca que o pregão está sendo marcado pela volatilidade. O repique positivo aconteceu na esteira de notícias de que Trump estaria avaliando suspender por 90 dias as tarifas aplicadas a todos os países, exceto pela China. As falas foram atribuídas a Kevin Hassett, do Conselho Econômico Nacional dos EUA.
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Como a Casa Branca negou a informação, rapidamente as Bolsas de NY voltaram a cair, mas se mantêm em patamares mais elevados do que os registrados logo após a abertura. Às 12h45, o S&P 500 caía 0,73%, enquanto o Dow Jones e o Nasdaq tinham baixas de 1,25% e 0,45%, respectivamente. No mesmo horário, o Ibovespa também tinha virado para queda, com baixa de 1,66%, aos 125.143,90 pontos.
O dólar à vista também voltou a subir, na máxima de 1,63% de alta contra o real, com avanço a R$ 5,9304, no mesmo horário. Na sexta-feira (4), o câmbio já tinha dado um salto de 3,6% ante o real, a maior alta diária desde novembro de 2022. Além dos temores de recessão, a queda das commodities no exterior também joga contra moedas emergentes, como o real.
Havia certa expectativa de que, dado as quedas no mercado americano, o republicano recuasse do tarifaço no fim de semana – as ações americanas perderam US$ 5,4 trilhões em valor de mercado na última semana; desde a posse do republicano, em 20 de janeiro, as quedas já ultrapassam US$ 10 trilhões. Mas isso não aconteceu. “Não quebrei o mercado de propósito. Não quero que nada caia, mas, às vezes, é preciso tomar remédios para consertar alguma coisa”, disse Trump a repórteres no domingo (6).
Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, destaca que a deterioração da confiança e os riscos de estagflação, um cenário que combina inflação alta com baixo crescimento econômico, passaram a entrar no radar dos analistas. “Enquanto os protestos contra o governo norte-americano crescem, Trump segue prometendo uma ‘vitória histórica’, mesmo diante do desgaste econômico que a escalada tarifária pode impor ao próprio país”, diz.
Mercado americano cai em bloco e “termômetro do medo” dispara
As Bolsas de NY dão continuidade ao “modo pânico” do mercado global. Com o desempenho, os índices de NY entraram tecnicamente em “bear market”. O “mercado do urso”, em tradução livre, é um termo utilizado no mercado para se referir a janelas em que um índice de ações sofre queda de 20% ou mais em relação ao seu pico recente. Com a queda da manhã, o Nasdaq acumula uma desvalorização de cerca de 20% em 2025; o SP&500 está quase lá, com queda de 15% no ano.
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O índice VIX, que mede a volatilidade do mercado e é conhecido como “termômetro do medo” em Wall Street, avançava 9,98%, a 49,83 pontos. Mais cedo, o indicador chegou a superar os 60 pontos, renovando seu maior nível desde agosto de 2024. Segundo o Wall Street Journal, o VIX encerrou pregões acima de 50 pontos só em duas ocasiões na história: na crise financeira de 2008 e no início da pandemia de covid-19, em 2020.
As ações das “Sete Magníficas” – nome dado ao grupo formado pelas maiores empresas de tecnologia do mundo – também voltaram a sofrer, ampliando a derrocada iniciada na semana passada. Os papéis da Tesla (TSLA) recuavam 3,68% por volta das 11h (horário de Brasília), enquanto Alphabet (GOOGL), Apple (AAPL) e Nvidia (NVDA) caem 0,85%, 4,09% e 0,13%, respectivamente. Já Meta (META) e Microsoft (MSFT) caem 1,54% e 2,31%, respectivamente. A Amazon (AMZN) registrava leve alta de 0,22%.
Circuit breaker nas bolsas asiáticas
As bolsas asiáticas desabaram nesta segunda-feira (7), com a de Hong Kong sofrendo a maior queda em um único pregão desde 1997, em meio a temores de que a guerra comercial deflagrada pelo tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, desencadeie uma recessão global.
Liderando as perdas na Ásia, o índice Hang Seng despencou 13,22% em Hong Kong, a 19.828,30 pontos, no maior tombo diário desde a crise financeira asiática de 1997, enquanto o Taiex caiu 9,70% em Taiwan, a 19.232,35 pontos. Na China continental, o Xangai Composto fechou em baixa de 7,34% hoje, a 3.096,58 pontos, amargando a maior queda em um único pregão desde fevereiro de 2020, enquanto o menos abrangente Shenzhen Composto recuou 10,79%, a 1.777,37 pontos.
Na sexta-feira (04), quando os mercados da China, de Hong Kong e de Taiwan não operaram devido a um feriado, Pequim anunciou tarifas de 34% a importações dos EUA, respondendo na mesma proporção ao tarifaço revelado pelo governo Trump dois dias antes.
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O governo chinês está preparando “esforços extraordinários” para compensar os efeitos das tarifas de Washington, e o PBoC – banco central do país – poderá cortar taxas de juros a qualquer momento, se necessário, segundo o Diário do Povo, principal jornal do Partido Comunista da China.
O Ministério do Comércio chinês, por sua vez, disse que conduziu uma reunião com executivos de empresas dos EUA, incluindo Tesla, GE Healthcare e Medtronic, neste domingo (06), e que seguirá dando apoio para companhias estrangeiras, mesmo as americanas.
Em outras partes da Ásia, as perdas nesta segunda-feira (7) foram igualmente drásticas. O japonês Nikkei recuou 7,83% em Tóquio, a 31.136,58 pontos, acionando um circuit breaker; e o sul-coreano Kospi teve queda de 5,57% em Seul, a 2.328,20 pontos, com ambos os índices atingindo os menores níveis desde outubro de 2023. Na Oceania, a bolsa australiana teve seu pior dia desde março de 2020, com queda de 4,23% do S&P/ASX 200 em Sydney, a 7.343,00 pontos.
Bolsas da Europa operam no ‘modo pânico’
O temor do mercado também afeta as Bolsas na Europa. Por volta das 10h30 (de Brasília), o índice pan-europeu Stoxx 600 recuava 4,67%, a 473,16 pontos. Na semana passada, o índice sofreu perdas de 8,4%, a maior queda semanal em cinco anos. Na última década, o Stoxx 600 só apresentou desempenho pior no começo da pandemia de covid-19 em 2020.
No mesmo horário, a Bolsa de Londres (FTSE 100) caía 4,63%, a de Paris (CAC 40) recuava 4,31% e a de Frankfurt (DAX 30) cedia 4,36%, após sofrer um tombo de mais de 10% na abertura do pregão. Já as de Milão (FTSE MIB), Madri (IBEX 35) e Lisboa (PSI) amargavam perdas de 6,18%, 5,26% e 5,30%, respectivamente.
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Diante do foco na guerra comercial, os dados econômicos europeus positivos ficaram em segundo plano. Na zona do euro, as vendas no varejo subiram bem menos do que o esperado em fevereiro. Apenas na Alemanha, a produção industrial caiu mais do que o previsto no mesmo período.
*Com informações do Broadcast