- O Bradesco reportou lucro líquido de R$ 5,2 bilhões no terceiro trimestre, alta de 13,1%
- Mesmo com alta, analistas se dividem se resultado foi positivo ou negativo
- Bradesco tem redução de 5% no pagamento de dividendos no acumulado de 2024 até setembro; veja o que esperar do quarto trimestre
O Bradesco (BBDC4) divulgou seu resultado do terceiro trimestre de 2024 com um lucro líquido de R$ 5,2 bilhões, alta de 13,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. Para o CEO da companhia, Marcelo Noronha, o resultado foi amplamente positivo e reforçou a recuperação “step by step” da empresa. Já analistas do mercado financeiro disseram que os números estão abaixo das expectativas e que a recuperação da empresa pode ser mais demorada que o esperado.
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Segundo os analistas da XP Investimentos, o lucro do Bradesco no terceiro trimestre de 2024 ficou 2% abaixo das expectativas da corretora. Os especialistas observam que o resultado apresentou um crescimento significativo sequencialmente. No entanto, eles afirmam que veem uma contribuição significativa proveniente de um nível mais baixo de provisões e uma baixa taxa de imposto efetiva.
Para os analistas do Banco Safra, os resultados do terceiro trimestre de 2024 do Bradesco foram neutros: evidenciaram uma abordagem mais equilibrada para aumentar a lucratividade em vez de mudar seu apetite por risco. Em linhas gerais, dizem eles, o banco priorizou clientes de alta renda. Para os especialistas, isso reflete um compromisso em entregar resultados mais consistentes, especialmente em meio a um ambiente macroeconômico incerto e com novas pressões regulatórias em 2025.
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Durante a coletiva com os jornalistas, o CEO, Marcelo Noronha, afirmou que está fazendo poucos empréstimos com grandes margens e baixas garantias. Segundo o executivo, a carteira de crédito do banco em pessoas físicas e pequenas e médias empresas é focada nos empréstimos com garantias e retornos interessantes.
O Bradesco no 3º tri reportou uma margem financeira total de R$ 15,9 bilhões no terceiro trimestre de 2024, alta de 0,9% na comparação com o terceiro trimestre de 2023. No acumulado do ano, a empresa está com uma margem financeira total de R$ 46,7 bilhões, queda de 4,8% na comparação com os 9 primeiros meses de 2023. Ou seja, o número está fora do projetado pela empresa, sendo uma alta de 3% a 7% da margem financeira total em 2024.
“Os empréstimos com grandes margens são poucos, por isso nossa margem financeira total não explode. Não faz sentido focar em ter uma margem financeira total elevada e ter grandes provisões e ficar com uma margem financeira líquida baixa. Nossa margem financeira líquida está positiva e está crescendo”, aponta o CEO, que manteve a projeção do ano mesmo com a margem financeira total abaixo do esperado.
Para a equipe do BTG Pactual, o ambiente para o crescimento do crédito está se tornando mais desafiador, dado o boom nos mercados de renda fixa e o estreitamento dos spreads (ganho com juros) em empréstimos corporativos e de folha de pagamento. “Como o Bradesco precisa aumentar seus empréstimos mais rápido do que os pares para recuperar o principal e diluir custos, o cenário parece mais desafiador”, apontam Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, que assinam o relatório do BTG.
Outro fator que chamou a atenção foram as despesas operacionais do Bradesco, que subiram 12,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 15 bilhões no terceiro trimestre de 2024. Segundo o CEO, a alta aconteceu ao aumento da participação da Cielo. Noronha também destacou que a alta das despesas foi impulsionada pelas despesas com pessoal: mesmo com a redução de cargos de diretoria e de outras áreas, os novos contratados em Tecnologia da Informação (TI) pressionam a linha dos salários. “De fato, a gente tem uma redução no corpo profissional, mas estamos trazendo gente com mais senioridade em tecnologia. Esse grupo ganha 4 vezes ou 5 vezes mais que outros setores”, aponta.
Bradesco está pagando menos dividendos?
No acumulado do ano, entre janeiro e setembro de 2024, a companhia reportou um lucro líquido de R$ 14,1 bilhões, alta de 5,5% em relação ao lucro acumulado de janeiro e setembro de 2023. No entanto, mesmo com alta do lucro no acumulado do ano, o banco teve uma redução no pagamento de dividendos.
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Segundo o balanço do terceiro trimestre de 2024 do banco, os acionistas receberam R$ 8,17 bilhões em dividendos do Bradesco entre janeiro e setembro de 2024. Já o balanço do mesmo período de 2023 revela que os investidores receberam R$ 8,6 bilhões em proventos do Bradesco. A diferença equivale a uma queda de 5,23% nos dividendos pagos pela empresa entre janeiro e setembro de 2024 na comparação com o acumulado de janeiro a setembro de 2023.
O E-Investidor questionou a gestão do CEO Marcelo Noronha dos motivos dessa redução do valor dos dividendos na comparação entre os 9 meses de 2024 com o mesmo período de 2023. Segundo Oswaldo Tadeu Fernandes, diretor-executivo, não há nenhuma estratégia de redução de dividendos do banco. De acordo com o executivo, o Bradesco provisionou os juros sobre o capital próprio do período.
“Esperamos para o ano de 2024 um pagamento maior de dividendos que em 2023. Essa diferença vista no acumulado do ano até aqui será equalizada no pagamento de dividendo do quarto trimestre de 2024”, afirmou Fernandes em resposta ao questionamento do E-Investidor. Em 2023, o Bradesco pagou um total de R$ 11,31 bilhões em dividendos no acumulado dos quatro trimestres. Para chegar nesse patamar em 2024, a empresa teria que pagar cerca de R$ 3,14 bilhões em dividendos referentes ao resultado do quarto trimestre de 2024.
Para os analistas ouvidos pelo E-Investidor, a empresa está no caminho certo para pagar esses proventos. Na visão de Milton Rabelo, analista da VG Research, parece plenamente possível que o banco aumente o pagamento de proventos no quarto trimestre de 2024. “Além disso, o aumento do lucro em 2024, em comparação a 2023, deve contribuir para o aumento dos proventos pagos na comparação anual”, comentam.
Em sua estimativa para o dividend yield do Bradesco, ele acredita que o ideal seria esperar as próximas sinalizações do banco a respeito dos dividendos no quarto trimestre de 2024 e também o guidance proposto para 2025. “No momento, projetamos um dividend yield de 8% para os próximos 12 meses do Bradesco”, estima Rabelo.
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Matheus Nascimento, analista da Levante inside corp, entende que o Bradesco deve pagar entre 6,5% e 6,8% em dividendos nos próximos 12 meses. “Desse modo, acreditamos que a administração deve conseguir equalizar e suprir a queda dos dividendos no terceiro trimestre de 2024”, aponta Nascimento.
Vale a pena comprar a ação do Bradesco?
Os analistas do BTG Pactual estimam um dividend yield de 7,1% para 2024, 7,3% para 2025 e 7,8% para 2026. Mesmo com essas estimativas de proventos, os analistas do BTG têm recomendação neutra para a ação BBDC4 com preço-alvo de R$ 16, uma potencial alta de 6,5% na comparação com o fechamento de quarta-feira (30), quando a ação encerrou o pregão a R$ 15,03.
Os analistas elogiam o trabalho de Marcelo Noronha, mas ressaltaram que “mudar o curso de um navio transatlântico” é uma tarefa difícil. No longo prazo, eles reforçam que o que mais importa para o Bradesco é permanecer no curso e seguir em frente. “Para aqueles que esperam uma rápida recuperação da rentabilidade, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), acreditamos que o terceiro trimestre de 2024 e a dinâmica recente do mercado podem trazer alguma decepção”, apontam Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura.
Já o Safra diz que as ações do Bradesco estão atrativas: analistas recomendam compra com preço-alvo de R$ 18, representando uma potencial de valorização de 20%, com base no fechamento de quarta. O analista da Levante também vê o papel como atraente, negociado a múltiplos atrativos. O especialista tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 16,80, avanço de 10,5% em relação ao fechamento de quarta-feira.
Milton Rabelo, da VG, também recomenda compra com preço-alvo de 18,50, um crescimento de 22,7% na comparação com o fechamento de quarta-feira (30). “Para os próximos trimestres, esperamos a continuidade da recuperação lenta, gradual e segura do Bradesco. O banco, na nossa compreensão, tem boas perspectivas de crescimento, apesar da deterioração das condições macroeconômicas brasileiras. Entre os pontos negativos, é possível citar a linha de despesas operacionais, que tem crescimento acima da inflação”, explica Rabelo. Ou seja, mesmo com a queda de hoje, a ação está atrativa, mas só para os investidores que tiverem paciência, pois, como diz o BTG, a jornada do Bradesco (BBDC4) ainda é longa.