As eleições presidenciais de 2026 viraram o centro da conjuntura econômica brasileira, mesmo que ainda faltem quase 16 meses até o pleito. A possibilidade de uma mudança na condução de política econômica, com a entrada de uma gestão mais disposta a enfrentar o problema das contas públicas virou a “porta de saída” do imbróglio fiscal que domina os modelos econômicos. Inclusive no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
Livio Ribeiro, Samuel Pessôa, ambos pesquisadores associados da instituição, e Silvia Matos, coordenadora do boletim Macro da FGV Ibre, estiveram no TAG Summit de 2025, evento realizado pela TAG Investimentos nesta terça-feira (6) em São Paulo.
A conjuntura macroeconômica atual do Brasil combina um pacote de inflação longe da meta, juros de dois dígitos, crescimento do PIB, desemprego baixo e gastos parafiscais. A carga tributária do País hoje corresponde a cerca de 34% do PIB – ou seja, há pouco espaço para alavancar a arrecadação via novos impostos, como o governo tentou e não conseguiu emplacar. A dívida pública caminha para corresponder, já nos próximos anos, a 90% do PIB. Estamos “esgotando os limites”, classificou André Leite, CIO da TAG. Nesse contexto, o caminho para solucionar o problema esbarra nas eleições e na possibilidade de alternância de poder.
A avaliação de Samuel Pessôa é de que o Brasil vai chegar lá “capenga”, com o setor privado machucado pelos juros altos, que não devem cair com a dinâmica inflacionária persistente e um governo também enfraquecido. “Nos últimos 20 anos, todo governo que produziu inflação foi penalizado pela democracia”, disse. O caminho para resolver o problema fiscal passa por mudar a dinâmica do gasto público. Isso significa, segundo ele, congelar o salário mínimo, mudar o indexador dos gastos com saúde e educação, fazer mais uma rodada de carga tributária no que for possível e, no caso de um governo de direita, privatizar a Petrobras (PETR4). “Se conseguirmos reverter a dinâmica do gasto, isso já vai gerar uma queda de juros instantânea. Os modelos melhoram, o risco cai, entramos em um círculo virtuoso de entrada de capital. Aconteceu isso no governo Temer e vai acontecer em um governo de direita”, defendeu.
Silvia Matos disse que consegue ser menos pessimista. No fim das contas, a inflação acaba obrigando a arrumação da casa. De uma ponta, funciona como um deflator do PIB para corrigir a dívida pública – na outra, mina a popularidade do governo. “Dificilmente teremos inflação baixa no ano que vem. É uma oportunidade incrível para a oposição pensar em uma agenda social sustentável que realmente possa mudar o País, incluindo a discussão de gastos tributários, super salários e emendas parlamentares”, aponta.
O trade de eleição e o dólar
No mercado financeiro, o otimismo com uma possível troca de condução de política econômica em 2026, em uma não reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também já vem gerando otimismo. É o “trade de eleição”, uma visão mais favorável aos ativos de investimento domésticos caso o próximo ano traga uma gestão disposta a enfrentar o imbróglio fiscal – na Faria Lima, isso tem aparecido nas análises pela figura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Contamos mais disso aqui.
Um dos ativos que mais oscilam de acordo com as percepções e receios do mercado é o dólar. Na reta final de 2024, quando economistas se frustraram com o pacote de medidas apresentado pelo governo para conter o crescimento das despesas, o câmbio foi um dos ativos que mais sofreram. O receio com um cenário de dominância fiscal entrou na pauta e, no auge do estresse – e do exagero –, o dólar chegou a valer R$ 6,26, o maior valor da história do Plano Real. Em 2026, é ele novamente quem deve ilustrar os humores em relação à economia e à disputa eleitoral.
Na FGV Ibre, há dois modelos de câmbio para 2026 muito distintos entre si. A projeção média gira em torno de R$ 5,75, podendo variar muito para cima ou para baixo a depender do cenário que se desenhe em relação a uma reeleição ou derrota de Lula.
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A moeda americana vem em uma trajetória de queda ante o real em 2025, acelerada especialmente após o dia 2 de abril, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou seu prometido pacote de tarifas recíprocas, bagunçou mercados globais e derrubou o dólar ante pares desenvolvidos e emergentes. O dólar Ptax caiu 1,42% em abril, mas, segundo Samuel Pessôa, a queda poderia ter sido maior, não fossem os problemas domésticos do Brasil.
“Ano que vem, o jogo da moeda é eleitoral e são dois cenários muito diferentes. A continuidade de Lula, com economia mais intervencionista e o gasto público fazendo a atividade girar; e ai teremos o evento do mercado produzindo enfraquecimento. Por outro lado, se o processo sinaliza uma nova orientação política que tenha chance de arrumar de forma mais permanente o fiscal, tem espaço grande para melhorar e a moeda se valorizar muito.”