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Especialistas comentam alta da Selic para 2,75%

Elevação de 0,75 ponto percentual veio acima das expectativas de economistas do mercado financeiro

Especialistas comentam alta da Selic para 2,75%
Reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) (Foto: Beto Nociti/BCB)
  • A elevação anunciada nesta quarta-feira (17) já era esperada pelo mercado financeiro, uma vez que o Copom retirou o “forward guidance” (prescrição futura, no jargão inglês) na reunião de 20 de janeiro
  • Em comunicado, o BC afirma que a decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva
  • A mudança acontece em um período delicado para a economia, em que a inflação está subindo, a atividade desacelerando e a pandemia de covid-19 piorando

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 2,75% ao ano, após quatro reuniões sem mudanças. Em agosto de 2020, o comitê realizou o nono corte consecutivo dos juros básicos, levando a taxa para o patamar de 2%, o menor da série histórica iniciada em junho de 1996.

A elevação anunciada nesta quarta-feira (17) já era esperada pelo mercado financeiro, uma vez que o Copom retirou o “forward guidance” (prescrição futura, no jargão inglês) na reunião de 20 de janeiro. Era por meio desse instrumento de gestão da política monetária que o colegiado se comprometia a não elevar os juros.

Em comunicado, o BC afirma que a decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que o usual para a inflação prospectiva. Além disso, a instituição afirma que a elevação é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, principalmente, o de 2022.

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A mudança acontece em um período delicado para a economia, em que a inflação está subindo, a atividade desacelerando e a pandemia de covid-19 piorando. Vale ressaltar que este foi o primeiro teste do BC, após o Congresso aprovar, em fevereiro, a autonomia da instituição, com a justificativa de evitar pressões políticas na condução da política de juros do Brasil.

O aumento de 0,75 ponto percentual veio acima da expectativa de economistas do mercado financeiro, que esperavam alta de 0,50 p.p., conforme o último Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira (15). Para os analistas, a projeção para a Selic no fim de 2021 também aumentou, de 4,00% para 4,50% ao ano. Em 2022 e 2023, a previsão é que a taxa fique em 5,50% e 6,00%, respectivamente.

Já o Projeções Broadcast da última semana mostrou que, de um total de 54 instituições consultadas, 48 esperavam aumento de 0,50 ponto porcentual, três projetavam alta de 0,25 p.p., duas estimavam estabilidade e apenas uma projetava aumento da taxa de 0,75 ponto porcentual. Já para o fim de 2021, a previsão para a Selic vai de 3,00% até 6,00% ao ano, e mediana de 4,50%.

Confira a seguir a opinião de especialistas do mercado sobre a decisão do Copom de elevar a taxa Selic.

Francisco Cataldo, head de research da Ágora Investimentos

“Com as tendências altistas e a rápida elevação das expectativas de inflação para o ano e também para 2022, o Banco Central precisou agir nessa reunião de hoje. Na verdade, o BC do Brasil enfrenta um desafio, uma vez que temos um momento de enfraquecimento da atividade econômica no Brasil e na crise de confiança no País. A expectativa de inflação foi o principal fator para essa decisão, cuja pressão já começa a repercutir, inclusive, para o ano de 2022.

O sentimento do comitê é bastante complicado neste sentido, com a economia enfraquecida, pelo menos agora no primeiro semestre, ter que tomar uma decisão de elevação da taxa de juros. No ambiente global, houve uma mudança e uma redução da necessidade de estímulos extraordinários. O câmbio sofreu forte depreciação aqui no Brasil, com as incertezas fiscais e a expectativa de retomada no futuro, uma vez que a curto prazo ainda temos um cenário complicado com a pandemia, e que tende a ser melhorado ao longo do tempo à medida que o processo de vacinação avance.

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Esse ajuste mais forte do que era esperado pelo mercado pode ajudar a reduzir a trazer a inflação mais para perto da meta em 2021, e manter as expectativa mais bem balizadas para horizontes mais longos.”

Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos

“Com a inflação medida pelo IPCA rodando acima de 5% em doze meses, e a taxa básica em 2% a.a., estávamos praticando um juro real negativo de 3%, o que nos parecia pouco condizente com a trajetória recente dos preços. Como nos próximos meses o resultado acumulado do índice nesse intervalo deve atingir patamares próximos de 7%, bem acima do teto da meta, um movimento de elevação da taxa básica é compreensível e sensato.

Outro ponto importante é que essa decisão, a nosso ver, pode, eventualmente, ajudar a amornar a elevada temperatura política, que, concomitante ao recrudescimento da pandemia e demais ruídos, vêm pressionando a cotação do dólar e os juros futuros. Assim sendo, como o BC não deve ficar refém da curva de juros, que vem empinando nos últimos dias, iniciar um novo ciclo de alta, já, faz todo o sentido.

No comunicado pós-reunião, o colegiado enfatizou que deverá promover um outro ajuste de mesma magnitude (0,75%). Da mesma forma, como vem fazendo nos últimos encontros, salientou a necessidade de retomarmos as reformas e o ajuste fiscal, condição essencial para ancorarmos as expectativas de inflação e não elevarmos as taxas de juros estruturais. De toda sorte, a decisão passa uma mensagem ao mercado de que está vigilante e que não hesitará em agir de forma tempestiva para fazer com que a meta seja observada.”

Hulisses Dias, analista CNPI 2200

“Foi super saudável o BC aumentar o juros em 0,75% porque encontramos um IPCA, que é a inflação oficial do governo medida pelo IBGE, a 5,2% nos últimos 12 meses. Esse aumento já estava sendo esperado pelo mercado quando olhamos para os juros futuros. Então, a expectativa é que essa elevação da Selic diminua a expectativa de inflação para o futuro e vejamos próximos movimentos de aumento de juros até que o governo, através do BC, tenha domado a inflação.

Em relação a investimentos, isso pode de alguma forma travar a alta da bolsa no curto prazo, e vai fazer com que seja mais atraente para o investidor estrangeiro investir na renda fixa do governo brasileiro.”

José Luiz Rossi, economista da Investmind

“Embora a maioria dos economistas esperasse um aumento de 0.5% na taxa de juros, havia uma grande probabilidade na curva de juros para um aumento de 0.75%. Dessa maneira, a decisão não surpreende o mercado. A decisão reflete que o Banco Central está extremamente desconfortável com o aumento das expectativas de inflação que ocorreu nas últimas semanas e não se apresenta tão desconfortável com o a queda da atividade econômica no ano devido a pandemia.

Esse resultado, conjuntamente com a decisão de política monetária nos EUA, pode induzir a uma melhora na atratividade dos ativos domésticos. É importante observar, conforme afirmado pelo Banco Central, que o risco fiscal elevado pode trazer alterações significativas para a evolução da inflação e política monetária.”

Flávio Aragão, sócio da 051 Capital

“O comitê considerou real o risco de uma inflação acima do teto da meta em 2021, e que isso poderia prejudicar a inflação de 2022. Mesmo com o risco para atividade com um possível aumento das restrições por causa da covid, o comitê considerou ideal um aumento de forma mais célere, acreditando que a velocidade será importante para conter os principais fatores inflacionários, e já deixou contratada para próxima reunião um novo aumento de 0,75 ponto percentual.

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A decisão parece acertada, visto que o impacto dos itens dolarizados na inflação tem sido relevante. Além disso, aumentos mais acelerados podem gerar uma valorização do real e tirar pressão dos itens mais impactados pela moeda, e provavelmente o aumento não deve gerar nenhum impacto relevante no mercado de crédito, não prejudicando a demanda, que já se encontra baixa.

Acredito que o dólar será o ativo mais impactado. A tendência é que a moeda americana perca um pouco de valor frente ao real pela perspectiva que a taxa de juros real do Brasil de curto prazo saia do terreno negativo que se encontra hoje, e siga para um retorno real positivo no curto/médio prazo.”

João Beck, economista e sócio da BRA

“É interessante notar que o BC opta por um arrocho maior do que o esperado pela maioria dos investidores, e entende que uma alta maior nesta primeira decisão diminui expectativas de altas futuras seguintes. Decidindo por um caminho de menor consenso, o BC ancora melhor a expectativa e leva uma sinalização forte ao mercado de responsabilidade com a meta.

A decisão do Copom traz importância não só para o aumento da taxa. A mensagem foi claramente a situação fiscal por conta dos estímulos para alívio da pandemia. A taxa já era esperada, mesmo que para uma parcela menor de opiniões, e pouco afeta decisões de investimento daqui pra frente.

Podemos ver algum ajuste no dólar amanhã mas é algo pontual por conta de uma sinalização mais estimulativa do FED (EUA) e do arrocho maior que o esperado por aqui.”

Étore Sanchez, economista-chefe Ativa Investimentos

“Infelizmente, a decisão veio bem acima dos 0,25 p.p. esperados na Ativa Investimentos e brevemente acima da mediana das expectativas do mercado (2,50%).

Com as informações fornecidas pelo Banco Central, mudamos nosso call de final de ano de 3,50% para 4,50%. Além da atual elevação da Selic de hoje, contemplamos mais uma elevação de 75 bps em maio, seguido de outras duas elevações de 50bps.

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Vale pontuar que nossa projeção de IPCA que era de 3,2% para 2022 cairá para 3,0%, bem como a projeção de PIB desse ano que cederá de 2,9% para 2,7% e de 2022 de 2,4% para 2,3%.”

Anderson Meneses – CEO da Alkin Research

“Vimos esse aumento como positivo, até por conta da manutenção da taxa de juros norte-americana hoje, que torna o diferencial atrativo para o investidor estrangeiro, e também alivia um pouco a pressão no dólar e consequentemente na expectativa de inflação.

Outro fato interessante, talvez o que mais impressionou, foi de que já vai ter um novo aumento de 0,75 na próxima reunião. Então devemos ver a Selic 3,5% em maio.

Resta saber como o mercado vai se comportar amanhã. Aparentemente, o racional é de que reaja bem à divulgação, mas pode ser, por outro lado, que os investidores entendam esse 0,75 ponto percentual como algo mais agressivo e que talvez tenham um receio de que haja um problema maior.”

José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos

“As razões pelas quais o Banco Central tomou essa decisão foram inúmeras, mas a mais importante delas é o fato de que a economia brasileira já não justifica mais uma política monetária extraordinariamente estimulativa, como estava acontecendo até o momento.

De qualquer forma, acredito que é uma decisão importante e deve ter um efeito expressivo sobre a curva de juros longos, que deve desinclinar. Possivelmente terá algum efeito sobre a taxa de câmbio. Esses efeitos, em conjunto com a aprovação da PEC Emergencial, melhoram muito o ambiente para a política monetária, nosso balanço de risco pode melhorar também.

O grande problema continua sendo a pandemia, que cria o risco de romper o teto de gastos novamente caso não tenham vacinas.”

Victor Savioli, analista financeiro e co-fundador do Bolsapp

“O ponto central é que o BACEN fez ‘estímulos monetários extraordinários’, deixando as taxas de juros e de crédito bastante relaxadas por conta da pandemia, só que de alguns meses para cá as expectativas para inflação começaram a subir fortemente.

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Além disso, o endividamento brasileiro hoje é do tamanho do PIB do País, um patamar muito elevado em comparação aos demais emergentes. Ter uma Selic em 2%, com inflação a 4%, implica em um juro real negativo. Não faz sentido ter essa destruição de moeda. Acredito que o BACEN foi conservador em não subir a taxa antes, para ver como a economia iria reagir.

Então o recado foi positivo, mostra seriedade e a curva de juros futuros tende a achatar, o que é positivo para a Bolsa, para os títulos mais longos do Tesouro Direto (Tesouro IPCA e prefixado).”

Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos

“O BC se mostrou muito mais preocupado e vigilante com a inflação do que o último comunicado, com uma política monetária mais hawkish. No último comunicado, o BC já havia retirado o forward guidance, mas nessa retirada não necessariamente indicava um aumento da taxa de juros.

Em relação ao cenário de investimentos, mesmo com esse aumento de juros e uma sinalização de um aumento na mesma proporção na próxima reunião, não vai ter grandes alterações na questão dos juros nas operações de renda fixa, e o Brasil ainda vai ficar extremamente atrativo no cenário de renda variável.”

João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos

“A decisão do Copom surpreendente de maneira geral, mostrou que o Banco Central está preocupado com a aceleração da inflação no curto prazo, apesar de ainda defender que essa pressão é temporária. A alta de 75 bps e a indicação de que pretende fazer o mesmo aumento na reunião de maio, é justificada pelas projeções de inflação próximas do teto da meta em 2021 e no centro da meta em 2022. A preocupação com a desaceleração econômica foi secundária e compensada pela elevação do risco fiscal. O Copom também deixou claro que essa normalização será parcial, provavelmente antecipando uma pausa no processo de alta, antes de chegar ao juro neutro.

Vemos que a pressão na inflação neste ano ainda não terminou e há um risco crescente de o IPCA ficar acima do teto da meta de 5,25%, nesse sentido a decisão do comitê foi correta. É também um risco crescente que essa inflação transborde para 2022, o que também exige uma alta mais acelerada na Selic até o final do ano. Essa estratégia aliada ao FED dovish contribuem para o fortalecimento do mercado doméstico.

Para os investimentos, a estratégia do Copom deixa os ativos brasileiros, em especial a renda fixa, mais atrativos. A curva de juros deve perder inclinação com uma provável redução nos prêmios dos vencimentos mais longos. O Real também deve ganhar força em relação ao Dólar com a melhora no diferencial de juros”.

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(Colaboraram: Elaine Ortiz, Jenne Andrade, Luiz Felipe Simões, Renato Vieira)

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