Marfrig e BRF se unem para formar gigante do setor de alimentos. (Foto: Adobe Stock)
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou o adiamento da assembleia geral extraordinária (AGE), convocada para decidir sobre a fusão entre Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3), após investidores da BRF solicitarem ao órgão a interrupção ou suspensão da AGE. Os acionistas minoritários, sendo um deles o fundo Nova Almeida Fundo de Investimento Multimercado, por meio da Latache Capital, citaram a ausência de informações suficientes para analisar as condições de incorporação e a necessidade de providências para garantir a transparência e proteção dos direitos dos acionistas minoritários. A AGE estava prevista para acontecer nesta quarta-feira (18).
O E-Investidor solicitou posicionamento sobre o assunto para a Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3), mas as duas empresas não quiseram comentar. Já em fato relevante, divulgado na manhã desta terça-feira (17), as duas companhias comunicaram ao mercado que estão avaliando medidas cabíveis, incluindo um eventual pedido de reconsiderção. Às 11h (de Brasília), as ações da Mafrig despencam 1,88%, cotadas a R$ 24,53, enquanto os papéis da BRF recuam 1,51%, negociados a R$ 20,19. Veja os detalhes nesta reportagem.
Com base nesses argumentos, o colegiado da CVM determinou que a nova data da AGE deve ser marcada após 21 dias, contados a partir da disponibilização das novas informações sobre as condições da incorporação. Como detalhamos nesta reportagem, no dia 15 de maio, Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3) comunicaram ao mercado a fusão dos seus negócios para se tornar uma gigante do setor de alimentos com relevância tanto no mercado doméstico quanto internacional.
Com a transação, a BRF passará a ser uma subsidiária integral da Marfrig, que continuará listada no Novo Mercado da B3. Os custos da operação são estimados em R$ 24 milhões, incluindo assessorias jurídicas, financeiras, auditorias e publicações. A proposta prevê ainda que os acionistas da BRF (exceto a própria Marfrig) receberão 0,8521 ação ordinária da Marfrig para cada 1 ação da BRF. A negociação considerou ainda a distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio de R$ 3,52 bilhões pela BRF e R$ 2,5 bilhões pela Marfrig.
Contudo, essas condições de incorporação não foram analisadas pelo mercado como favoráveis aos acionistas da BRF. Na época, quando as companhias informaram a fusão, a Genial Investimentos ressaltou que a proposta da Marfrig para aquisição estava aquém da eficiência operacional da BRF e sem o pagamento de prêmio pelo controle da companhia, algo incomum para as operações dessa magnitude.
“A relação de troca definida em 0,8521 ação da Marfrig por cada ação da BRF, ainda que acompanhada de dividendos extraordinários, implica um deslocamento de valor em favor da Marfrig, estimado até +15%, considerando que os respectivos preços das ações fecharam o pregão do dia 15 de maio praticamente no mesmo valor (R$20,62 BRFS3 e R$20,66 MRFG3)”, escreveram Igor Guedes, Lucas Vello e Iago Souza em relatório, divulgado no dia 16 de maio.
Segundo os dados divulgados, as companhias estimam sinergias na ordem de R$ 485 milhões por ano com aumento de receitas e redução de custos, R$ 320 milhões por ano em despesas operacionais e R$ 3 bilhões em ganhos fiscais a valor presente líquido. Como parte da reestruturação junto à BRF (BRFS3), a Marfrig (MRFG3) havia proposto mudar a sua razão social para MBRF Global Foods Company S.A., nome que reflete a integração entre as duas companhias.