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- O dólar rompeu os R$ 5,83 nesta sexta-feira (01), o maior valor do governo Lula 3
- Apesar de ter começado a sessão em baixa, o câmbio inverteu a tendência repercutindo a notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará na Europa entre os dias 4 e 9 de novembro
- Ausência do ministro na próxima semana indica que as medidas voltadas ao ajuste fiscal ainda devem demorar
O pessimismo do mercado com as promessas do governo federal de apresentar um pacote de medidas voltadas ao corte de gastos públicos voltou a fazer pressão o cambio. O dólar rompeu os R$ 5,83 nesta sexta-feira (1º), o maior valor do governo Lula 3.
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A moeda americana começou a sessão em baixa, depois da divulgação de dados mais fracos na economia dos Estados Unidos. Mas logo a tendência se inverteu. A notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará na Europa entre a segunda-feira (4) e o sábado (9) repercutiu negativamente, tendo em vista que a ausência do ministro na próxima semana indica que as medidas voltadas ao ajuste fiscal ainda devem demorar. E essa perspectiva ajudou a deteriorar ainda mais o humor do mercado. Investidores tratam o tema como urgente e, sem sinais concretos de quando e quais serão as medidas voltadas ao controle das despesas públicas, exigem mais prêmio de risco nos ativos brasileiros.
Às 11h22, o dólar à vista tocou a máxima de R$ 5,8335, com alta de 0,91% ante o real. A cotação teve um ligeiro recuo, mas a moeda americana ainda se mantém nos R$ 5,825 às 13h10.
Por que o dólar está em alta?
O câmbio brasileiro encerrou o mês de outubro com uma desvalorização mensal de 6%. Dados levantados pela Economatica mostram que o dólar tem em 2024 a 3ª maior alta registrada nos últimos 15 anos, com uma valorização acumulada de 19% desde o início de janeiro. A alta só não é maior do que a registrada no mesmo período de 2015, quando o dólar subiu 45,28% no auge da crise que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT); e em 2020, primeiro ano da pandemia da covid-19, quando o dólar subiu 43,20% nos 10 primeiros meses daquele ano.
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O estresse no câmbio reflete uma combinação de fatores. Lá fora, a incerteza em relação ao resultado da eleição presidencial mais disputada dos últimos tempos nos Estados Unidos pressiona a cotação da moeda americana. Nos últimos dias, o mercado tem se posicionado em linha com uma vitória do ex-presidente Donald Trump, ainda que as pesquisas de intenção de voto mostrem uma disputa acirrada com a candidata democrata Kamala Harris. Esse “Trump trade” joga a favor de um dólar mais forte, com a expectativa se que, se eleito, o republicano adote uma política protecionista na economia americana.
Mas não é só isso. Especialistas apontam que, apesar das incertezas no ambiente global, é o cenário doméstico o protagonista da pressão sobre o câmbio. A percepção de risco em relação ao fiscal se agravou nos últimos dias, enquanto o mercado aguarda o anúncio de um pacote de medidas voltadas ao corte de gastos por parte do governo. O entendimento é de que, se não revisar as despesas, o Executivo não será capaz de entregar as metas de resultado primário estabelecidas pelo arcabouço fiscal; um cenário que levaria ao descontrole das contas públicas e volta da inflação.
Enquanto o governo não dá sinais claros e nem anuncia as tão aguardadas medidas de contenção de despesas, investidores exigem mais prêmio para tomar risco no Brasil. É algo que tem causado impacto não só no câmbio, mas também na curva de juros brasileira; como mostramos aqui.
“No Brasil, a incerteza fiscal se destaca como um dos principais vetores de pressão no câmbio”, explica Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio. “Enquanto o mercado aguarda sinais claros de ajuste nas contas públicas, as negociações entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula sobre potenciais cortes de gastos ainda carecem de definições concretas. Sem um plano claro e prazos estabelecidos, a confiança do investidor segue contida, acentuando a aversão ao risco e a valorização do dólar.”
- Leia também: Risco fiscal: qual é o ‘número mágico’ para acalmar os ânimos do mercado?
O dólar vai chegar a R$ 6?
O câmbio já vem bastante pressionado ao longo de 2024, mas há muitos fatores no radar que ainda podem mexer com a cotação do dólar – para cima e para baixo. A edição mais recente do Boletim Focus mostra que a mediana do mercado para a moeda americana ao final de 2024 é de R$ 5,45. Para chegar a esse patamar, o dólar precisaria cair cerca de 5% nos dois meses finais do ano.
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José Alfaix, economista da Rio Bravo, explica que, dado o cenário extremamente volátil, é difícil dizer para qual direção vai o câmbio. “Parte importante da performance do dólar frente ao real se deve às questões fiscais do Brasil, há muito ‘ruído’ derivado do ceticismo dos investidores por parte do comprometimento do governo. Caso aconteça um ajuste das contas públicas, de forma crível e disposta a analisar os problemas do crescimento crônico das despesas obrigatórias, certamente observaríamos uma apreciação relevante do real”, destaca.
O problema é que, até agora, o mercado não sabe se o ajuste realmente vai acontecer, nem em que medida. Se a incerteza fiscal continuar, com as eleições presidenciais pressionando a moeda nos EUA, o câmbio pode continuar a subir.
Para chegar a R$ 6, o dólar precisaria subir mais 4%. Um cenário que não é impossível, na visão de Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. “O dólar subiu mais de 15% em 2024, apesar da queda nos juros dos EUA, por causa de incertezas sobre as contas públicas brasileiras e pela fuga de dinheiro do País. Esse movimento pode se intensificar se o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, vencer as eleições, pois ele defende políticas que limitam o comércio com países emergentes, o que afetaria as exportações do Brasil”, diz. “Se o governo brasileiro não melhorar essa situação fiscal, o dólar pode sim chegar a R$ 6.”
Nesta outra reportagem, mostramos as projeções de 5 casas para o dólar ao final de 2024 e início de 2025. Boa parte delas tem mais de um cenário para a evolução do câmbio, justamente devido à incerteza dos eventos que hoje estão pressionando o desempenho da moeda americana. A menor projeção é de R$ 5,25; a maior, de R$ 6.
Vale a pena comprar agora?
Acertar o melhor momento para comprar dólar, seja para investimentos, seja para quem tem viagem ao exterior, é sempre um tarefa ingrata. A recomendação geral dos especialistas é de usar a estratégia de aportes graduais, ir comprando aos poucos para fazer um “preço médio” em dias que pareçam de maior oportunidade.
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“Para quem já tem o seu dinheiro investido no exterior está ganhando com a alta do dólar. Para quem ainda irá investir, sugiro que aguarde as eleições presidenciais norte-americanas. Para quem já tem viagem marcada, recomendo que realize sua compra de forma fracionada, a fim de fazer uma média, já que o mercado está muito volátil”, resume Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
A melhor decisão vai depender do perfil de risco do investidor. Mas, como o ambiente econômico continua volátil e não há como prever a direção do dólar no curto prazo, o objetivo da aquisição da moeda também pode ditar a urgência do aporte. É o que explica Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.
“Para aqueles com viagens programadas ou que pretendem realizar investimentos no exterior, pode ser vantajoso comprar a moeda estrangeira no presente, especialmente considerando que a volatilidade do mercado pode aumentar com as incertezas fiscais e as pressões externas que vem afetando o real, como a aproximação das eleições americanas”, pontua Costa. “Se a compra de dólares não for imediata, esperar por uma eventual correção na cotação pode ser uma estratégia eficiente. Não é comum que tantas variáveis continuem convergindo negativamente de forma persistente por um período prolongado.”