O dólar recua nesta terça-feira (23) após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que abraçou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que deve se reunir com ele na próxima semana. O gesto de aproximação entre os dois líderes ajudou a aliviar a tensão do mercado em meio à tarifa de 50% imposta por Washington contra o Brasil. Por volta das 15h, a moeda americana caía 0,9%, cotada a R$ 5,286. Na mínima, a moeda americana chegou a R$ 5,2774, menor patamar desde 4 de junho de 2024.
“Lula e eu nos abraçamos. Concordamos em nos encontrar na próxima semana”, disse o presidente americano durante o seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Trump afirmou ter “gostado” de Lula durante o rápido encontro que tiveram nos corredores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. “Ele parece ser um homem muito legal”, disse no discurso. “Gostei dele e ele gostou de mim. E eu apenas faço negócios com pessoas de quem eu gosto”, acrescentou. O republicano acrescentou que a interação durou cerca de 39 de segundos. “Tivemos excelente química. Isso é um bom sinal”, destacou.
Em seu discurso, Lula disse que “poucas áreas retrocederam tanto como o sistema multilateral de comércio” e que “medidas unilaterais transformam em letra-morta princípios basilares como a cláusula de Nação Mais Favorecida”. A declaração foi um recado à política comercial do presidente dos Estados Unidos e as tarifas impostas a diversas nações do mundo, entre elas o Brasil.
O petista reforçou que a voz do Sul Global “deve ser respeitada e ouvida” e que é preciso ter líderes “com clareza de visão, que entendam que a ordem internacional não é um ‘jogo de soma zero’”.
“O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral. O Brasil confere crescente importância à União Europeia, à União Africana, à Asean, à Celac, aos Brics e ao G20”, declarou Lula.
Tom duro do Copom também mexe com o dólar hoje
Mais cedo, o Banco Central divulgou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento afirma que há uma redução das expectativas de inflação no curto prazo. No entanto, para haver uma queda de juros seria necessária uma nova ancoragem das expectativas do médio e longo prazo. O mercado também aguarda as falas do presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, que discusará às 13h35.
“O Copom também entende que tal processo exige perseverança, firmeza e serenidade. Na última reunião, do dia 17, o Copom manteve a taxa Selic em 15% ao ano”, diz o documento.
Segundo o colegiado, essa “incipiente queda” das expectativas em horizontes mais curtos reflete uma combinação de elementos, como a própria política monetária e números de inflação corrente. O colegiado destacou que, mesmo medidas por diferentes instrumentos, as expectativas de inflação permanecem acima da meta em todos os horizontes, mantendo o cenário “adverso.”
O colegiado reforçou que a desancoragem das expectativas causa desconforto a todos os seus membros e deve ser combatida. No debate da última reunião, foi destacado que as expectativas acima da meta aumentam o custo de desinflação em termos de atividade, segundo o documento.
“Na discussão sobre esse tema, a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi de que, em um ambiente de expectativas desancoradas, como o atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, diz a ata.
Para Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, a autoridade manteve o tom duro do comunicado, em linha com o esperado. O especialista reforça que as falas firmes são observadas nas sinalizações de manutenção do juro por tempo suficientemente prolongado, com a possibilidade de retomada do ciclo de alta caso seja necessário, ainda que não seja o cenário base.
Sanchez reforça que no 17º parágrafo, a autoridade inicia formalmente o período de estabilidade da taxa, alegando que a permanência por prazo bastante prolongado deve, segundo sua perspectiva, ser suficiente para a convergência da inflação à meta. Por fim, ele ressalta que no 18º parágrafo, a autoridade afirma que seguirá vigilante e não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado.
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O especialista diz que a ata reafirmou-se o compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta. “Com isso, mantemos nossa perspectiva de que a Selic permanecerá em 15,00% até meados de 2026”, aponta Sanchez.
No mercado internacional, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, participa de evento nesta terça-feira, às 13h35. Essa é a primeira fala da autoridade monetária dos Estados Unidos após o último corte no dia 17 de setembro.
Cenário político também pode dar tom ao dólar
Na política, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu entrevista ao ICL Notícias. Ele começou criticando a possibilidade de impor tarifas a commodities e a consequência disso para o custo aos americanos. As declarações do ministro são monitoradas em meio ao debate sobre o bloqueio adicional de R$ 1,4 bilhão no Orçamento e às críticas recorrentes do mercado sobre exceções ao arcabouço fiscal. O mercado busca sinais de compromisso do governo com a disciplina fiscal, especialmente após declarações recentes do presidente Lula a respeito de ampliar o Bolsa Família e outros programas sociais.
O pano de fundo político também está no foco. O Congresso Nacional discute projetos sensíveis, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e a Medida Provisória do tarifaço, enquanto o Supremo Tribunal Federal mantém em pauta julgamentos ligados aos atos de 8 de janeiro. Para mais informações sobre o dólar hoje, clique aqui.