

A incerteza sobre os rumos da economia nos Estados Unidos (EUA) em meio à conduta polêmica do presidente americano, Donald Trump, contaminou os mercados globais. Os principais índices de Wall Street encerraram a última semana com perdas relevantes. O S&P 500 e Nasdaq, por exemplo, caíram 3,10% e 3,45%, respectivamente, no acumulado semanal, enquanto o índice de small caps Russel 2000 teve uma queda de 4,05% durante o mesmo período.
Os juros dos treasuries americanos de curto prazo também acompanham esse movimento. Os títulos com prazo para 10 anos alcançaram um rendimento de 4,25%, enquanto o de dois anos chegou a 3,90%. O recuo espelha as apostas do mercado para uma retomada do corte da taxa de juros dos Estados Unidos ainda no primeiro semestre a fim de evitar uma deterioração da economia.
Todo esse estresse se deve às reviravoltas da aplicação das tarifas de importação sobre os produtos vindos do México e do Canadá que, além de causar uma tensão comercial entre os países, podem elevar a inflação do país. Há ainda a situação do mercado de trabalho americano que têm criado menos empregos do que o esperado.
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Em fevereiro, o departamento do trabalho americano reportou a abertura de 151 mil empregos em fevereiro, enquanto as projeções apontavam para uma geração de 160 mil novas vagas durante o período, segundo as projeções Broadcast. “As várias mudanças de políticas na Casa Branca – comércio, imigração e política fiscal – têm o potencial de desacelerar o crescimento e as contratações nos próximos meses”, alertou o Morgan Stanley ao analisar os dados de trabalho, em relatório.
Essa dinâmica alimentou entre os analistas o receio da maior economia do mundo entrar em recessão nos próximos meses. Alguns até cogitaram, na última semana, a possibilidade de uma estagflação, quando há a combinação rara de alta dos preços junto com uma queda da atividade econômica, fenômeno bastante temido pelos economistas. A possibilidade surgiu após os dados do Federal Reserve (Fed) de Atlanta projetarem uma queda de 2,8% no PIB dos EUA para o primeiro trimestre.
Trump também não descartou os riscos de um enfraquecimento da economia norte-americana. No domingo (9), em entrevista ao canal Fox News, o chefe da Casa Branca afirmou que os EUA passam por um período de transição. “Tenho que construir um país forte, não dá para prestar atenção no mercado”, afirmou o republicano ao ser questionado sobre as reações dos índices acionários.
Como isso afeta o Brasil?
Os sinais de uma recessão dos EUA podem obrigar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a antecipar a retomada do ciclo de queda de juros no país. Segundo informações do Business Insider, o mercado espera até três cortes de 0,25 pontos percentuais até o fim do ano. Caso essa projeção se materialize, o fluxo de capital estrangeiro pode seguir em direção a mercados emergentes, como o Brasil.
“Os juros brasileiros também estão muito elevados. Então, o investidor tem um carry trade (estratégia de investimento que consiste na diferença entre as taxas de juros) que fica favorável. Então, há condições de ter algum fluxo em direção ao Brasil”, diz Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo. Segundo os dados da B3, até o dia 6 de março o fluxo de capital estrangeiro continua com um saldo positivo com uma entrada de US$ 8,6 bilhões em 2025.
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Em contrapartida, a desaceleração econômica nos EUA implicaria na relação comercial com o Brasil, especialmente no segmento de commodities agrícolas. “Podemos observar uma pressão negativa no preço da cotação das commodities e, como consequência, redução na arrecadação tributária para esses componentes”, diz Angêlo Belitardo, gestor da Hike Capital. Em caso de uma estagflação, os efeitos seriam ainda piores. O Fed teria a difícil missão de encontrar um equilíbrio nas taxas de juros para controlar a alta da inflação e estimular a economia.
Isso poderia pressionar para cima a curva de juros no Brasil e ainda fortalecer o dólar frente às moedas emergentes, como o real. “Nesse ambiente, a bolsa americana tende a passar por uma realização de lucro e a bolsa brasileira não estaria imune a esse movimento. A situação elevaria a aversão ao risco no mundo inteiro e, como consequência, reduziria o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil”, diz André Barbosa, especialista em investimentos.
Exagero do mercado?
Apesar do estresse dos mercados, Mathias acredita que a economia americana seguirá com performances positivas nos próximos meses devido às políticas de corte de gastos, realizados pelo governo americano, e estímulos econômicos. “Trump é um personagem errático. Ele vai improvisando passo a passo. Isso não é bom e tem um custo para a economia. Mas não é um custo elevado assim”, diz o estrategista-chefe da Monte Bravo.
Ou seja, a atenção dos investidores brasileiros, na avaliação dele, deve continuar voltada para os problemas domésticos que prejudicam a recuperação das ações brasileiras e elevam as projeções dos juros no País. Beto Saadia, diretor da Nomos, escritório de investimentos, também enxerga os sinais de desaceleração como um movimento natural da maior economia do mundo e ressalta que o temor de uma estagflação representa uma leitura superficial do mercado.
Segundo ele, os dados do Fed de Atlanta, divulgados na última semana, que projetavam uma queda acentuada do PIB dos EUA, refletem a corrida das empresas em antecipar a compra de itens importados antes da vigência das novas tarifas de importação. “Algumas empresas anteciparam um estoque de um ano inteiro de importação. Quando há um aumento da importação, o PIB se contrai porque cria uma balança comercial deficitária”, explica Saadia. Ou seja, a tendência é de que esse efeito seja neutralizado à medida que os produtos forem sendo comercializados no mercado.
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Com informações do Broadcast