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Com crise nos reservatórios, investidor deve ficar atento às elétricas

A situação também pode causar impactos no mercado financeiro

Com crise nos reservatórios, investidor deve ficar atento às elétricas
Socorro às distribuidoras de energia deve ficar em R$ 4,5 bilhões. (Foto: Envato Elements)
  • As empresas do setor elétrico são algumas das melhores pagadoras de dividendos. Com a crise no setor, uma preocupação do investidor é que essa crise afete os proventos distribuídos
  • A diminuição no volume de chuvas fez o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitir um alerta de emergência hídrica. Agora, o País está em um cenário delicado e incerto para a produção de energia
  • Analista afirma que o investidor que deseja ter elétricas na carteira deve procurar aquelas que investem em outra matriz de energia que não dependa da “situação preocupante desta época do ano"

A diminuição no volume de chuvas fez o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitir um alerta de emergência hídrica. Agora, o País está em um cenário delicado e incerto para a produção de energia elétrica. A situação também pode causar impactos no mercado financeiro e o investidor deve estar atento aos impactos nas ações ligadas ao setor.

A energia proveniente das hidrelétricas é responsável por 63,8% da produção no Brasil, segundo o Ministério de Minas e Energia. Estudos de acompanhamento para o Setor Elétrico realizados pelo SNM alertam que as perspectivas climáticas indicam que a maior parte da região central do Brasil entra em seu período com menor volume de chuvas de maio a setembro.

“As empresas mais expostas a fontes hídricas e as que têm maiores níveis de contratação devem ser as mais afetadas, pois precisam honrar os contratos”, afirma Vitor Sousa, analista de investimentos com ênfase no setores de Energia Elétrica e Saneamento da Genial Investimentos. “Para isso, podem acabar precisando comprar no mercado à vista (operação de troca imediata de produtos entre diferentes empresas de um mesmo setor), que em geral é uma energia mais cara. Como é o caso da Cesp (CESP6).”

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O analista avalia que a Engie Brasil (ENGIE3) e a AES Brasil (AESB3) devem ser afetadas, mas em menor escala por conta de um nível de contratação menor. “Apesar da fonte hidrelétrica ser a maior parte, a Engie está exposta a outros negócios, como ativos em eólica e gás. Assim como a AES Brasil, que também tem produção eólica”, sugere Sousa.

O especialista da Genial também vê com bons olhos a Alupar (ALUP11) por ser majoritariamente ligada ao segmento de transmissão e ter investimentos hidrelétricos em outros países. “As empresas de transmissão de energia aliam proteção, pagamento de dividendos e reajustes à inflação”. Entretanto, a influência das dívidas das companhias também pode amenizar ou piorar a situação. “Mesmo sendo muito exposta, a Cesp tem uma dívida baixa, podendo ajudar no controle da crise”, afirma.

Para Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, o investidor que deseja ter elétricas na carteira para diversificar o portfólio deve procurar aquelas que investem em outra matriz de energia que não dependa da “situação preocupante desta época do ano”.

“A Ômega (OMGE3) e a Eneva (ENEV3) são boas opções para ter na carteira por investir em energias eólica e térmica, respectivamente. Pelo menos enquanto as geradoras focadas em energia hidrelétricas, maior matriz do País, estão em situação crítica por depender dos níveis baixos dos reservatórios”, destaca.

Ele reforça que além das geradoras, pode haver impacto também entre as distribuidoras e transmissoras. “Se houver impacto no aumento do despacho térmico, pode gerar um custo de compra de energia mais elevado, que não necessariamente deve afetar as distribuidoras por ser repassado para o preço final direcionado ao consumidor. Só deve afetar dependendo do calendário de reajuste entre compra e repasse”, explica França.

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Para a economista e analista CNPI Louise Barsi, o que mais deve influenciar os investimentos é a expectativa do mercado. Segundo ela, para traçar o futuro das empresas, é necessário esperar os cálculos de riscos da crise hídrica, que devem ser avaliados por profissionais qualificados da área. “Ter uma crise hídrica não significa exatamente que o preço das ações desse setor pode despencar. O movimento da Bolsa tem muito mais a ver com expectativa dos agentes”, alerta.

Barsi também afirma que não é a primeira vez que o Brasil passa por uma situação como essa. Houve o grande apagão elétrico em 2000, que causou racionamento de energia, e a crise no sistema Cantareira em 2015. “Por mais que o setor de energia tenha essa sazonalidade na questão hídrica, podemos enxergar como grandes oportunidades para tornar sócios de boas empresas”, complementa.

Como ficarão os dividendos das elétricas

As empresas do setor elétrico são algumas das melhores pagadoras de dividendos. Entre elas, Taesa (TAEE11), Ger Paranapanema (GEPA4), Cemig (CMIG4), Copel (CPLE3 e CPLE6) são os papéis que mais pagaram dividendos nos últimos 10 anos, segundo levantamento feito pela Economatica, com dados de janeiro de 2011 a junho de 2021. Com a crise no segmento, uma preocupação do investidor é que essa ela afete os proventos distribuídos.

Para França, a situação pode piorar caso as empresas precisem comprar no mercado spot (à vista), operação de compra imediata realizada principalmente pelos setores agrícolas e de energia, quando falta determinado produto e é preciso entregar uma demanda. “Aumentam os custos, diminui o resultado, cai o lucro e diminuem os dividendos. Ainda não é o cenário base, mas ainda estamos no início de uma crise que pode ter grandes desdobramentos”, afirma o analista.

Em relação à desvalorização das empresas, o analista da Ágora afirma que ainda não é possível prever essa possibilidade. “Vai depender do nível de estresse que o Brasil vai passar. Estamos em um sinal de alerta, mas não devemos, pelo menos no curtíssimo prazo, ter uma interrupção ou recuo significativo no fornecimento e na demanda de energia”, avalia.

Para Sousa, da Genial, as empresas podem distribuir menos dividendos por “questão de conservadorismo”. Entretanto, ainda não é possível avaliar se haverá desvalorização permanente das empresas. “O ONS (Operador Nacional de Sistema Elétrico) deve fazer uma revisão das garantias físicas para avaliar a capacidade de geração da empresa. Se houver mudança, podemos considerar a desvalorização”, complementa.

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