Veja o que fazer com as ações da Embraer após lucro tombar 76,4% no terceiro trimestre de 2025 (Foto: Adobe Stock)
As ações da Embraer (EMBJ3) recuam no pregão desta terça-feira (4) após a companhia reportar um lucro líquido ajustado de R$ 289,4 milhões no terceiro trimestre de 2025, queda de 76,37% na comparação com o mesmo período do ano passado. Para analistas consultados pelo E-Investidor, a empresa reportou um bom resultado no trimestre e a queda abre oportunidade de compras, mas ainda com certa parcimônia diante das incertezas sobre o tarifaço.
Por volta das 13h30, as ações da Embraer recuavam 3,5%, a R$ 84,22. Segundo a empresa, o trimestre foi impactado por resultados operacionais menores na aviação executiva e serviços e suporte. Além disso, as tarifas de importação dos EUA totalizaram US$ 17 milhões. No período de julho a setembro de 2025, as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, incidiram sobre os setores de aviação executiva (US$ 15 milhões) e serviços e suporte (US$ 2 milhões).
Vale lembrar que essas tarifas são as de 10% colocadas por Trump em abril. Já as tarifas de 40% impostas em agosto não recaíram sobre a companhia, pois a aviação foi tratada como uma exceção. No início do tarifaço, a empresa previu um impacto de US$ 60 milhões a US$ 65 milhões em 2025. Até o momento, as tarifas retiraram US$ 27 milhões do balanço no acumulado do ano.
Durante a teleconferência dos resultados, o diretor de relações com investidores da Embraer, Guilherme Paiva, estimou que os impactos das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem ficar entre US$ 35 milhões a US$ 38 milhões no quarto trimestre de 2025, piora entre 105,8% e 123,52% na comparação com o terceiro trimestre de 2025.
“O terceiro trimestre teve um impacto menor devido ao suporte de estoques relevantes. Ainda temos US$ 35 milhões e US$ 38 milhões faltando para atingirmos a projeção estimada para o ano. No entanto, estamos trabalhando para encerrar com um patamar menor que esse”, disse Paiva.
Qual foi a opinião do mercado sobre o balanço da Embraer no 3T25?
Na visão de Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, o risco sobre as tarifas permanece. Ele diz que caso as tarifas sejam mantidas ou ampliadas, o impacto pode continuar pressionando as margens de exportação.
“A Embraer tem buscado mitigar efeitos via hedge natural e renegociação de preços, mas ainda há incerteza até que a política comercial dos EUA seja redefinida”, diz Mollo.
Para os analistas do Citi, mesmo com os impactos das tarifas, o resultado da companhia foi positivo para o investidor. Eles explicam que o principal motivo para a queda de 76,4% do lucro no trimestre foi um ganho extraordinário de arbitragem de US$ 150 milhões no terceiro trimestre de 2024 contra a Boeing, o que não se repetiu em 2025.
Desse modo, eles dizem que Embraer reportou um balanço positivo no terceiro trimestre de 2025, com forte desempenho nos segmentos executivo (margem EBIT de 12%), defesa (EBIT de 12,9%) e serviços (13,7%), enquanto o segmento comercial apresentou um resultado de 1,3% de margem EBIT. Vale lembrar que a margem EBIT é um indicador financeiro que mede a lucratividade operacional de uma empresa, calculada pela divisão do seu lucro antes de juros e impostos (EBIT) pela receita líquida.
“A empresa está no caminho certo para atingir a projeção de receita, já que o faturamento precisaria crescer 11% em relação ao quarto trimestre, enquanto a empresa vem apresentando crescimento de 20% no faturamento acumulado até o terceiro trimestre de 2025”, afirmam.
Já o Itaú BBA, por sua vez, afirma que as entregas totais aumentaram 25% em relação ao ano anterior, com uma composição mais premium, elevando a receita para US$ 618 milhões, um aumento de 31% em relação ao ano anterior e 2% acima da estimativa do banco. Já as 41 entregas divulgadas anteriormente (estáveis em relação ao ano anterior) foram acompanhadas por uma receita líquida 4% maior em relação ao ano anterior, atingindo US$ 583 milhões, 2% acima de previsão do BBA.
“Acreditamos que a discrepância positiva entre entregas e receitas foi explicada por preços mais altos que mais do que compensaram a menor composição premium. As tarifas de importação dos EUA tiveram um impacto negativo de US$ 15 milhões no 3T25, enquanto a rentabilidade também foi afetada negativamente pela composição das entregas e custos logísticos mais altos”, dizem Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Pedro Tineo, que assinam o relatório do Itaú BBA.
O que fazer com as ações da Embraer?
Mesmo em meio aos resultados, os analistas formam um consenso e recomendam compra para as ações da companhia. O Citi tem recomendação de compra para as American Depositary Receipts da Embraer negociadas em Nova York pelo ticker EMBJ. O preço-alvo é de US$ 70 para os próximos 12 meses, alta de 8,2% na comparação com o fechamento de segunda-feira (3), quando a ADR encerrou o pregão a US$ 64,67.
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“Esta estimativa baseia-se numa abordagem de avaliação por fluxo de caixa descontado (DCF) para o período de 2026 a 2030, considerando um custo médio ponderado de capital (WACC) de 9%. Prevemos que a empresa seja negociada a 11 vezes o valor da empresa sobre o EBITDA (EV/EBITDA), contra uma média de 14 vezes a do setor. Este valor considera a excelente execução da Embraer e a crescente procura nos seus principais setores”, dizem André Mazini, Piero Trotta, Kiepher Kennedy e Filipe Nielsen, que assinam o relatório do Citi.
O Itaú BBA também recomenda compra, com preço-alvo de US$ 69 para a ADR da Embraer, crescimento de 6,6% sobre o fechamento anterior. Segundo eles, os números das tarifas apresentados no terceiro trimestre de 2025 revelam que os custos podem ser menores que o estimado, inclusive abaixo do piso de US$ 35 milhões explicados pela companhia na teleconferência.
“Mantemos nossa recomendação de compra para as ações e reiteramos que elas são nossa principal escolha no setor de transporte e bens de capital após uma nova safra de resultados positivos”, explicam os analistas do BBA.
Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, também acredita que vale a pena ter a ação da Embraer na carteira diante desse momento, principalmente para quem busca exposição ao setor exportador e à recuperação global da aviação. O momento é de curto prazo mais volátil, mas a carteira de pedidos de aeronaves já firmados (backlog) e a perspectiva de retomada de margens em 2026 sustentam uma visão construtiva no médio prazo.
“A recomendação é de manutenção com viés positivo, considerando que o operacional segue forte, mas há ruído de curto prazo em função das tarifas e do ambiente macro global. O foco do investidor deve estar em 2026, quando a normalização de margens e a conversão do backlog devem voltar a impulsionar resultados”, conclui Mollo.
Em suma, os analistas recomendam compra para o papel, mesmo com perspectiva da alta limitada de até 8,2%. Isso porque a Embraer (EMBJ3) está com boa gestão e o papel segue descontado diante dos pares, conforme os especialistas. A indefinição tarifária segue no radar, mas um acordo hoje entre o Brasil e os Estados Unidos está mais próximo do que a meses atrás, trazendo certo alívio para a companhia, que já havia ficado de fora das tarifas adicionais de 40%.