Felipe Miranda é CEO e co-fundador do Grupo Empiricus (Foto: Empiricus)
Para a Empiricus Research, o mercado brasileiro está prestes a iniciar um novo “superciclo” de alta após quatro anos de “bear market” – jargão utilizado para descrever um período prolongado de queda dos ativos. No relatório “Trincheira Tropical e o Elogio do Vira-Lata”, enviado com exclusividade ao E-Investidor, a casa de análises detalha os componentes que devem engendrar uma valorização expressiva da renda variável local até o final de 2026.
O primeiro é o patamar de preço dos ativos brasileiros, considerado pela Empiricus como muito “aquém” do valor justo – principalmente em ações e fundos imobiliários (FIIs). O Ibovespa, por exemplo, negocia atualmente ao redor de 8x o lucro, calcula a Empiricus, contra uma média histórica de 10,5x. Isso significa que os investidores estão pagando em média R$ 8 para cada R$ 1 de lucro na Bolsa, quando historicamente o desembolso era de R$ 10,50 a cada R$ 1 de lucro.
Os FIIs, por sua vez, negociam a 84% do valor patrimonial, outra métrica que mostra um buraco entre o preço de tela e o valor justo desse ativos. Esse desconto nos produtos brasileiros foi causado pela subida da taxa básica de juros Selic, que pressionou os lucros das empresas e tornou as dívidas mais caras, e por um movimento global em direção às companhias de tecnologia americanas.
Entretanto, ambas as questões – juros no Brasil e preferência pelo mercado tech dos EUA – estão sofrendo um revés. As projeções no Boletim Focus apontam para uma queda da Selic a partir do ano que vem, enquanto investidores passaram a questionar o “excepcionalismo americano” e distribuir capital para outras geografias. Isto em função do evento “DeepSeek”, lançamento de uma inteligência artificial chinesa à altura das IAs americanas e mais barata, e da sensação de insegurança provocada pela cruzada comercial do presidente Donald Trump.
“Os Estados Unidos, que forneciam um ‘seguro’ para o mundo do ponto de vista institucional, reputacional e segurança militar, se tornaram uma fonte de preocupação mundial”, disse Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe da Empiricus, ao E-Investidor.
Os Estados Unidos, que forneciam seguro para o mundo, se tornaram uma fonte de preocupação mundial
Fora o desconto nos ativos, queda da Selic e diminuição do excepcionalismo americano, existe ainda a possibilidade de alternância política no Brasil. Um fator que, mesmo isolado, já engatilharia uma alta no mercado. A combinação de tudo isso, portanto, forma uma oportunidade única de ganhos.
“Participar de movimentos como esse transformam vidas”, aponta Miranda. O CEO da Empiricus calcula uma alta de 40% até o fim do ano que vem em um cenário de “razoabilidade” política, sem adoção de medidas extremas do ponto de vista fiscal; e espaço para mais do que triplicar o capital, em um caso de alternância de poder nas eleições de 2026.
Seca no mercado brasileiro
Apesar da oportunidade única de ganhos, a Empiricus vê uma baixa alocação dos investidores na renda variável brasileira. O primeiro indício é o volume recorde de resgates nos fundos de ações e multimercados — que chegou a R$ 353 bilhões em 12 meses, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) –, a seca de Ofertas Públicas Iniciais (IPO) desde julho de 2021 e a alta de programas de recompras de ações.
De acordo com dados coletados pela Empiricus, foram abertos 101 programas de recompras de ações em 2024, o maior número desde 2013. “Não têm empresas novas chegando. Por outro lado, tem companhias que saíram da Bolsa e aquelas em que o free float (ações livres em circulação) diminuiu por conta das recompras. A oferta de ações disponíveis está muito baixa”, diz Miranda.
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É hora de aumentar a alocação, segundo a Empiricus. “Pode soar exagerado à primeira vista, mas costuma ser assim. Os grandes movimentos de mercado, quando de fato acontecem, tendem a ser muito mais intensos do que nossa mente linear é capaz de antecipar”, aponta a research, em relatório. “Momentos como esses não são comuns – surgem talvez três ou quatro vezes ao longo de uma vida. Não há garantia, mas é possível que estejamos diante de mais um.”
Ações e fundos imobiliários
A Empiricus selecionou 10 ações brasileiras e cincofundos imobiliários para investir e captar esse possível superciclo de valorização. Entre as ações, as recomendações são divididas entre nomes de “alta convicção”, consensos no mercado, e oportunidades “fora do consenso”.