- ESG é ponto importante para investidores que compram papéis de grandes empresas
- Os grandes investidores vêm olhando com cautela as práticas sociais, ambientais e de governança das empresas antes de depositarem a confiança e o capital nelas
(Roberta Picinin, especial para o E-Investidor) – Implementar o ESG (enviroment, social and governance, na sigla em inglês) vem sendo um grande desafio para as companhias brasileiras nos últimos anos. Incentivar práticas que reduzam a emissão de gases poluentes e combatam os desmatamentos, por exemplo, que antes não eram pré-requisitos para os investimentos, entraram no radar de quem atua no mercado de capitais.
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Os grandes investidores vêm olhando com cautela as práticas sociais, ambientais e de governança das empresas antes de depositarem a confiança e o capital nelas. Ou seja, as companhias com políticas ESG ganharam ênfase também nas bolsas de valores. Com mais visibilidade para os investimentos, elas têm moldado também o perfil dos acionistas que buscam investimentos com propósito sustentável.
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Para o economista José Scheinkman, professor na Universidade Columbia e especialista em “Finanças do Clima”, os projetos relacionados ao meio ambiente no Brasil poderiam ser líderes no mercado ESG. Em entrevista ao E-Investidor, Scheinkman aponta quais devem ser os caminhos para as empresas brasileiras e o quanto a preocupação ambiental vem mudando o mercado financeiro.
E-Investidor – Como a ESG vai mudar o mercado financeiro? Há alguma projeção?
José Scheinkman – Há muito interesse das pessoas e empresas, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, na questão do meio ambiente e também nas melhorias de condições de trabalho das pessoas, para que as companhias não se beneficiem do trabalho barato. Hoje, o mercado vem com grande interesse em todas essas questões sociais. Ainda não se tem uma projeção exata, mas é preciso ressaltar que o ESG já é muito importante para o mercado.
Quais evidências podemos enxergar de que isso está acontecendo?
Scheinkman – Um exemplo de evidência são as declarações dos investidores como no caso da BlackRock, maior empresa de gestão de ativos no mundo, e da CalPERS, maior fundo de pensão estadunidense, que estão focando em não investir mais em empresas que vão deteriorar o meio ambiente. Existe uma vontade dos investidores de comprar papéis que potencialmente podem estar melhorando o meio ambiente.
Olhando para as novas gerações de investidores, como as empresas terão de se posicionar em ESG?
Scheinkman – Todas as empresas estão tentando fazer esse movimento. Porém, quando é uma firma de software, por exemplo, é mais fácil ter um uso menor do carbono, do que sendo uma empresa petrolífera. Empresas como a Tesla, que já produzem carros elétricos, só de estar aumentando sua produção, já causa um impacto positivo, enquanto outras companhias que produzem carro a combustão tem que melhorar o desempenho do automóvel e buscar novas alternativas de mudança. Hoje, a maioria das empresas do mundo estão tentando fazer um esforço grande para melhorar suas ações ESG.
Quais produtos devem crescer nos próximos anos dentro da pegada ESG?
Scheinkman – Se uma companhia se torna mais verde, vai haver mais interesse do mercado por ela e consequentemente de investimento. As ações podem até valorizar mais por conta da empresa estar atrelada ao ESG, mas não quer dizer que o produto vai aumentar. No entanto, no mercado financeiro, o que importa é o preço e não a quantidade do produto que está sendo vendido.
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O que hoje ainda atrapalha esses produtos de um crescimento mais acelerado?
Scheinkman – Em qualquer lugar tem dois problemas para o crescimento desses produtos. O primeiro é passar confiança para as pessoas e empresas de que realmente o papel no qual elas estão investindo vai causar um impacto positivo no ambiente. Outro ponto é que o mercado caiu muito como um todo, tanto no exterior quanto no Brasil com os investimentos em ações. Atualmente, a maior dificuldade para as empresas brasileiras que levantam ou querem levantar dinheiro no exterior, é que elas precisam passar muito tempo afirmando que não estão matando a floresta amazônica. O Brasil tem um sério problema de imagem no exterior por conta de discurso governamental que faz com que o País pareça ter uma política anti meio ambiente.
Quais indústrias precisarão mudar radicalmente para atender às demandas ESG? Petróleo? Outras?
Scheinkman – As companhias de energia são um exemplo das que vão tentar se tornar mais verdes aumentando atividades que não têm um lado positivo para o meio ambiente e diminuindo outras ações que são negativas. As companhias aéreas, por exemplo, contribuem muito para o efeito estufa. Por isso muitas pessoas estão começando a trocar os aviões por trens, que é o que vem acontecendo há alguns anos na Europa.
Qual é o papel do Brasil para a agenda ESG no mercado financeiro?
Scheinkman – As empresas brasileiras deviam ser vistas no exterior como líderes em processos relacionados ao meio ambiente. O Brasil tem uma vantagem maior quando comparado com outros países, por conta de seus atributos, mas infelizmente as empresas brasileiras ainda são vistas com desconfiança e precisam provar o que está sendo feito em prol ao ESG. Infelizmente, esse é o custo de ser uma empresa no Brasil hoje, seja pelo governo atual ou pelos problemas sociais, como boards majoritariamente masculinos e com pouca representatividade de diferentes grupos sociais, um atraso que vem da própria sociedade que sempre foi muito machista e racista. O esforço das companhias hoje é tanto pelo ESG quanto nas questões sociais e de forma que contribuam para transformações além do ambiente da empresa.