- Agência de classificação de risco Fitch elevou, nesta quarta-feira (26), nota de crédito do Brasil de BB- para BB
- Especialistas dizem que Bolsa não será impactada de imediato, pois a relação é "indireta"
- Contudo, renda fixa brasileira pode ficar mais atrativa para investidores estrangeiros com mudança de nota de crédito
Após mais de cinco anos, a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito do Brasil de BB- para BB nesta quarta-feira (26). Segundo a agência, a decisão foi baseada em “um desempenho macroeconômico e fiscal acima do esperado”. No entanto, apesar da nota mostrar uma melhora na visão sobre o grau de investimento no Brasil, especialistas alertam que a renda variável não será impactada no curto prazo.
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“A Bolsa não vai subir porque a Fitch fez esse upgrade. A Bolsa está em alta por conta de eventos positivos passados que ajudaram também o rating a subir”, enfatiza Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, explicando que o olhar se volta muito mais para investimentos de estrangeiros em renda fixa.
Para esse segmento, em sua visão, o rating passa a ser um driver importante porque há países que têm regras de não investir em locais com “nota especulativa”. Como exemplo, Gardimam cita os EUA, que têm fundos de pensão que são impedidos de investir em renda fixa em países com notas baixas.
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João Piccioni, analista da Empiricus Research, concorda com a análise de que o impacto na Bolsa não é tão claro. “Não tem uma relação direta. Há impactos a longo prazo, como o custo de crédito ficar barato e gerar um efeito positivo para as empresas, mas é uma dinâmica mais alongada. Com o tempo, essa melhora de risco chega nos preços e aí sim a Bolsa poderia andar um pouco mais do que a gente espera até então”.
Entretanto, Piccioni destaca que a elevação da nota aponta para uma melhora da visão sobre os aspectos fiscais do Brasil e isso têm efeito na curva de juros, deixando-a menos pressionada. “Isso acaba impactando todos os ativos de risco do País. Teoricamente, o ambiente fica mais propício para o investidor comprar ativos aqui, porque deve ter um reajuste positivo no preço”, acrescenta.
Decisões de investidores e de agências ocorrem em tempos diferentes
Gardimam comenta que as mudanças de nota de crédito ocorrem baseadas nos mesmos fatores que os investidores analisam, mas em momentos diferentes. Ou seja, da mesma forma que as agências olham para um conjunto de indicadores, como PIB (Produto Interno Bruto), inflação, dados do varejo, produção industrial e avanços políticos-fiscais, o investidor também olha para isso, só que diariamente.
“É uma decisão [rebaixar ou elevar a nota de um país] que é gerada em cima de um olhar para trás. Quase sempre, a situação do país melhora e depois as agências de rating melhoram a nota de crédito. Isso é um pouco contraditório com o mercado financeiro, que sempre olha para frente”, salienta.
Sendo assim, de acordo com o especialista, os investidores não esperam as ‘notas’ das agências de risco para decidir suas alocações. Contudo, ele destaca que a mudança de classificação afirma um cenário que está sendo visto neste ano e que dá ao Brasil um “selo de qualidade”.
“Se você comparar meados do ano passado com hoje, a gente teve uma vitória importante na inflação. Estava em 10%, foi para 7% e agora está em 3%. O crescimento também. O Banco Central, no último dia de 2022, previa um PIB de 0,8% e agora projeta 2,2%, é muita melhora. E um terceiro ponto é a valorização do real, que é um critério sempre decisivo”, afirma.
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Todos esses fatores foram citados pela Fitch, ao justificar a elevação da nota, e acrescidos de uma visão positiva nos avanços relacionados ao arcabouço fiscal e à reforma tributária. “As principais reformas fiscais ainda estão pendentes de aprovação final, mas registraram progressos importantes, incluindo uma nova estrutura fiscal e uma importante reforma do imposto sobre o consumo”, informa o relatório.
Por conta desse movimento, Piccioni acredita que outras agências de risco também elevarão a nota de crédito para o Brasil, já que elas tendem a convergir suas análises para um patamar similar. Atualmente, a agência Standard & Poor’s tem nota BB- para o Brasil. Já a na Moody’s, a classificação do Brasil está um patamar acima, Ba2, que equivale a BB da Fitch.