Com a emissão de 1,2 trilhão de ações, Gol visa superar situação financeira atual. (Foto: Adobe Stock)
A Gol (GOLL4) deve passar por um dia importante nesta quinta-feira (12). A data marca o início de uma nova forma de negociação das ações, além de uma mudança de ticker (código de negociação do ativo). Isso porque a empresa realizará um aumento de capital de R$ 12 bilhões com emissão de novas ações preferenciais ao preço de R$ 0,01 cada, contra a cotação de R$ 0,8 do último fechamento. Veja aqui como os papéis reagem no primeiro pregão desta nova fase da companhia.
O processo tem levantado preocupações no mercado. Segundo o BTG Pactual, o aumento de capital, que envolve a emissão de 1,2 trilhão de ações, resultará em uma diluição acionária significativa, na ordem de 99,8%. “Considerando essa forte diluição e a elevada alavancagem, mantemos nossa recomendação de venda”, destaca o banco em relatório.
Para Welliam Wang, gestor de fundos de ações da AZ Quest, uma operação nessa estrutura, como a da Gol, é rara no mercado. “A empresa vai emitir muitas ações para valer quase nada, gerando uma grande diluição. Numa situação hipotética, se alguém tivesse 100% de participação na Gol, depois do aumento de capital isso seria reduzido para 0,2%, por causa do tamanho da oferta”, afirma.
A partir de quinta-feira (12), terá início a negociação das ações da Gol com o chamado direito de preferência. Esse direito ocorre quando uma empresa decide colocar mais ações à venda na Bolsa de Valores. Nesse caso, ela é obrigada a dar preferência de compra dessas novas ações a seus atuais investidores. A ideia é garantir a opção para que os acionistas possam manter o mesmo nível de participação na companhia.
Ações GOLL4 vão se desvalorizar?
De acordo com Wang, a tendência é que agora os papéis da Gol enfrentem uma queda expressiva com o aumento de capital. “Haverá uma desvalorização significativa no valor das ações ao longo do tempo. Amanhã, com o início do direito de preferência, já deve abrir com uma queda relevante”, destaca.
Na avaliação do gestor, há dois motivos para a baixa. O primeiro vem do aumento expressivo da oferta, que tende a reduzir os preços se não houver mudanças na demanda. O segundo ponto envolve os fundamentos da empresa. “Quando você tenta fazer uma conta simples – por exemplo, 1 trilhão de novas ações vezes R$ 1 – chega a um valor de mercado de R$ 1 trilhão, o que obviamente não faz sentido para a Gol, pois é uma quantia muito alta para a situação atual da empresa”, comenta.
Mudança de ticker e lotes de 1 mil ações
Com o início do direito de preferência, a forma de negociação das ações da Gol também mudará: os papéis passarão a ser operados em lotes padrão de 1 mil ações, com novos tickers — GOLL53 para ações ordinárias e GOLL54 para preferenciais
Na opinião de Wang, essa operação toda é complexa para o entendimento da pessoa física. “Como tiveram mais notícias positivas sobre a saída da empresa do Chapter 11 (processo de recuperação judicial nos Estados Unidos), isso acabou fazendo com que a pessoa física não prestasse tanta atenção nos detalhes sobre esse aumento de capital. E esse é um papel muito concentrando na mão de pessoa física. Tem mais de 100 mil CPFs comprados nessa ação”, sinaliza.
Outro problema diz respeito à alavancagem elevada da empresa. Conforme os cálculos do BTG Pactual, mesmo após o processo de reestruturação, a alavancagem da companhia aérea continuará elevada, em 5,4 vezes, considerando a medição realizada pela relação do valor da empresa (EV) sobre o lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda).
Segundo Wang, da AZ Quest, a companhia sai da restruturação com um nível ainda elevado de endividamento. “O problema é que, apesar de todo o processo complexo, a Gol não resolveu de fato a questão que deveria ter sido enfrentada. E mais: ainda existe o risco de uma nova reestruturação de dívida no futuro”, destaca.