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Por que empresas no Vale do Silício indicam rachaduras na economia dos EUA

As big techs desaceleraram as contratações e orientaram os funcionários sobre a necessidade de fazer mais com menos recursos

Por que empresas no Vale do Silício indicam rachaduras na economia dos EUA
Momento de grandes empresas podem apontar rachaduras na economia americana. (Foto: Envato Elements)
  • No Vale do Silício, os lucros das empresas de tecnologia como Google e Apple costumam superar as expectativas, mas executivos disseram que há sinais de alguma desaceleração do segmento
  • Quatro vezes por ano, as maiores empresas de capital aberto divulgam quanto dinheiro estão ganhando – ou perdendo
  • As pessoas ainda estão gastando dinheiro, porém a inflação significa que mais desses recursos estão indo para o combustível e outras necessidades

(Gerrit de Vynck, Rachel Lerman e Caroline O’Donovan) – Nos últimos dias, executivos das maiores empresas de tecnologia, varejo e bens de consumo tentaram abordar questões a respeito da situação da economia, que parece estar cambaleando, à beira de uma recessão.

Não é nada simples. No Vale do Silício, os lucros das empresas de tecnologia como Google e Apple costumam superar as expectativas, mas executivos disseram que há sinais de alguma desaceleração do segmento nos gastos do consumidor. A gigante de bens de consumo Procter & Gamble disse ter a expectativa de um 2023 mais difícil, embora ainda esteja aumentando os preços. A Mastercard disse que as despesas estavam estáveis entre os ricos, mas desaceleravam entre os consumidores de baixa renda.

Enquanto isso, tanto o Walmart quanto a Best Buy alertaram que, quando divulgarem seus resultados neste mês, os números serão piores que o esperado – em grande parte por causa das mudanças nos hábitos dos consumidores.

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“Estamos vendo um forte crescimento”, disse o diretor financeiro da Amazon, Brian Olsavsky. “Mas estamos cientes de que as coisas podem mudar depressa.”

Quatro vezes por ano, as maiores empresas de capital aberto divulgam quanto dinheiro estão ganhando – ou perdendo, além de suas perspectivas futuras. Esses relatórios oferecem um retrato útil para entender como os consumidores estão gastando, além de serem uma métrica importante para prever o desempenho econômico.

Mas, assim como os indicadores econômicos do governo americano divulgados na semana passada, inclusive com uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) e um ligeiro aumento nos gastos do consumidor, os lucros das empresas estão mostrando que a economia dos Estados Unidos está em apuros.

As pessoas ainda estão gastando dinheiro, porém a inflação significa que mais desses recursos estão indo para o combustível e outras necessidades e menos para categorias como roupas e eletrônicos. A taxa de desemprego continua baixa, mas algumas empresas estão pisando no freio nas contratações e outras estão começando a demitir pessoas sem qualquer reserva.

O Federal Reserve (Fed) elevou as taxas de juros mais uma vez na semana passada em uma tentativa de tornar mais difícil para as pessoas solicitar novos empréstimos e continuarem gastando, algo que tem como objetivo desacelerar a inflação e estabilizar a economia. Mas é um equilíbrio frágil, pois algumas empresas já estão informando sinais de alerta.

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“Conforme a alta inflação continua e o sentimento do consumidor se deteriora, a demanda do consumidor no setor de eletrônicos tem se atenuado”, disse o CEO da Best Buy, Corie Barry, em um comunicado na última quarta-feira, ecoando comentários recentes do CEO do Walmart, Doug McMillon, de que os preços de alimentos e dos combustíveis estão prejudicando a capacidade das pessoas de comprar roupas e outros bens.

Essas dinâmicas sugerem que os americanos estão começando a ficar cautelosos com o que gastam seu dinheiro.

Thomas Combs, pequeno empresário, 52 anos, que mora em Dallas, disse ter “mudado completamente” a forma como gasta sua renda, inclusive cortando alguns itens como café gourmet e sorvete. Ele disse que consertar seu carro também ficou mais caro, e que está ciente do quanto seria difícil trocar de carro ou mudar para uma nova casa.

“Não gosto de ver as corporações tendo lucros recordes nos últimos trimestres e depois serem informadas de problemas na cadeia de suprimentos, ou nas refinarias, ou o que quer que seja para usarem como justificativa dos preços mais altos ao consumidor”, disse Combs. “Você se torna pessimista, mas percebe que precisa seguir em frente se quiser sobreviver nos EUA de hoje.”

As maiores empresas de tecnologia divulgaram números um pouco menos pessimistas do que Wall Street temia, e os preços das ações de Apple, Amazon, Google e Microsoft subiram depois que seus resultados foram divulgados. Associados aos grandes lucros das empresas de petróleo por causa da disparada dos preços da gasolina, os resultados ajudaram a levar o S&P 500, índice com os ativos das maiores corporações, ao seu melhor mês desde novembro de 2020.

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“As pessoas estavam nervosas, era como se uma bomba fosse explodir a qualquer momento, mas isso nunca aconteceu”, disse Tom Essaye, presidente da Sevens Report Research, a respeito dos lucros das empresas de tecnologia. “Por ora, nós meio que nos esquivamos de uma bala.”

Mas isso não impediu que os executivos das empresas de tecnologia manifestassem sérias preocupações.

Acessórios da Apple, como relógios e dispositivos para a casa, registraram vendas menores devido a problemas de abastecimento e ao “ambiente macroeconômico”, disse o CEO Tim Cook na quinta-feira. Contudo, ele lembrou que “não era economista”, e chamou atenção para o fato de as vendas do todo poderoso iPhone seguirem firmes e fortes.

Os clientes da Apple tendem a ser de renda média e alta e a trocar de dispositivo com maior rapidez após lançamentos, disse a analista de tecnologia do consumidor Carolina Milanesi, o que significa que a empresa tem menos probabilidade de ser impactada fortemente pela economia incerta.

“A principal mensagem é que se a Apple começar a sentir o abrandamento [do consumo], isso significa uma notícia ruim de verdade para todos os demais”, disse ela. “O que poderia indicar que o restante do mercado iria se retrair mais.”

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Na terça-feira, a diretora financeira do Google, Ruth Porat, disse que “alguns anunciantes” recuaram na compra do Google ads, mas seus dois maiores grupos de clientes – viagens e varejo – ainda apresentavam crescimento. “Usamos o termo incerteza porque achamos que essa é a melhor maneira de caracterizar o que estamos vendo”, disse Ruth.

A Amazon divulgou resultados que superaram as expectativas e a empresa disse que a demanda do consumidor ainda era forte, mas a empresa também ressaltou que seria mais cuidadosa com as contratações. (O fundador da Amazon, Jeff Bezos, é dono do Washington Post.)

Depois de informar que havia extrapolado nas contratações durante a pandemia no último trimestre, a empresa disse na quinta-feira que o problema com o excesso de funcionários foi resolvido gradualmente até maio. De olho em 2023, Olsavsky disse que a empresa planeja continuar a limitar a expansão de armazéns e logística para “alinhá-la melhor com a demanda esperada dos clientes”.

Não há uma queda como um todo nos gastos do consumidor, disse Brian Yarbrough, analista da Edward Jones, mas, sim, resultados ambivalentes em diferentes áreas. No Walmart, onde muitos americanos de baixa renda compram, os consumidores estão priorizando em seu orçamento itens essenciais no lugar dos supérfluos, e o varejista está se preparando para isso.

As empresas maiores divulgaram uma mistura de resultados positivos e negativos. A Pfizer superou as expectativas por causa de sua vacina contra o coronavírus e do medicamento para tratamento da covid-19, o Paxlovid. A Southwest Airlines disse que a demanda estava forte e a receita seria maior no terceiro trimestre do que antes até mesmo da pandemia.

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As ações da UPS caíram depois que a empresa de entregas não cumpriu as expectativas da quantidade de encomendas que transportaria no trimestre. As da General Motors também caíram e a culpa recaiu sobre a escassez de peças que impediu a empresa de vender a quantidade de carros que almejava.

As despesas do consumidor ainda cresceram em junho, mas muito disso ocorreu porque as coisas ficaram mais caras, porém os salários não estão aumentando tão rápido, então as pessoas estão reduzindo suas economias ao fazer suas compras, de acordo com dados divulgados sexta-feira pelo Escritório de Análise Econômica do governo americano (BEA, na sigla em inglês). Algumas categorias, como roupas e eletrônicos, estão em baixa, e as pessoas estão usando uma parcela maior de seus recursos com moradia, comida e combustível.

As maiores empresas dos EUA, vendendo bilhões de dólares em bens e serviços a cada semana, têm uma visão perspicaz de como a economia está se saindo. Algumas delas estão dizendo abertamente que os consumidores cortaram despesas por causa dos preços altos e das preocupações com a economia.

A Shopify, empresa canadense de comércio eletrônico que se tornou uma potência no valor de US$ 170 bilhões durante a pandemia, mas viu o crescimento despencar à medida que as pessoas voltavam a fazer compras em lojas físicas, disse na terça-feira que iria demitir 10% de seus funcionários.

A empresa tinha apostado no aumento das compras online, já que as pessoas se viram obrigadas a ficar em casa para evitar o contágio por covid-19, o que mudaria radicalmente a forma como o setor de varejo funciona, entretanto agora estava percebendo que o crescimento do comércio eletrônico voltou aos níveis normais, disse o CEO Tobi Lütke em um texto para o blog da empresa.

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“Agora está claro que a aposta não valeu a pena”, disse Lütke.

Outras grandes empresas de tecnologia também desaceleraram as contratações e disseram aos funcionários para esperar fazer mais com menos recursos. O CEO do Google, Sundar Pichai, disse aos trabalhadores no início de julho que os “dias melhores” tinham acabado. Na teleconferência pública trimestral da empresa na semana passada, Pichai disse que a desaceleração das contratações seria mais “evidente” em 2023, sinalizando que a empresa acredita que uma retração econômica pode durar mais do que apenas alguns meses.

A Amazon talvez também reduza o número de contratações em seus departamentos de tecnologia e engenharia se ocorrer uma retração econômica significativa. “Continuaremos a aumentar o número de funcionários”, disse Olsavsky, “mas estamos muito atentos às condições econômicas que podem surgir”.

Alguns americanos estão dizendo que isso é um novo normal. Shannon Villa, 32 anos, trabalha em um armazém da Amazon e vive em Birmingham, no Alabama, e reconhece estar sendo cauteloso com os gastos. Ele tem três filhos e uma hipoteca, mas ainda conseguiu fazer algumas viagens recentemente.

“Não consigo controlar o preço dos ovos ou do leite. [Se] ele sobe, não posso fazer nada. Ainda preciso disso para a família”, disse ele por mensagem. “A gasolina sobe, mas eu ainda preciso dela. Não posso me dar ao luxo de reclamar. Só me resta fazer ajustes.”

Tradução Romina Cácia

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