O Ibovespa hoje fechou em alta pela 11ª sessão seguida. Foto: Adobe Stock
O Ibovespafechou a quarta-feira (5) em alta pela 11ª sessão seguida, empatando com a série de onze ganhos observada na primeira quinzena de julho de 2024. No pregão, o principal índice da B3 alcançou, pela primeira vez, o patamar histórico de 153 mil pontos e bateu o seu oitavo recorde seguido de encerramento. No ano, o indicador já sobe 27,44%.
Analistas apontam que a valorização está relacionada ao redirecionamento do capital de investidores americanos, que vêm migrando recursos dos Estados Unidos para outros mercados — movimento que ganhou força com o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) em setembro. No Brasil, nos primeiros dez meses do ano, o fluxo de capital externo na B3 ficou positivo em R$ 25,286 bilhões.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o mercado começou a questionar em 2025 a ideia do excepcionalismo americano, reavendo a alocação nos EUA, especialmente pelos preços elevados das ações no país e pelos riscos com a posse de Donald Trump. “Isso deu uma chacoalhada na economia e os investidores globais buscaram realocar capital de forma global, com o Brasil se beneficiando desse cenário”, afirma.
Junto a esse movimento, a expectativa pelo início de queda da Selic também tem animado investidores. Entre os institucionais, outubro foi o primeiro mês de 2025 a apresentar resultado positivo na Bolsa, com saldo de R$ 285,306 milhões. Ao longo do ano, a categoria registrou retirada de capital da B3.
Nesta quarta-feira (5), o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 15%, conforme esperado pelos analistas. O comunicado foi lido como duro pelo mercado, mas trouxe uma frase adicional em relação aos textos anteriores, indicando que a inflação e as medidas subjacentes “apresentaram algum arrefecimento”.
É hora de realizar lucros na Bolsa?
Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets Brasil, diz que a indicação principal, em momentos como esse, é realizar parte do lucro e reinvestir o ganho obtido, como forma de aumentar os retornos no médio e longo prazo. “A disciplina de manter o foco no investimento de qualidade, com diversificação e atenção a setores com fundamentos sólidos, é a recomendação para aproveitar esse ciclo positivo que o mercado vive”, diz.
Segundo ele, preservar parte dos investimentos na Bolsa pode ajudar o investidor a aproveitar possíveis novas altas das ações. Já os ajustes táticos, como a venda de uma parcela dos papéis, devem ser usados para realizar parte dos lucros sem abrir mão do crescimento da carteira.
Analistas pontuam, porém, que a decisão deve considerar o perfil do investidor, as ações que estão em seu portfólio e os fundamentos de cada empresa. “Faz sentido vender quando a companhia perde fundamentos ou quando o papel se valoriza tanto que passa a ter um peso excessivo na carteira”, afirma Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter.
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Ele explica que os ajustes ajudam a manter o equilíbrio da carteira e evitam a concentração excessiva em uma única empresa. No entanto, ressalta que o fato de o mercado estar em alta não significa, necessariamente, que seja hora de “colocar o lucro no bolso”. “Realizar ganhos é importante, sim, mas isso deve ser feito dentro de um plano, com base em critérios claros e alinhado à estratégia de longo prazo”, acrescenta.
Tales Barros, líder de renda varável da W1, avalia que, após bater máximas históricas, o Ibovespa pode passar por uma correção no curto prazo. O investidor que pense em horizontes mais longos, porém, deve seguir posicionado em ações. “Quem tem uma visão fundamentalista tem mais chances de manter a visão mais otimista e segurar a posição pelo menos até o início efetivo do ciclo de corte de juros no Brasil”, diz.
Para Alves, da Avenue, o desempenho da Bolsa local depende do sentimento do investidor gringo. “Se esse investidor mudar de opinião em relação ao Brasil, o mercado pode iniciar um movimento de realização. A alta atual é muito mais pautada no setor externo, e os vetores de risco também são associados a uma mudança de humor dos investidores estrangeiros”, destaca.
Outro fator em jogo são as eleições de 2026. Como mostramos nesta reportagem, a Faria Lima encara que o próximo ano pode reservar surpresas tanto para os candidatos de direita quanto para os de esquerda. O chamado “trade eleitoral” — isto é, a definição de posições com base em uma possível mudança de governo — ainda não está tão claro.
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De acordo com Danilo Coelho, especialista em investimentos e MBA em Finanças pela Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças (FBNF), a Bolsa brasileira tende a enfrentar maior volatilidade assim que os principais nomes dos candidatos forem confirmados.
“Há uma expectativa de um ‘rali de fim de ano’, que costuma dar um fôlego extra ao mercado e pode ajudar o Ibovespa. Esse movimento pode se estender até o começo de 2026, mas, ao longo do próximo ano, o ambiente deve ficar mais instável com o início das discussões eleitorais e o anúncio dos pré-candidatos”, explica Coelho.