Começar o ano bem para terminar o ano bem. Esta é uma máxima que prevaleceu na Bolsa brasileira desde o início do Ibovespa em 1969: de lá para cá, nas 33 vezes que o índice teve uma performance positiva em janeiro, também conseguiu encerrar o ano com valorização. A exceção só aconteceu uma vez, em 2001, de acordo com dados levantados pela Economatica.
Essa “tradição” poderia indicar que investidores brasileiros terão mais a ganhar com o investimento em ações ao longo de 2025. Afinal, em janeiro, o mercado viveu um período muito mais positivo do que aquele projetado por bancos e casas de investimento. O Ibovespa subiu 4,86%, a primeira alta mensal desde agosto. O dólar teve desvalorização de 5,85% ante o real, a maior desde março de 2022.
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Mas especialistas ainda estão céticos com a capacidade de continuidade desse movimento positivo. A dúvida que paira é se o bom desempenho no primeiro mês do ano é o início de um recuperação maior ou apenas um “voo de galinha”. A princípio, ao menos na avaliação dos bancos de investimento, a segunda opção tem mais endosso.
Para a Ágora Investimentos, ainda é cedo para interpretar a melhora dos parâmetros técnicos como algo estrutural. “Na prática, os juros futuros ainda seguem significativamente acima da média histórica, as expectativas de inflação continuam desancoradas e não temos maior visibilidade em relação ao momento em que a taxa Selic voltará a cair – não temos sequer a clareza de qual será o pico da nossa taxa básica”, diz o relatório da corretora.
O boletim Focus desta segunda-feira (3) trouxe um aumento na projeção de inflação para 2025 pela 16ª semana consecutiva. A mediana das estimativas do mercado aponta para um câmbio a R$ 6 e uma Selic de 15% no final do ano.
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Na avaliação do BTG Pactual, o desempenho sólido do mercado brasileiro em janeiro se deve a um cenário externo mais benigno. Com o Congresso em recesso parlamentar e a discussão fiscal paralisada, as atenções se voltaram ao exterior, onde Donald Trump deu início a seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. O início de mandato menos agressivo do que o esperado levou a uma reversão do movimento de abertura de curva de juros – nos EUA e, consequentemente, no Brasil –, o que vinha acontecendo desde a vitória do republicano em novembro.
Mas o verdadeiro “vilão” por trás depreciação das ações e do câmbio brasileiro vista na reta final de 2024 é outro. E não depende tanto dos Estados Unidos e de Trump.
Passado este primeiro momento, de atenções no exterior, a expectativa do BTG é de que o cenário fiscal brasileiro volte a fazer pressão no mercado, especialmente com a retomada das atividades em Brasília. “Os ativos de risco brasileiros se deterioraram acentuadamente nos últimos meses, uma vez que a confiança dos investidores na sustentabilidade da estrutura fiscal e na trajetória da dívida do País atingiu os menores níveis de vários anos. Sem medidas estruturais mais significativas para reduzir o ritmo de expansão da dívida, o que parece altamente improvável, não esperamos uma recuperação sustentada das ações brasileiras“, diz o banco em relatório.
Esta também é a avaliação do Itaú BBA. Sem mudanças relevantes nas variáveis macroeconômicas, a alta de quase 5% no Ibovespa em janeiro não é a primeira pernada de um movimento de recuperação estrutural. “Em nossa opinião, janeiro foi apenas isto: um mês de correção“, diz Victor Nadal em relatório.
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O CFA do BBA destaca que o cenário para Brasil ainda é de deterioração das expectativas, e que o fiscal deve continuar sendo o grande foco dos investidores de renda variável, ofuscando praticamente todo o debate a respeito da dinâmica das empresas. Embora uma recuperação estrutural esteja fora de radar, o especialista não descarta novos repiques no Ibovespa; como aconteceu em janeiro. “Reconhecemos que movimentos pontuais de alta das ações em espaços curtos de tempo podem ocorrer outras vezes ao longo do ano. Afinal, os atuais níveis de valuation estão tão depreciados que até melhoras aparentemente pouco relevantes de cenário podem levar a esticadas expressivas nos preços das ações”.
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