

A temporada de balanços dos grandes bancos chegou ao fim e o mercado já elegeu o seu favorito para 2025: Itaú (ITUB3; ITUB4). A escolha não ocorre somente pelo fato de o ‘laranjinha’ ter o maior lucro líquido entre os seus concorrentes, visto que reportou ganhos de R$ 10,88 bilhões no quarto trimestre de 2024, mas porque, na avaliação de especialistas, garante mais segurança para o investidor devido ao controle dos indicadores de inadimplência.
O segundo preferido dos analistas ouvidos pelo E-Investidor é o Banco do Brasil (BBAS3), classificado também como uma boa oportunidade de compra, pois está com rentabilidade elevada e bom pagamento de dividendos. Já Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) podem encarar um ano complicado devido ao cenário macroeconômico. Mas, afinal, o que está fazendo o Itaú estar um passo à frente do Banco do Brasil e mais 10 à frente de Santander e Bradesco? E o que os seus concorrentes estão fazendo para reduzir essa distância? Entenda o que esperar dos bancos ao longo de 2025.
Banco do Brasil será o maior pagador dividendos
De modo geral, os analistas estão otimistas com os dividendos do Banco do Brasil. Milton Rabelo, analista da VG Research, estima que o rendimento em dividendos do BB tende a ser de 11% em 2025. A Levante prevê um rendimento em proventos de 11,1%. Já a Monte Bravo projeta um retorno de 9,5% do valor de mercado do Banco do Brasil em 2025. A XP Investimentos calcula que um rendimento em dividendos de 12,9% para o Banco do Brasil, enquanto o BTG estima um provento de 10,9%.
Os números para os proventos do Banco do Brasil são maiores que os dos concorrentes, como o Itaú. A XP espera que o dividend yield do Itaú fique em 9.6%. O BTG aposta em um rendimento em dividendos de 8,1% para o Itaú. A Levante projeta um pagamento de 7,8%, a Monte Bravo estima outro de 9% para o Itaú e a VG Research calcula que o bancão deve pagar 11% do seu valor de mercado. Ou seja, em estimativas de dividendos para este ano, o Banco do Brasil é melhor que o Itaú.
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Esse quesito foi um ponto destacado pelo vice-presidente financeiro do banco (CFO), Marco Geovanne Tobias, em recente entrevista coletiva. Tobias disse que o Banco do Brasil é “muito melhor que o Itaú” por conta da entrega de dividendos e da capacidade de atuar em mercados nos quais os pares privados não trabalham, como o agronegócio. O E-Investidor encomendou o levantamento para confirmar se isso de fato aconteceu nos últimos anos — veja nesta reportagem.
Por que o Itaú é favorito se não será o maior pagador de dividendos?
Mas a distribuição de dividendos não é o verdadeiro motivo para a preferência dos analistas pelas ações do Itaú. Milton Rabelo, da VG Research, diz que o Itaú apresenta uma ótima dinâmica de resultados, elevada rentabilidade, alto nível de capitalização, além de inadimplência sob controle, algo que não acontece de forma tão clara no Banco do Brasil.
A inadimplência do banco estatal encerrou o quarto trimestre de 2024 em 3,3%, alta de 0,4 ponto porcentual na comparação com o mesmo período do ano passado. O principal fator que puxou o indicador para cima veio do agronegócio. No fim do quarto trimestre de 2024, a inadimplência do agronegócio da empresa era de 2,45%, alta de 1,49 ponto porcentual na comparação com a inadimplência de 0,96% no quarto trimestre de 2023.
Para analistas do mercado financeiro, os números são preocupantes. A XP Investimentos fala em deterioração dos resultados futuros. Eles relatam que o BB reduziu as projeções para o crescimento da carteira de crédito e registrou uma queda significativa nos índices de capital, e abriu espaço para reduzir o payout (porcentual do lucro a ser pago em dividendos).
Segundo os analistas do Citi, o Banco do Brasil possui “desafios relevantes” à frente, considerando os impactos da Resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o patrimônio líquido. Conforme o BB, os impactos podem chegar a 5,3%, sendo 4,6% devido ao aumento das perdas esperadas com instrumentos financeiros e 0,7% com empresas controladas. “De acordo com nosso cálculo, o CET1 (indicador de liquidez do banco) deve ser impactado negativamente em 0,75 ponto porcentual (integral), ou aproximadamente 0,2 ponto porcentual no primeiro ano”, observam os analistas Gustavo Schroden, Arnon Shirazi e Brian Flores, em relatório.
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No caso do Itaú, os analistas enxergam que a inadimplência está controlada, com o indicador em 2,4% no fim do quarto trimestre de 2024, uma queda de 0,4 ponto porcentual na comparação com o quarto trimestre de 2023. Conforme os analistas do BTG, o banco continua entregando resultados previsíveis e sem grandes surpresas para o investidor, o que não aconteceu no Banco do Brasil. Eles comentam que o banco privado teve um ano muito forte em 2024, com um balanço patrimonial robusto e provavelmente está em sua melhor forma em termos de portfólio de empréstimos, qualidade de ativos e capital.
“O banco está em boas mãos sob a liderança de Milton Maluhy e parece muito bem preparado para qualquer cenário (seja adverso ou otimista). Se o mercado melhorar, ele pode pisar fundo no acelerador rapidamente. E se o mercado piorar, acreditamos que ele está bem posicionado para defender seus resultados e lucratividade com uma grande margem de segurança”, argumentam Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, que assinam o relatório do BTG.
Bruno Benassi, analista de ativos da Monte Bravo, também comenta que prefere o Itaú, pois avalia que o banco privado tende a ter uma rentabilidade, medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês), maior que a da empresa estatal. Esse ponto permitiu ao ‘laranjinha’ elevar o seu porcentual do lucro do Itaú pago em dividendos no balanço de 2023 e a manter esse porcentual em 2024. “Já o BB, além de ter um ROE menor, que estimamos que caia em 2025, tem um índice de capital bem menos confortável, o que fez o banco diminuir o payout de 45% para entre 45% e 40%”, diz Benassi.
Santander e Bradesco terão ano complicado com projeções conservadoras?
Enquanto o Banco do Brasil e o Itaú são recomendados pelo mercado e disputam o primeiro lugar de preferência, Santander e Bradesco estão em situações diferentes. Os bancos estão em recuperação, com o Santander um pouco mais adiante devido à rentabilidade mais elevada. As operações do banco espanhol no Brasil tiveram um ROE de 17,6%, enquanto o do Bradesco foi de 12,7%.
Ainda assim, os analistas comentam que 2025 tende a ser um ano difícil para Santander e Bradesco, devido ao cenário macroeconômico adverso, com Selic elevada e inflação nas alturas. Isso pode ser um ambiente propício para a proliferação da inadimplência, o que fez todos os bancos divulgarem projeções (guidances) conservadoras. Essa é uma das teses defendidas pelos analistas do UBS BB, que enxergam na alta da Selic um fator para a desaceleração dos resultados do Santander.
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“No último trimestre, a margem com o mercado do Santander caiu 39% impactada por uma taxa Selic mais alta. Esse é um dos fatores para mantermos nossa recomendação neutra para as operações do banco espanhol no Brasil”, explicam Thiago Batista, Olavo Arthuzo e Beatriz Shinye, que assinam o relatório do UBS BB.
Esses mesmos impactos devem ser sentidos no Bradesco, que tem uma rentabilidade ainda menor. De modo geral, o guidance conservador não será ruim para Itaú e Banco do Brasil, que estão em uma boa situação. Já para Santander e Bradesco, que estão em recuperação, a notícia não é positiva, visto que ambas as empresas precisariam crescer em uma proporção elevada para superar os números atuais.
Desse modo, o crescimento de Santander e Bradesco deve ficar para depois, excluindo os dois bancos da lista dos favoritos. O caminho fica aberto para os investidores de Banco do Brasil e Itaú, com o BB com o maior dividendo, mas com riscos devido à inadimplência do agronegócio. Já o Itaú terá um dividendo um pouco menor, mas com mais segurança por resultados previsíveis. Essa é a palavra que faz o bancão ser o preferido entre os quatro.
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