O Itaú(ITUB4) pode pagar entre R$ 12,5 bilhões e R$ 42,6 bilhões em dividendos no acumulado de 2025, segundo projeções de cinco corretoras ouvidas pelo E-Investidor. O montante real, que será divulgado no balanço do quarto trimestre, no começo de 2026, deve refletir ganhos de eficiência e avanços em tecnologia do maior banco privado do País. No geral, como há uma variação grande nas projeções, os analistas apontam que a indicação de compra ou venda do papel do Itaú pode variar conforme o perfil de cada investidor.
As estimativas díspares para os proventos da empresa ocorrem devido à diferença entre os dividendos obrigatórios (ordinários) e os extraordinários. A Ágora Investimentos é detentora do cenário mais otimista, com os proventos do Itaú na faixa dos R$ 42,6 bilhões. Para o analista Renato Chanes, o banco deve reportar um lucro líquido de R$ 47,419 bilhões em 2025, pagando 91% desse valor em dividendos. Ou seja, na visão da Ágora, o Itaú deve pagar o dividendo extraordinário e superar o payout mínimo do banco, que é de 30%.
Já a Terra Investimentos tem um cenário pessimista e um otimista. No pessimista, ela vê a distribuição de R$ 12,5 bilhões em dividendos, a mais baixa entre todas as análises consultadas pela reportagem. Já na visão otimista, a Terra projeta que, com um lucro líquido de R$ 50 bilhões em 2025, o Itaú deve distribuir aproximadamente 30% em dividendos ordinários (R$ 15 bilhões), além de um dividendo extraordinário de R$ 15 bilhões, levando o total estimado para o ano a R$ 30 bilhões. Isso seria possível, diz a Terra, considerando o excesso de capital regulatório, a disciplina de alocação e o histórico recente de pagamentos adicionais.
“Esse patamar reforça a capacidade do Itaú de manter um payout expandido e, ao mesmo tempo, sustentar crescimento em carteira de crédito e investimentos em digitalização, em linha com as metas de eficiência e retorno apresentadas no Itaú Day”, explica o analista Régis Chinchila, da Terra.
O especialista diz que em um cenário mais conservador, o Itaú poderia adotar somente o cumprimento do dividendo obrigatório previsto em estatuto, que corresponde a 25% do lucro líquido. No entanto, o especialista avalia que esse cenário é pouco provável de se concretizar, pois o próprio CEO da companhia, Milton Maluhy Filho, reitera que a empresa deve pagar os 30% do lucro em dividendos e que existem grandes chances dos dividendos extraordinários se concretizarem.
Segundo o CEO do Itaú, a companhia está atenta a vários riscos do mercado neste ano, como os do índice de Basileia – que mede quanto do capital o banco retém ponderado pelo risco existente sobre seus ativos.
“Faremos distribuição de um dividendo adicional no início do próximo ano. Esperamos conseguir evoluir no valor do dividendo, mas ainda estamos em setembro. Ou seja, tem um ano ainda para concluir, mas as projeções são muito positivas”, conclui o executivo.
Atualmente, o Itaú está com seu Índice de Basileia III, conhecido como o capital principal da companhia, em 13,1%. O Banco Central estabelece que as instituições financeiras devem manter um Índice de Basileia entre 10,5% e 50% para serem consideradas saudáveis.
Gabriel Uarian, analista da Cultura Capital, explica que os dividendos extraordinários são dados como certos por causa desse excesso de capital. Ele calcula um depósito de R$ 18,48 bilhões em dividendos extraordinários e mais R$ 13,86 bilhões em dividendos ordinários. Sendo assim, o banco pagaria R$ 32,34 bilhões em dividendos, ou R$ 3,33 por ação, com um dividend yield de 8,7%.
Ainda assim, o investidor deve se lembrar que tudo é possível. Por isso, além da Terra, a Cultura Capital também formulou um cenário pessimista. Veja na tabela a seguir todas as estimativas das corretoras consultadas pela reportagem.
O que esperar do Itaú no futuro?
Essa quantia bilionária de dividendos deve ser reportada em meio à transformação digital pela qual a instituição vem passando. A empresa deve procurar novas opções de crescimento e ganhos devido ao avanço tecnológico, como o segmento de baixa renda. A ideia do Itaú é obter ganhos de eficiência com o uso da tecnologia e expandir sua atuação nesse público.
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A companhia quer elevar o atendimento totalmente online de 15% para 75% em dois ou três anos no segmento do varejo. Para isso, segundo André Rodrigues, head da área de negócios com foco em pessoas físicas, o banco tende a abdicar do atendimento primário via agências bancárias para se basear em modelos digitais totalmente remotos.
“Queremos acelerar a saída desse modelo tradicional, ao mesmo tempo que a gente tem que ressignificar a presença nichada e regional, inclusive no agronegócio. Então, queremos um verdadeiro banco digital para que a entrada nesses meios seja de forma ágil com uma integração funcional”, disse Rodrigues, durante o Investor Day do Itaú.
Chinchila, da Terra, diz que embora a meta final seja de longo prazo, avanços já perceptíveis na redução de custos e na ampliação da satisfação do cliente devem ser incorporados aos resultados ao longo de 2025. Para ele, a evolução, somada à consolidação do uso da inteligência artificial em crédito e atendimento, tende a melhorar margens operacionais.
“O mercado deve reagir positivamente à percepção de ganhos concretos de produtividade e eficiência, o que pode sustentar movimentos de valorização adicional para a ação ITUB4 no curto prazo”, afirma o analista.
Já Uarian, da Cultura Capital, espera avanços concretos com esse plano, como redução de custos (a relação custo sobre receita já caiu para 41% em 2024) e melhorias na experiência do cliente, com alerta antifraude e investimentos mais personalizados. Segundo ele, se o Itaú entregar resultados, como mais clientes digitais e eficiência operacional, o papel ITUB4 chegar a até R$ 43, uma alta de 13,6% sobre os R$ 37,85 do fechamento de terça-feira (9).
“No entanto, se o cenário macroeconômico se deteriorar, com juros altos ou menor crescimento, o mercado pode ficar mais receoso, limitando a valorização. É o momento de mostrar que a execução está afiada”, salienta Uarian.
Ação do Itaú está no preço aceitável
Em meio a esses pontos, os analistas avaliam que o papel não está caro, mas também não pode ser considerado barato. O consenso é que o ativo está sendo negociado a um preço aceitável. Os analistas da XP dizem que a companhia é negociada a um Preço sobre Lucro (P/L) muito acima dos pares, visto que o Itaú é negociado a 8,2 vezes. O segundo banco mais caro é o Santander, negociado a 5,9 vezes. A corretora, no entanto, diz que mesmo com esse preço acima, a compra do papel se justifica pela solidez e os dividendos do Itaú.
“Vemos ainda uma rentabilidade, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês), estruturalmente mais alta, além de forte rentabilidade em todas as linhas de negócios (varejo, atacado, seguros), sólidos níveis de eficiência; e um histórico consistente em alocação de capital”, argumentam Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, que assinam o relatório da XP.
Chinchila, da Terra, reforça a tese de que ação do Itaú não está cara. Segundo ele a geração de caixa elevada e perspectiva de crescimento da carteira de crédito reforça a percepção de que ação ITUB4 segue descontada em relação à qualidade e consistência de seus resultados.
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“A empresa tem a meta de dobrar a carteira de crédito até 2030, mas um crescimento acima do esperado da carteira em segmentos estratégicos, como agronegócio, pequenas e médias empresas e o varejo massificado, que diversificam receitas e aumentam market share. Isso pode ser um novo potencial de destravar valor para companhia e o acionista.”
Diante desse cenário, prevalece entre os analistas um tom de otimismo em relação à ação do Itaú. A projeção da Ágora, por exemplo, prevê um rendimento em dividendos de 10,5% em 2025 com os proventos de R$ 42,6 bilhões. O avanço da tecnologia, que deve reduzir os custos, em conluio com atual solidez do modelo de negócio do banco, reforça a visão dos analistas do papel estar em um preço justo. Por isso, eles concluem que esse papel é recomendado apenas ao investidor que procura ganhos consistentes de longo prazo.