Para Caroline Sanchez, analista de ações da corretora Levante, a distribuição dos dividendos do Magalu foi mais simbólica do que uma política de remuneração que realmente veio para ficar. Para ela, o anúncio mostra que a empresa está em uma fase mais saudável, depois de dois anos difíceis para a companhia.
A partir do ciclo de alta na taxa de juros de 2022, a varejista passou a reportar prejuízo. Naquele ano, quando a Selic saiu de 2% para um patamar de dois dígitos, a companhia reportou prejuízo de R$ 499 milhões; em 2023, mais um resultado negativo, de R$ 979,1 milhões. Antes da elevação dos juros, no entanto, a companhia apresentava lucros: R$ 590,7 milhões em 2021 e R$ 391,7 milhões em 2020.
Para retomar o ritmo de lucratividade visto em 2020 e 2021, o Magalu focou em redução de custos e diversificação de receitas. No documento do balanço do quarto trimestre de 2024, a empresa disse que apostou na diversificação de receitas com a compra de Netshoes e Kabum! A varejista passou a operar em linhas financeiras, como a LuizaCred, que chegou a um faturamento de R$ 16 bilhões no quarto trimestre de 2024. No ano passado, a varejista lucrou R$ 448,7 milhões, sendo o fator crucial para a retomada dos dividendos em 2025.
Para 2026, a empresa diz que os acionistas têm direito a receber 15% de seu lucro líquido após a construção de uma reserva legal para contingências. Ou seja, a empresa pode até pagar dividendos, caso tenha uma reserva de emergência construída para suportar momentos difíceis nos próximos trimestres ou anos. “Os proventos serão declarados anualmente e poderão ser distribuídos acima do mínimo obrigatório”, diz a empresa.
No entanto, Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos e sócio da Beginity Capital, aponta que se houver anúncio de pagamento de dividendos do Magazine Luiza no próximo ano, ele será pequeno e tende a ser cada vez mais mitigado. Isso porque a política do Magalu visa reduzir a carga de impostos ao reinvestir os lucros no próprio negócio para trazer mais crescimento, o que mostra que a companhia tende a não pagar dividendo robustamente.
“Portanto, haverá pagamento de dividendos de MGLU3, mas ele será pouco representativo em relação ao retorno total que a empresa pode oferecer no longo prazo. Para investidores que buscam renda recorrente, essa ação pode não ser a mais indicada. Já para quem busca valorização de capital e está disposto a esperar, o potencial é mais relevante”, diz Hulisses Dias.
Selic elevada pode aumentar incerteza sobre o Magazine Luiza
Em entrevista ao E-Investidor, o diretor de Marketplace do Magazine Luiza, Ricardo Garrido, disse que a varejista deve procurar entregar melhorias para as vendas no e-commerce até o fim de 2025. O segmento representou 69% das vendas totais da empresa no primeiro trimestre de 2025.
O objetivo agora é melhorar a dinâmica interna do site para os clientes encontrarem o que procuram com menos fricção para fechar a compra com o recebimento mais rápido possível. O executivo afirma ainda que mesmo com esse plano de melhora e crescimento, a empresa ainda pode encontrar uma pedra em seu caminho: os juros elevados.
Segundo ele, a Selic a 14,75% é um dos fatores que afetam a margem de lucratividade do Magalu. Em meio a esse contexto, o Magazine Luiza teve uma queda de 54,3% no lucro líquido do primeiro trimestre de 2025, que ficou em R$ 12,8 milhões. Vale lembrar que a companhia se manteve no azul devido à reestruturação com a diversificação de receitas, mas apresentou desaceleração devido ao atual ciclo de alta de juros, que começou em agosto de 2024.
A margem líquida, que mede rentabilidade, recuou 0,2 ponto porcentual, para 0,1%. “Não temos um problema de demanda no Brasil, até porque as pessoas têm emprego, então o consumo está aquecido. O problema é o varejista conseguir vender com margem e é nesse ponto no qual a taxa de juros pesa”, diz Garrido.
A Selic no patamar atual possui efeito de redução do consumo no longo prazo devido ao encarecimento do crédito. Desse modo, manter uma margem de lucro elevada é um ponto complicado para a empresa em momentos como esse. Essa é uma das preocupações centrais dos analistas ouvidos pela reportagem.
Isso porque, ao E-Investidor, Garrido disse que a companhia deve retomar o crescimento e melhorar da margem à medida que os juros começarem a arrefecer. Todavia, o mais recente boletim focus mostra que a Selic deve encerrar 2025 e 2026, respectivamente, em 14,75% e 12,50%. O relatório também evidencia que a Selic deve cair para 10,50% em 2027 e recuar para 10% ao ano em 2028. Ou seja, mesmo que o executivo aponte que as coisas devem melhorar, não há perspectiva do mercado para uma queda abrupta dos juros nos próximos três anos, o que pode exigir que a diversificação de receitas da empresa se mostre ainda mais resiliente.
O que esperar da ação do Magazine Luiza em 2025?
Para os analistas do BTG Pactual, a companhia ainda será pressionada por crescimento mais lento do Volume Bruto de Mercadorias (GMV) online, dada sua exposição a categorias altamente cíclicas, como eletrônicos e eletrodomésticos.
“Reconhecemos que taxas de juros mais altas nos próximos trimestres devem pressionar os lucros da empresa, bem como os resultados, mas os últimos trimestres mostraram melhores tendências de lucratividade (e fluxo de caixa livre), sustentando nossa recomendação de compra para lucrar com a alta das ações do Magalu”, dizem Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima, que assinam o relatório do BTG.
Para dividendos, o BTG tem estimativa de rendimento zero. Já no quesito de ganhos com valorização do ativo, o banco calcula que a ação deve encerrar o ano cotada a R$ 14,00, uma possível alta de 43,14% na comparação com o fechamento de segunda-feira (13), quando a ação encerrou o pregão a R$ 9,78.
Hulisses Dias, da Beginity Capital, estima que a ação pode ser atrativa para os investidores que possuem um perfil mais arriscado. Ele calcula um preço-alvo de R$ 15,00 para o fim de 2025, uma alta de 53,37% na comparação com o último fechamento. “Para que esse potencial se concretize, será fundamental que a Magazine Luiza continue expandindo seus resultados operacionais e mantenha uma disciplina rigorosa na alocação de capital”, explica Dias.
De acordo com George Sales, coordenador de mestrado na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), os desafios macroeconômicos e a forte concorrência exigem cautela. Investidores interessados devem considerar seu perfil de risco e horizonte de investimento ao avaliar a inclusão de MGLU3 em suas carteiras. “O ambiente competitivo permanece intenso, com a presença de grandes players internacionais como Amazon, Shopee e Shein, pressionando margens e participação de mercado, elevando o risco para a empresa e a ação”, argumenta.
Caroline Sanchez, da Levante, tem recomendação neutra para a ação MGLU3 devido a toda a conjuntura descrita no texto, com baixa remuneração em dividendos (estimada em 3%) e os riscos macroeconômicos. No momento, a corretora prefere as ações da Vulcabras, que pode retornar um dividend yield de 12% nos próximos 12 meses. No caso do Magazine Luiza, a especialista diz que a empresa é arrojada, por ser um setor mais arriscado com foco no consumo cíclico.
Ou seja, os analistas se dividem entre duas recomendações de compra e duas neutras em um ano que deve ser marcado por juros elevados e forte concorrência. Esse cenário reforça as preocupações com o desempenho da varejista e evidencia que o Magazine Luiza (MGLU3), no momento, não se destaca como pagador de dividendos. Em vez disso, é uma ação voltada para investidores que buscam valorização de capital, ainda que com um perfil de risco mais elevado.