A Marfrig (MRFG3) vai incorporar a totalidade das ações da BRF (BRFS3), em uma operação que poderá consolidar uma das maiores companhias globais do setor de alimentos. (Foto: Adobe Stock)
O Bank of America (BofA) está cauteloso em relação às ações da Marfrig(MRFG3) em meio à fusão com a BRF (BRFS3). As especialistas dizem que não incluíram as estimativas de sinergias pelo fato de o processo estar em uma fase inicial, por isso, elas preferem se manter céticas em relação ao negócio.
A Marfrig e a BRF comunicaram ao mercado na quinta-feira passada (15) a assinatura de um protocolo que prevê a total incorporação das ações da BRF pela Marfrig. Com a transação, a BRF passará a ser uma subsidiária integral da Marfrig, que continuará listada no Novo Mercado da B3.
Segundo o documento, os acionistas da BRF receberão 0,8521 ações ordinárias da Marfrig para cada ação ordinária da BRF detida na data da consumação da incorporação. A fixação da relação de substituição considerou a distribuição de proventos de R$ 3,52 bilhões pela BRF e R$ 2,5 bilhões pela Marfrig, que será deliberada após o pagamento do exercício do direito de retirada por eventuais acionistas dissidentes.
Os acionistas dissidentes da Marfrig poderão fazer jus ao direito de retirada pelo valor do patrimônio líquido por ação de R$ 3,32, tendo em vista as demonstrações financeiras aprovadas em 31 de março. Já para os acionistas dissidentes da BRF, o valor será R$ 19,89 por ação. A equipe do BofA comenta que se 50% o exercerem o direito, a BRF teria que recomprar 231 milhões de ações por R$ 19,89, totalizando R$ 4,6 bilhões, levando potencialmente os dividendosa zero e o índice a 0,841.
“Em um cenário onde o exercício for de 40%, o reembolso seria de R$ 3,68 bilhões, a BRF não pagaria dividendos e a Marfrig pagaria R$ 2,5 bilhões. Nesse caso, o índice passaria para 0,9408. No entanto, acreditamos que um ajuste desproporcional de dividendos não faz sentido econômico”, explicam Isabella Simonato e Julia Zaniolo, que assinam o relatório do BofA.
BofA muda metodologia para avaliar ações de Marfrig e BRF
As analistas do BofA comentam que fizeram algumas mudanças na metodologia de cálculo do preço-alvo da empresa. Antes do anúncio da fusão, a avaliação era feita individualmente entre Marfrig e BRF. Agora, as especialistas estimam com 50% dos números baseados no lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda) das duas empresas e os outros 50% no Fluxo de Caixa Descontado da companhia. Essa metodologia serve para contabilizar a fusão.
“Embora ainda haja partes móveis, assumimos agora os dividendos anunciados e um número diluído de ações para a preço-alvo com base na proporção definida de 0,8521. Não incluímos sinergias de R$ 10 bilhões, enquanto aguardamos maiores esclarecimentos sobre a execução”, dizem Isabella Simonato e Julia Zaniolo.
As analistas explicam que, com base no novo cálculo, elas estipulam que a nova empresa esteja negociada a 6,3 vezes seu valor sobre o Ebitda, enquanto JBS (JBSS3) é negociada a 4,9 vezes, mais barata que a concorrente. Outro ponto seria a liquidez, que fica no nível de 0,85, abaixo do considerado ideal por Simonato e Zaniolo.
“Nosso novo preço-alvo é de R$ 26,50, ante R$ 23 anteriormente. O novo número implica um potencial de valorização de 8%, mas os acionistas da Marfrig (antes da fusão) teriam direito a dividendos de R$ 2,94 por ações – yield (retorno) de 12%”, afirmam as analistas do BofA. A dupla tem recomendação neutra para as ações, pois prefere esperar novos desdobramentos sobre a fusão enquanto o papel é negociado a múltiplos elevados.