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Casas Bahia em crise abre espaço para as ações do Magalu (MGLU3)?

Queda de uma varejista pode ser a ascensão da outra e o mercado observa para onde caminham as ações.

Casas Bahia em crise abre espaço para as ações do Magalu (MGLU3)?
Foto: Divulgação/Magazine Luiza
  • Magalu está em melhor situação do que sua concorrente mais direta
  • Casas Bahia se esforça para implementar uma reestruturação
  • Varejo segue pressionado por condições macroeconômicas

O Magazine Luiza (MGLU3) entrou no radar do investidor por conta da pressão que um de seus principais concorrentes está sofrendo neste momento. Acontece que a Casas Bahia (BHIA3) promoveu um follow-on com o objetivo de captar mais de R$ 1 bilhão, mas obteve pouco mais de R$ 600 milhões.

Com esta captação bem abaixo das expectativas, há quem projete uma recuperação judicial no caminho da varejista e, desta forma, as ações MGLU3 passam a se beneficiar, pois, em tese, a rede da família Trajano seria a substituta natural para ocupar qualquer espaço deixado pela concorrente.

O chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, Pedro Serra, explica que a Magalu também vem passando por um momento delicado, porém é financeiramente mais estável. “Acreditamos que no curto prazo não deve ter um ganho de market share expressivo na Magalu”, diz.

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Isso porque, segundo Serra, não se vê a Casas Bahia perdendo mercado para a Magalu no curto prazo, visto que a competitividade de ambas é semelhante e os níveis de consumo ainda seguem pressionados.

“No longo prazo, porém, caso a Casas Bahia não consiga realizar uma reestruturação eficaz, podemos ver um ganho de share mais significante por parte da Magalu”, destaca.

Ele explica ainda que no momento a situação das duas é complicada. “A vantagem, olhando pelo lado da Magalu, é que a companhia tem uma melhor estrutura de capital e uma melhor expectativa de geração de caixa”.

Então, de acordo com Serra, a ação da Magalu deve conseguir ganhar espaço no caso de uma eventual recuperação judicial da Casas Bahia.

O executivo lembra que a Ativa não cobre Casas Bahia e, por conta disso, não tem conhecimento aprofundado dos números da varejista, mas afirma que a companhia tem realizado movimentos para recuperar a performance, porém, ela está inserida em um setor altamente competitivo e dependente de fatores domésticos favoráveis.

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Em relação à Magalu, ele frisa que esta apresentou um resultado bem fraco no último trimestre em virtude da dificuldade em repassar o DIFAL em seus preços, bem como despesas operacionais crescentes e um setor altamente competitivo.

“Além disso, as despesas operacionais seguem impactando bastante seu resultado líquido. Enxergamos a Magalu com dificuldades financeiras e operacionais de difícil recuperação no curto prazo. Com isso, seguimos pessimistas com a empresa”, frisa.

Para os meses à frente, a Ativa Investimentos visualiza uma maior dificuldade devido a concorrência histórica do setor e altas despesas. “Em um cenário de melhor taxa de juros e uma melhor estrutura de custos, podemos ver a companhia voltando a dar lucro”, declara.

A Ativa tem recomendação neutra para MGLU3.

Entraves operacionais e trimestres desafiadores

Para Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, o setor como um todo passa por dificuldades. “No Magazine Luiza há também entraves operacionais e os últimos trimestres têm sido desafiadores”, diz.

Entretanto, segundo o analista, como ela é a única do setor a se manter mais estável frente aos acontecimentos no Grupo Casas Bahia e Americanas (AMER3), é possível que se veja um fluxo de investidores que desejam se expor aos papéis de varejistas realizando os aportes através de MGLU3.

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O especialista lembra ainda que o e-commerce tem se tornado cada vez mais competitivo, com grandes nomes internacionais operando no Brasil, como Mercado Livre, Amazon, AliExpress, Shopee, entre outros.

Deste modo, a competição pelo mercado online tende a ser mais acirrada e não ficar concentrada na mão de um único player. “Agora, quando tratamos do varejo físico, a Magalu tem maior capacidade de capturar os ganhos do fechamento de lojas proposto no plano de recuperação operacional do Grupo Casas Bahia divulgado no último trimestre”, ressalta Costa.

Ele diz acreditar que a atual gestão buscará outros caminhos para renegociação dos passivos. “Vimos no plano de turnaround algumas propostas no que se refere ao financiamento da empresa e que devem ser implementadas para buscar a solvência.”

Costa elenca que a redução da taxa Selic pode reduzir o custo da dívida da empresa e liberar caixa para amortização das obrigações, e a melhoria na gestão dos estoques pode também liberar montante de recursos alocado no capital de giro.

“Ainda há um caminho a ser percorrido pelas empresas. Após uma onda positiva do e-commerce durante a pandemia, agora, ambas precisam se adaptar ao cenário de maior restrição da renda dos consumidores e maior concorrência no setor”, aponta.

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Em relação ao futuro, ele acredita que as empresas mais eficientes, que conseguirem equilibrar seus custos e entregar experiência de qualidade para o consumidor, serão as vencedoras. “Com as novas dinâmicas do setor, é difícil afirmar quem irá se destacar, mas a Magazine Luiza me parece mais bem posicionada entre as duas”, frisa.

Ainda assim, na avaliação do analista da Toro, uma longa trajetória deve ser percorrida por ambas as companhias nos próximos trimestres para garantir a recuperação das margens e ganhos de share. Deste modo, a corretora segue com recomendação neutra para ambos os papéis.

Essa substituição não seria tão simples

O analista de investimentos Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, destaca que no curto prazo nada mudou para as duas varejistas e que, por enquanto, a Magalu não se beneficia.

Entretanto, se a Casas Bahia apresentar uma piora em suas atividades operacionais, aí a situação muda. Galindo cita, por exemplo, uma possível dificuldade em comprar produtos e montar estoque por parte da ex-Via. “Neste cenário surgiria uma vantagem para a Magalu. Mas isso é para médio e longo prazo”, frisa.

Outro ponto de inflexão que Galindo levanta é que não é tão fácil assim preencher qualquer lacuna que a Casas Bahia venha deixar, pois se trata de um movimento que requer muito dinheiro.

“Substituir a Casas Bahia demanda abrir loja. O footprint [logística e distribuição] espalhado por todo o Brasil custa caro, e a Magalu não está com a situação financeira tão confortável”, afirma. Para ele, a Magalu não tem dinheiro sobrando de maneira que possa se mostrar agressiva o suficiente para ocupar qualquer brecha deixada pela concorrente.

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Galindo reforça que o futuro de ambas dependerá da estrutura de capital. Com a chegada do fim do ano, as vendas tendem a subir e, com isso, as varejistas podem respirar um pouco. “Para frente [futuro], eu não tenho muita opinião formada, mas, o ‘hoje’ está bem ruim. Para quem tem ação, eu recomendo que venda, e quem não tem, deve se manter de fora”, pontua.

Venda de ativos

O CEO da Casas Bahia, Renato Franklin, conversou com jornalistas e disse que a companhia cogita fechar 100 das mais de mil lojas. O executivo disse também que a empresa pretende vender ativos, como seis lojas próprias, numa operação de sale and leaseback, e uma empresa com créditos fiscais de R$ 500 milhões.

Além disso, outros ativos poderão ser alienados, de maneira que o Grupo consiga se capitalizar para, assim, fazer frente às dívidas e implementar seu plano de reestruturação.

Vale lembrar que a Casas Bahia possui R$ 3,6 bilhões em dívida, com boa parte desse passivo a vencer no longo prazo. Para se ter ideia, R$ 1,8 bilhão começam a vencer somente no próximo ano.

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