O que este conteúdo fez por você?
- Reação mista de curto prazo era previsível
- Mercado entende a venda da Marfrig como positiva, dado o efeito positivo na alavancagem da empresa
- Avaliação é negativa para a Minerva, dado o efeito contrário no endividamento e nos dividendos
As ações de Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) passaram a andar diferente na Bolsa depois do anúncio bilionário da compra das plantas da primeira pela segunda. O acordo de R$ 7,5 bilhões envolve 16 unidades de produção na América do Sul, que passarão para o controle da Minerva, que amargou uma queda de 18% no fechamento desta terça-feira (29), contra uma valorização superior a 10,7% da Marfrig.
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A reação mista de curto prazo era previsível, segundo a análise do banco Santander, para quem o mercado entende a venda da Marfrig como positiva, dado o efeito positivo na alavancagem da empresa, porém negativa para a Minerva, dado o efeito contrário no endividamento e no comprometimento nos pagamentos de dividendos.
A MRFG3 é uma empresa que tem uma dívida bruta alta, equivalente a mais de 15 vezes o seu Patrimônio Líquido, de acordo com o seu último balanço, mas tem uma situação mais confortável em relação à BEEF3, que apresenta um relação dívida bruta/PL de quase 34 vezes.
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No fechamento do pregão, Marfrig ganhou R$ 475 milhões em valor de mercado, enquanto a Minerva perdeu R$ 1,16 bilhão, segundo dados fornecidos pelo Trademap.
Numa análise de longo prazo, a operação é avaliada como positiva pelo banco, uma opinião compartilhada por outros agentes do mercado. Confira a seguir o que os bancos e gestoras estão falando sobre o negócio:
BTG enxerga valor estratégico para Minerva
A Minerva pode alcançar a liderança no mercado de carne bovina da América Latina após a aquisição das atividades da Marfrig no setor, apontam analistas do BTG Pactual. “Acreditamos que há um valor estratégico relevante por trás desse acordo para a Minerva”, avaliam Henrique Brustolin e Thiago Duarte.
Segundo eles, a empresa aumentaria sua participação nas exportações de carne bovina da região de aproximadamente 20% para cerca de 34%, além de ampliar em 44% a capacidade de processamento, que chegaria a mais de 42 mil cabeças de gado por dia, “ainda maior do que a capacidade da JBS (JBSS3) no Brasil”, dizem. Em relatório, o BTG classificou a Minerva como “compra” e a Marfrig como “neutra”.
Para o BTG, o negócio coloca a Minerva “em uma posição ainda mais forte” para 2024, quando os Estados Unidos devem reduzir a oferta de gado e carne, enquanto o Brasil deve obter um bom resultado.
Santander avalia a operação como justa
O Santander avaliou o acordo como “uma grande fusão e aquisição ganha-ganha, mas com leituras mistas de curto prazo”. O banco enxergou a transação como justa, “provavelmente satisfazendo as necessidades de Minerva continuar crescendo, mantendo seu DNA de carne vermelha e surfando o ciclo positivo do gado no Brasil, enquanto Marfrig usa a operação para se desalavancar, dado o ciclo descendente da carne bovina nos EUA.
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De acordo com os analistas Rodrigo Almeida e Laura Hirata, para Minerva, o acordo representa “um aumento imediato na alavancagem, mas digerível no curto prazo: razoável valorização, maior exposição à melhoria do ciclo da carne bovina no Brasil, maior capacidade de exportação, mas mais concentração/menos diversificação”.
Em relação à Marfrig, o Santander enxerga um benefício de curto prazo, mas com efeito limitado na alavancagem. Os analistas consideraram o valuation como razoável, mas ponderam sobre maior concentração e menor diversificação e capacidade de exportação.
Goldman Sachs foi pego de surpresa, mas exerga mérito
O Goldman Sachs disse estar surpreso com a magnitude do M&A, mas afirmou que há mérito estratégico na proposta de aquisição de alguns ativos, pois consolidaria a Minerva como um dos maiores produtores de carne bovina do mundo (4,4% de participação global).
“A transação proposta consolida a Minerva como o principal produtor de carne de bovino da América Latina, aumentando potencialmente o seu valor estratégico para os investidores centrados na segurança alimentar”, diz o banco americano. “Acreditamos que parte da tese de investimento da Minerva é apoiada por seu pagamento de dividendos (payout), e esperamos uma reação negativa das ações à notícia”, completa.
Os principais riscos negativos para a visão de investimento da casa incluem: novos embargos de exportação, proibições e/ ou interrupções sanitárias; desaceleração potencial na demanda da China; outras atividades de M&A (após as aquisições de ALC e BPU); volatilidade cambial; volatilidade política e macro em curso na Argentina; e aumento da concorrência para as exportações de carne bovina.
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O Goldman Sachs tem recomendação de compra para as ações da Minerva, com preço-alvo de 12 meses de R$ 15,80 (45% maior que o preço atual), não considerando a transação pendente em seu modelo.
Itaú BBA diz que operação está em linha com estratégia das empresas
Já o Itaú BBA avalia que o acordo entre a Minerva e a Marfrig era inesperado, mas está em linha com as estratégias amplamente conhecidas de ambas as companhias, uma vez que se concentram em seus respectivos nichos. O BBA estima ainda que a Minerva está apostando na recuperação do ciclo pecuário brasileiro, ao passo em que a Marfrig busca acelerar sua desalavancagem, complementando as ofertas de ações recentemente anunciadas nas operações da Marfrig e da BRF.
“No entanto, notamos que alguns investidores poderão observar um aumento do risco de execução no muito curto prazo. Esperamos obter uma visão mais granular sobre o ritmo de recuperação da margem e o fluxo de caixa do acionista (FCFE) do ativo adquirido na teleconferência de hoje”, afirmam Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, em relatório enviado a clientes.
Já as implicações do acordo para a tese de investimento da Marfrig são duplas, segundo o BBA: o impacto imediato da desalavancagem poderia levar a uma menor percepção do risco para o balanço da empresa, diminuindo potencialmente o custo do capital próprio da Marfrig; e seu potencial de conversão de Ebitda em fluxo de caixa do acionista (FCFE) poderá melhorar à medida que produtos de valor agregado ganhem espaço na estrutura da Marfrig.
Assim, os analistas ponderam que o acordo pode desencadear uma reavaliação da Marfrig, em termos de redução de risco do balanço e melhoria do mix. Após a transação, o BBA estima que a alavancagem da companhia diminua de 4,1 vezes para 3,1 vezes.
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“Nesse sentido, vemos o momento do acordo como ideal, dada a rápida deterioração das expectativas de rentabilidade da carne bovina dos EUA devido à desaceleração do ciclo pecuário na região. Acreditamos que a melhoria do balanço patrimonial da Marfrig provavelmente a deixará em melhor posição para enfrentar a turbulência que poderá surgir à medida que a disponibilidade de gado nos EUA diminua nos próximos anos”, comentam Troyano e Tomazetto.
Citi vê repercussão nas margens e receitas como positivas
O Citi, por sua vez, avalia que a decisão da Minerva de adquirir 16 plantas de bovinos e ovinos da Marfrig na América do Sul por R$ 7,5 bilhões aparentemente traz implicações positivas para as duas companhias. De um lado, a Marfrig conseguiria focar melhor em mercados com margens mais elevadas, como o norte-americano e o da BRF. Do outro, a expectativa é de que a Minerva aumente suas vendas em 53% após duplicar sua presença na América do Sul durante um ciclo de melhoria do gado, que deve ter um crescimento do Ebitda nos próximos anos.
“A Marfrig operaria um negócio simplificado de carne bovina na América do Sul, com uma redução estimada de 55% nas vendas do segmento (13% no nível do grupo). Essa mudança permite maior foco no mercado norte-americano de altas margens, onde há maior concentração de processadores de carne bovina, e no negócio de marca brasileira (BRF), que também apresenta margens estruturais mais altas”, comentam os analistas liderados por Sergio Matsumoto e Tiago Harduim, em relatório.
Na avaliação do Citi, a desalavancagem e o perfil de margens mais elevadas deverá impactar positivamente as ações da Marfrig, apesar de a empresa perder os benefícios do ciclo positivo do gado na América do Sul nos próximos anos.
Ativa Investimentos defende cautela
Enquanto isso, a Ativa Investimentos faz ponderações sobre o negócio. “Enxergamos a operação como marginalmente positiva. Porém, precisamos ser cautelosos quanto à situação de crédito da companhia após a transação, bem como acompanhar o processo de desalavancagem e ganhos de rentabilidade com os novos ativos”, disse a equipe de research, que segue com recomendação de compra para as ações da Minerva.