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- Na última terça-feira (2), a agência de classificação de risco Moody's Ratings subiu a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva
- Isto significa que a avaliação pode melhorar nos próximos 18 meses - o que deixa o país mais próximo do cobiçado título de "grau de investimento"
- Independentemente das polêmicas em torno dessa elevação de classificação, o fato é que uma nota de crédito melhor tem efeito positivo sobre o mercado brasileiro. Isto porque deve atrair um maior fluxo estrangeiro para a Bolsa e renda fixa
Na última terça-feira (2), a agência de classificação de risco Moody’s subiu a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva. Isto significa que a avaliação pode melhorar nos próximos 18 meses – o que deixa o País mais próximo do cobiçado título de “grau de investimento“.
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Para quem não está familiarizado, essas “notas de crédito” representam a capacidade de um governo em honrar as suas dívidas. Quanto mais alta a nota, melhor é essa avaliação financeira – e o grau de investimento é o ápice desta análise. Ou seja, é como um “selo” de que aquele país tem uma probabilidade baixíssima de aplicar um calote nos seus títulos, emitidos para financiar a dívida pública.
Essa melhora da avaliação pegou de surpresa o mercado financeiro brasileiro, que passa por uma fase de desconfianças em relação à condução das contas pelos governantes. Incomoda a perspectiva de aumento do gasto público e descumprimento do arcabouço fiscal. Essas incertezas têm impulsionando as projeções para a taxa básica de juros Selic e inflação.
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“A agência de classificação de risco Moody’s desafiou o pessimismo generalizado do mercado em relação à situação fiscal do Brasil”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Investimentos. “A justificativa da Moody’s se baseia, principalmente, no crescimento econômico sustentado desde 2021, na melhoria material do crédito e no fortalecimento da balança comercial. No entanto, a agência classificou a credibilidade do novo arcabouço fiscal como moderada.”
Para Spiess, entretanto, a análise da Moody’s é “controversa”. Ele relembra que desde a crise financeira de 2008, nos Estados Unidos, essas organizações tiveram as credibilidades questionadas. Também podem ser um indicador “tardio” da situação econômica. Ou seja, refletem eventos passados.
“Como essa elevação na nota ocorre em um momento em que há sinais claros de deterioração nas contas públicas, a decisão é ainda mais surpreendente. E o déficit nominal de mais de 9% piorando? E as medidas heterodoxas parafiscais?”, questiona.
Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, acha improvável que o Brasil consiga nova melhora no rating, em função desse desconforto fiscal. “É até factível que as demais agências acabem acompanhando a decisão da Moody’s (esse comportamento de manada é característico), mas diante dos fatos acima, o ‘grau de investimento’, que seria o grande divisor de águas para os mercados, está bem distante”, afirma.
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Já para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, tudo vai depender da condução fiscal nos próximos meses. “De qualquer forma, para os investimentos e para a Bolsa, é sempre bom. O Brasil agora fica a um nível só abaixo do grau de investimento”, afirma. “E grau de investimento significa uma enxurrada de dinheiro vindo para o Brasil.”
Impacto na Bolsa e renda fixa
Independentemente dos questionamentos em torno dessa elevação de classificação, o fato é que uma nota de crédito melhor tem efeito positivo sobre o mercado brasileiro. Isto porque deve atrair um maior fluxo estrangeiro para a Bolsa e renda fixa, já que para o investidor internacional, a melhora da nota de crédito é um atestado de maior confiabilidade da economia brasileira.
Outro efeito é esperado é a redução dos “prêmios” na curva de juros. Em outras palavras, os investidores exigirão menos juros para financiar a dívida pública por meio da compra de títulos públicos do Tesouro Nacional. As taxas desses papéis, portanto, devem ficar menores.
“Espera-se que o mercado reaja de forma otimista, antecipando novos upgrades que podem surgir no futuro. No entanto, é importante lembrar que a elevação da nota de crédito não altera a percepção de risco fiscal, já que o governo ainda enfrenta desafios significativos até o final do ano. Decisões impopulares, como cortes de gastos, provavelmente serão adiadas para depois das eleições municipais”, ressalta Spiess.
Essa também é a análise da Ágora Investimentos. “Aumenta a chance de atração de mais fluxo estrangeiro em nosso mercado, especialmente agora que estamos à apenas um passo de nos tornarmos novamente grau de investimento. Ainda assim, o desconforto com as contas do Governo segue no pano de fundo”, diz a casa, em relatório.
Voo de Galinha?
Nem todos esperam repercussões tão positivas. Fonseca, economista chefe da Reag, acredita que apesar da melhora no curto prazo, os efeitos positivos serão limitados em função da conjuntura fiscal atual. “Apesar da melhor “fotografia” no âmbito do crescimento, o enredo do “filme” já é mais nebuloso”, diz. “O país tem esmorecido no esforço de reformas, e em alguns casos, há sinais de retrocesso.”
Os retrocessos seriam a volta de uma política de turbinar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e truques contábeis para atingir as metas fiscais. “Nesse sentido, a varável chave passou a ser a dinâmica da dívida, que continua a crescer fortemente, e que deverá encerrar o atual mandato ao redor de 85% do PIB (era 71% do PIB ao final de 2022)”, aponta Fonseca.
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O Banco Pine também está reticente em relação à melhora da nota de crédito. “Vemos que a perspectiva positiva da Moody’s deveria ser vista pelo governo como um incentivo para perseverar na tarefa de reequilíbrio das contas públicas – tanto no lado das receitas quanto das despesas – a fim de melhorar a dinâmica da razão dívida/PIB”, diz a instituição financeira, em nota enviada ao E-Investidor.