Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos (Foto: Ágora Investimentos)
Após o S&P 500 encerrar setembro com alta de 3,53% — o melhor desempenho para o mês desde 2010 —, Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, avalia que o índice americano pode enfrentar um cenário mais desafiador daqui para frente.O especialista participou de um bate-papo ao vivo no canal de YouTube do E-Investidor nesta quarta-feira (1º).
Embora reconheça que o S&P 500 tenha tido um alto retorno nos últimos anos, Gardimam enxerga que o mercado americano atualmente está muito dependente das chamadas Sete Magníficas, as principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos: Apple, Microsoft, Amazon, Nvidia, Alphabet, Meta e Tesla.
O economista pontua que os fatores que levaram esses papéis a subirem no passado são cada vez mais “perigosos” agora. Além disso, uma desaceleração da economia americana pode trazer complicações extras aos investidores.
“Não entraria neste momento no S&P 500. Quem já investe pode aproveitar para realizar lucros ou mudar um pouco da posição. Mas eu definitivamente não começaria a investir agora, sobretudo nas Sete Magníficas”, diz Gardimam.
Os sinais da perda de fôlego da economia americana já são visíveis no mercado de trabalho. O setor privado dos Estados Unidos cortou 32 mil empregos em setembro, segundo pesquisa com ajustes sazonais divulgada pela ADP nesta quarta-feira. Analistas consultados pela FactSet estimavam a geração de 50 mil postos de trabalho no mês passado.
Gardimam destaca que, por enquanto, a possibilidade de recessão ainda não figura no radar da maioria dos economistas. Porém, caso essa tese ganhe força, o mercado terá de reprecificar o cenário. Para outubro, a recomendação é acompanhar de perto os indicadores econômicos dos Estados Unidos e os eventuais movimentos das empresas de tecnologia.
O especialista também comentou sobre o shutdown – processo de suspensão das atividades não essenciais do governo federal dos Estados Unidos – que teve início nesta quarta-feira, deixando milhares de funcionários públicos sem salário até que o problema seja resolvido, como explica esta reportagem do Estadão.
A última paralisação do tipo haviaocorrido entre 2018 e 2019, também no governo do então presidente Donald Trump, que exigia verbas para um muro na fronteira com o México. Após 35 dias do mais longo shutdown da história, ele recuou.
Na avaliação do economista-chefe da Ágora, a paralisação tem um “risco menor do que se apregoa”, mas transmite uma visão de desentendimento interno nos Estados Unidos. “No médio e longo prazo, há uma questão aberta de disfunção fiscal dos EUA, com o crescimento da dívida americana”, diz.
E o Brasil?
Em setembro, o Ibovespa renovou diferentes recordes e acumulou uma valorização mensal de 3,31%, ampliando os ganhos em 2025 para 21,96%. Um dos principais vetores dessa alta tem sido o movimento de desvalorização global do dólar. O índice DXY, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de divisas desenvolvidas, acumula queda de 10% no ano, favorecendo o fluxo de capital para mercados emergentes, como o Brasil.
Gardimam explica que, durante ciclos de queda global, o dólar enfrenta desvalorizações significativas. “A moeda americana não cai 10%. Cai 30% até 40%. Se estivermos em um ciclo de desvalorização do DXY, este é apenas o começo. O dólar pode vir mais para baixo e, consequentemente, colocar as moedas emergentes em um ciclo favorável por mais tempo”, avalia.
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Apesar da alta recente, os múltiplos das ações locais seguem atrativos. O Ibovespa negocia a aproximadamente 7,2 vezes o lucro projetado para dois anos, abaixo da média histórica de 10 vezes. O economista-chefe da Ágora pontua que o brasileiro está muito bem-servido internamente, com rendimentos atrativos na renda fixa – diante da Selic a 15% ao ano –, e uma Bolsa considerada barata.