Nvidia prevê até US$ 4 trilhões em investimentos no setor até 2030. (Foto: Adobe Stock)
A Nvidia (NVDC34) frustrou as expectativas do mercado ao projetar receita abaixo do esperado para o próximo trimestre e uma receita com Data Centers menor que o estimado no segundo trimestre fiscal de 2026, dizem analistas consultados pelo E-Investidor nesta quinta-feira (27). As ações da companhia chegaram a cair 3% no after-market na quarta-feira. Por volta das 10h30 desta quinta-feira (28), as ações recuavam 0,30%.
Ontem, a empresa reportou um lucro líquido de US$ 26,42 bilhões no segundo trimestre fiscal de 2026, aumento de 59% no comparativo com o mesmo período do ano anterior. O lucro por ação diluído ajustado foi de US$ 1,05, ante US$ 0,68 no segundo trimestre fiscal de 2025, enquanto analistas consultados pela FactSet previam um resultado de US$ 1,01 por ação. A receita total da companhia somou US$ 46,7 bilhões no trimestre, crescimento de 56% na base anual e ligeiramente acima da expectativa de analistas consultados pela FactSet, que previam US$ 46 bilhões.
Segundo Gerson Brilhante, analista da Levante inside Corp, o mercado ignorou os bons números da última linha do balanço para focar no desempenho pior que o projetado do segmento de data centers, principal motor da companhia. Os datas centers, que incluem chips e sistemas voltados para computação de inteligência artificial, registraram uma receita de US$ 41,1 bilhões, com avanço de 56% em relação ao ano anterior. O resultado ficou abaixo do US$ 41,3 bilhões esperados por analistas.
“Além disso, as políticas comerciais de Donald Trump impactaram diretamente os resultados da Nvidia. As restrições de exportação de chips para a China, impostas pelos EUA, resultaram em uma perda de receita, devido ao excesso de estoque do chip H20, projetado para atender às regulações chinesas”, explica Brilhante.
As restrições de exportação, lembra Brilhante, custaram US$ 2,5 bilhões em vendas, com uma baixa contábil de US$ 4,5 bilhões em estoques do chip H20, voltados ao mercado chinês. Apesar de uma flexibilização parcial, com tributação de 15% sobre vendas na China, a Nvidia viu sua participação no mercado chinês de chips de IA cair de 95% para 50%, segundo o CEO Jensen Huang, devido à pressão de Pequim por soluções locais, como chips da Huawei.
“Essas restrições, combinadas com incertezas regulatórias, continuam sendo um risco significativo para a receita futura da empresa, o que causa pressão sobre as ações da Nvidia”, argumenta Brilhante.
Já Willian Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, diz que essa questão com a China foi intensificada no governo de Donald Trump, mas a companhia já enfrentava restrições a exportações de chips no governo do ex-presidente Joe Biden. “Desse modo, vejo que a Nvidia já vinha sofrendo com essa restrição, o que não seria um ponto a ser muito precificado agora pelo mercado”, argumenta.
Projeções da Nvidia frustram e revelam preocupações
A Nvidia também projetou que seu faturamento no terceiro trimestre fiscal deve ser de US$ 54 bilhões, com uma variação para mais ou para menos de 2% em relação a esse valor. A companhia disse que não considerou dados de embarques do H20 para a China nessa projeção. O H20 é uma versão menos potente dos principais chips de IA da Nvidia.
Enzo Pacheco, analista da Empiricus, argumenta que os números ficaram abaixo. Ele lembra que o Goldman Sachs calculava que a empresa projetaria uma receita de US$ 57 bilhões para o terceiro trimestre fiscal – outro ponto que impacta o papel da companhia após a divulgação do balanço.
“A falta de venda de chips para a China é um grande problema para a Nvidia: analistas do mercado esperavam uma retomada nas vendas no próximo trimestre justamente por causa dos chips enviados para o país asiático. Ainda assim, vejo que a tese de IA da empresa segue intacta após a companhia projetar investimentos de US$ 3 a US$ 4 trilhões no segmento até 2030”, explica a empresa.
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Na visão da XP Investimentos, o mercado esperava projeções mais robustas e surpreendentes como a empresa costumava fazer, o que gerou preocupações com os negócios de Inteligência Artificial da Nvidia. “A baixa magnitude das surpresas positivas nos guidances gerou um aumento nas preocupações de que o ritmo de investimento em inteligência artificial não seja sustentável”, dizem Maria Irene Jordão e Raphael Figueredo, que assinam o relatório da XP.
O que fazer com as ações da Nvidia?
Ainda assim, a corretora aponta que os números da companhia foram bons e a tese de investimentos do papel não está em risco, visto que a empresa continuou um processo de expansão das vendas do chip Blackwell, que apresentou crescimento de 17% no trimestre. Para os especialistas, o novo chip gerou receita via todas as categorias de clientes, lideradas pelos grandes provedores de serviços em nuvem, e representou aproximadamente 50% da receita total de Data Centers.
“A Nvidia continua apresentando excelentes resultados, com crescimento anual de receita superior a 50%. Porém, levando as expectativas do mercado em consideração, os números não conseguiram surpreender o mercado da maneira que costumava acontecer. Com isso, as ações estão sendo penalizadas pelo mercado”, explicam Jordão e Figueredo.
Willian Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, está otimista com o papel. Ele vê a queda após balanço da Nvidia como uma correção natural do ativo após uma alta de quase 35% em 1 ano. “Mesmo com as questões do guidance, vejo que as vendas de Data Center continuam como um faturamento importante, representado 88% das vendas da companhia, mostrando que o entusiasmo com IA continua”, explica.
Já o analista da Empiricus tem recomendação de compra para o papel. Mas pede cautela para o investidor. Diz que a perspectiva da ação no curto prazo não é tão atrativa. A ação pode ficar estagnada no curto, mas no médio e longo prazo o investimento pode ser interessante, segundo ele.
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“Temos uma posição média na empresa. Colocamos o ativo na carteira durante o período de maiores restrições comerciais. No entanto, como a empresa já se valorizou 100% desde as mínimas do ano, estimamos que a ação da Nvidia (NVDC34) deve ficar estagnada até que saia uma resolução desses problemas com a China”, conclui Pacheco.