Federal Reserve System é o Banco Central dos EUA (Foto: Adobe Stock)
O mercado tem forte expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) reduza os juros da economia americana já na reunião de 17 de setembro. E tudo por conta do payroll de agosto, divulgado nesta sexta-feira (5) pelo Departamento do Trabalho do país. A criação de apenas 22 mil vagas ficou bem abaixo das 76 mil projetadas pelo Broadcast e reforçou a leitura de enfraquecimento do mercado americano.
Segundo a ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de corte dos juros em 25 pontos-base alcançou 88%, enquanto a chance de um ajuste mais amplo, de 50 pontos-base, subiu para 12%. Também aumentaram as apostas para reduções adicionais até dezembro, com 67,3% de probabilidade de queda acumulada de 75 pontos-base.
Surgiu ainda a hipótese de um ajuste total de 100 pontos-base pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) – órgão dos EUA equivalente ao Comitê de Política Monetária (Copom) brasileiro – até o fim do ano, com chance de 8,8%.
“Caso vejamos uma inflação contida, a probabilidade de três cortes até o fim do ano volta a ganhar força. Por ora, mantemos a expectativa de cortes na reunião de setembro e dezembro. É provável que se veja uma discussão de corte de 50 pontos base. Se optarem por 25 pontos base, é possível que o comitê se comprometa com uma sequência de cortes”, afirma André Valério, economista sênior do Inter.
A taxa de desemprego subiu para 4,3% em agosto, somando 7,4 milhões de pessoas sem ocupação. A taxa de participação da força de trabalho foi de 62,3% e a métrica emprego-população atingiu 59,6%.
“Esse número indica um cenário confortável para afirmar que não há pressão relevante sobre a inflação doméstica a partir do mercado de trabalho. A expectativa é de que os riscos inflacionários venham sobretudo da questão tarifária e não do baixo desemprego”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
O payroll trouxe ainda revisão nos números anteriores. Em junho houve corte de 13 mil postos, contra 14 mil na divulgação inicial, e em julho a geração de vagas foi de 79 mil, acima das 73 mil informadas antes.
Com os dados em mãos, o economista Fabricio Voigt, da Aware Investments, avalia que os números do payroll abrem espaço para duas leituras distintas. A primeira está no campo político.
Presidente dos EUA, Donald Trump, que tem pressionado o Fed pelo corte de juros. (Foto: Daniel Torok/White House via Fotos Públicas)
O presidente dos EUA, Donald Trump, tem feito críticas constantes à manutenção dos juros em patamar elevado, alegando que essa seria uma das razões pelas quais a economia dos Estados Unidos não avança no ritmo que ele considera adequado. Segundo Voigt, o resultado mais fraco na geração de empregos reforça esse discurso e aumenta a pressão por uma redução já na reunião de setembro.
A segunda leitura é de ordem econômica. Voigt diz que, apesar da desaceleração no mercado de trabalho, os núcleos de inflação permanecem acima da meta estabelecida pelo Fed. Além disso, os números de vendas no varejo ainda mostram dinamismo e o setor imobiliário dá sinais de reaquecimento diante da expectativa de cortes nos juros.
Para o economista, esses fatores explicam a postura cautelosa da autoridade monetária na definição dos próximos passos de política econômica.
O que vem depois do payroll para o Fed?
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, observa que o Fed enfrenta um dilema ao decidir os próximos passos de política monetária. De acordo com ele, a autoridade precisa equilibrar dois riscos: reduzir os juros antes do momento adequado, o que poderia estimular a economia enquanto a inflação ainda não está totalmente controlada, ou manter a taxa elevada por mais tempo, aumentando a chance de um arrefecimento da atividade econômica.
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Sung afirma que, após a divulgação dos dados do mercado de trabalho, passou a considerar como provável um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros na reunião de setembro do Fomc. Ainda assim, ressalta que a implementação das novas tarifas de importação impõe limites a um ciclo mais intenso de reduções, já que tais medidas tendem a exercer pressão adicional sobre os preços.
A próxima reunião do banco central americano está marcada para os dias 16 e 17 de setembro, enquanto o índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), indicador preferido da autoridade monetária para medir inflação, será divulgado apenas em 26 de setembro.
A expectativa do mercado agora, avalia Voigt, é entender se prevalecerá a pressão por cortes de juros ou os dados econômicos, considerando que o Fed já foi alvo de críticas no passado por decisões equivocadas no momento de ajustar a taxa.
“Olhando de maneira geral acredito ser difícil para o Fed manter a resiliência na decisão e deixar o corte para a reunião em outubro, o que, na minha visão, seria mais prudente neste momento”, diz.
Por que os juros dos EUA importam para o mercado
As decisões de juros do Fed mexem com a economia de vários países. A taxa funciona como uma espécie de termômetro para investidores, já que é considerada a referência mais segura para aplicar dinheiro. Quando os juros estão altos nos EUA, o capital costuma correr para lá em busca de retorno seguro e países emergentes, como o Brasil, acabam recebendo menos investimentos.
O efeito também chega ao câmbio. Juros mais altos fortalecem o dólar, tornando importações e financiamentos em moeda local mais caros. Para empresas e governos com dívidas em dólar, isso pode encarecer o custo do dinheiro e mudar planos de crescimento.
Além disso, o que o Fed decide serve como pista sobre o ritmo da economia americana e global. Corte de juros sinaliza que há preocupação com a desaceleração, enquanto aumento mostra que a prioridade está na contenção da inflação.