Mercado

Quanto o investidor perde em dividendos de bancos com o fim do JCP?

Governo publicou na última quinta (31) projeto de lei para acabar com essa forma de distribuir lucros a acionistas

Quanto o investidor perde em dividendos de bancos com o fim do JCP?
Wilson Sons (PORT3) aprova distribuição milionária de dividendos; veja valor. (Foto: Envato Elements)
  • Com a medida, a União espera um acréscimo de R$ 15 bilhões na arrecadação
  • O recurso deve ajudar o governo a zerar o déficit das contas públicas no próximo ano, conforme previsto no novo arcabouço fiscal
  • O problema é que a extinção do JCP pode impactar de 15% a 20% no lucro das empresas do setor financeiro

O governo federal publicou na quinta-feira (31) um projeto de lei que propõe o fim dos juros sobre capital próprio (JCP) para aumentar a arrecadação a partir de 2024. A expectativa da União é que a medida, caso seja aprovada pelo Congresso, garanta um acréscimo de R$ 15 bilhões na receita. O recurso deve ajudar o governo a zerar o déficit das contas públicas no próximo ano, conforme previsto no novo arcabouço fiscal. O problema é que a distribuição do lucro das companhias, principalmente o dos bancos, será impactada com a extinção do provento.

O JCP é uma das formas mais comuns de se distribuir lucro aos acionistas. No entanto, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros membros da equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ele está sendo utilizado para diminuir artificialmente o lucro das companhias para que elas paguem menos Imposto de Renda (IR).

Segundo as estimativas do mercado, se a proposta entrar em vigor sem nenhuma alteração do Congresso o setor bancário deve sofrer uma redução de 15% a 20% na distribuição do lucro devido ao aumento da base de cálculo do imposto das empresas. “Com o fim do provento, os investidores vão ganhar menos em forma de dividendos a partir do ano que vem”, diz Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Como a proposta ainda precisa aval do Congresso, resta aos investidores acompanhar a tramitação do projeto de lei (PL) porque há expectativas de que ela seja desidratada durante as negociações com os parlamentares. Agora, caso haja uma aprovação, conforme deseja o governo, a tendência é que o fim do JPC impacte no valuation (valor) das ações dos bancos. Isso deve acontecer porque, segundo Rafael Gama, sócio e head de Análise da Grifo Asset, gestora de recursos, o retorno em dividendos compõe uma parte importante no cálculo do valuation dessas companhias.

Recomendação

Se houver uma redução do lucro, como se espera com o fim do JCP, a tendência é que haja uma diminuição da distribuição de proventos aos acionistas. Por isso, a recomendação é que os investidores fiquem ainda mais atentos à qualidade da carteira de crédito das instituições financeiras caso a medida entre em vigor a partir do ano que vem. “Estamos um momento bastante sensível na economia e alguns bancos estão com uma inadimplência perto dos 6%, enquanto a média do sistema financeiro nacional é de 2,5%”, diz Gama.

No entanto, o impacto negativo não deve tirar a atratividade do setor que já costuma ser considerado “defensivo” pelos analistas. Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, há instituições financeiras que oferecem boas oportunidades de investimentos por estarem entregando bons resultados mesmo com a inadimplência alta no país.

“Temos um BTG (BPAC11) que vai ter um mercado de capitais colaborando mais no segundo trimestre, diferente do primeiro semestre quando tivemos o evento da Americanas (AMER3). Já o Itaú (ITUB4) continua indo muito bem desde o primeiro trimestre e acima dos seus pares”, diz Cruz.

Vale lembrar que a proposta é vista pelo mercado como o início das discussões para a segunda fase da reforma tributária que pretende abordar a cobrança de impostos sobre a renda. Além dos bancos, há expectativa que o lucro dos setores de alimentos e de saúde seja impactado em média 6% com a extinção do benefício fiscal.

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos