Coelho é presidente do Conselho de Administração da PPSA, estatal responsável por negociar a parte da União na exploração do pré-sal, e foi secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia de abril de 2020 a outubro de 2021.
As novas indicações ao comando da Petrobras ocorrem após as desistências do economista Adriano Pires e do empresário e presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, que declinaram dos convites por conflitos de interesses. Na semana passada, o general Joaquim Silva e Luna foi tirado do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro, insatisfeito com os sucessivos aumentos do preço do combustível.
Silva e Luna permaneceu no comando da estatal por quase um ano. Entre a sua posse, no dia 19 de abril de 2021, e a sua demissão, em 29 de março de 2022, os ativos PETR3 e PETR4 acumularam ganhos de 71,85% e 58,34%, respectivamente, segundo levantamento feito pela Plataforma TC/Economatica.
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, explica que, embora tenha feito uma boa gestão, o comando de Silva e Luna não é a única razão por trás da valorização das ações da Petrobras. Trata-se de uma combinação de fatores internos e externos. “Foi uma boa gestão, mas a variação do papel não está ligado somente às melhorias internas, mas ao cenário, que também acabou favorecendo a empresa com a alta do petróleo”, diz.
Do ponto de vista da gestão, para França, Silva e Luna soube dar continuidade à política da empresa, que vem apresentando bons resultados nos últimos balanços. “A estatal melhorou processos, continuou aumentando a exploração no pré-sal, que é uma região com custo de produção menor, ganhou rentabilidade. A Petrobras ainda seguiu uma trajetória de redução da alavancagem, que permitiu à companhia destravar uma nova política de distribuição de dividendos. Os últimos resultados mostraram também boa geração de caixa”, pontua o analista.
A expectativa do mercado, agora, é que o novo presidente da Petrobras, se aprovado, consiga prosseguir com a atual política de preços, sem interferências maiores por parte do governo.
Veja o que pensam analistas sobre a indicação de José Mauro Ferreira Coelho ao comando da estatal:
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos
“Depois que o economista Adriano Pires declinou o convite, o mercado estava muito ansioso. E José Mauro Coelho é um nome que atende as expectativas dos acionistas minoritários, porque é um nome técnico, de um executivo que foi secretário de petróleo do Ministério de Minas e Energia. Então tem as credenciais técnicas para poder conduzir a Petrobras da maneira que a empresa vem sendo conduzida nos últimos anos, respeitando a política de preços dos combustíveis.
É um nome que deve dar sequência ao trabalho que vinha sendo feito, realmente técnico, e esse é o principal alívio para o mercado.”
Fabiano Braun, private banker e sócio da Matriz Capital
“José Mauro Coelho tem uma carreira de 14 anos na área energética do governo, de onde saiu em 2021 para se recolocar na iniciativa privada. O novo presidente , à princípio, defende a paridade dos preços internacionais do petróleo e a mudança do modelo de cobrança do ICMS sobre os combustíveis. Isso agrada demais ao mercado.
A não interferência do preço das commodities pelo Estado faz com que, principalmente, o investidor estrangeiro acredite mais na instituição. E isso traz cada vez mais dinheiro para o Brasil. De certa forma, isso intensifica a valorização do real frente ao dólar, movimento que estamos acompanhando recentemente.”
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
“As ações estão reagindo bem ao novo nome. É claro que ainda precisa ser aprovado, já vimos o Adriano Pires sendo indicado e ficando pelo caminho. Mas, de toda forma, é bem diferente do que aconteceu 12 meses atrás, quando a troca no comando da Petrobras foi para o nome de um militar e todo mundo acreditava que teria uma interferência na política de preços.
Agora, colocando um nome mais técnico, que já tem experiência no setor de energia, a transição vai ser bem menos volátil. Por isso, o mercado reagiu bem, gostou do nome, entendendo que é um sinal de boa gestão para os próximos meses.
Claro que, pensando em longo prazo, se você é acionista da Petrobras ou está interessado em ter as ações no portfólio, é preciso pensar muito mais em quais vão ser as consequências das eleições. E isso foge do nome novo, já que, caso haja uma mudança de poder, muito provavelmente o comando vai ser trocado novamente. Então é preciso acompanhar o que os candidatos estão falando sobre isso.”
Cesar Frade, mestre em Economia e sócio da Quantzed
“O José Mauro Coelho era secretário de petróleo do Ministério de Minas e Energia na gestão do ministro Bento Albuquerque, portanto uma pessoa de confiança de Albuquerque e do ministro Paulo Guedes.
Sendo assim, se espera uma continuidade da política de paridade de preços do mercado internacional e isso é extremamente importante para o mercado. Isso vai dar uma cara de gestão profissional na Petrobras sem nenhum tipo de intervenção. O mercado vê como positivo o nome, já que as ações da Petrobras pela manhã subiram mais de 2,5%.”
Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos
“O mercado gostou. É um cara de dentro, que já sabe como as coisas estão funcionando. O mercado ficou aliviado, tanto que a ação está subindo hoje, reprecificando o risco de alguns outros indicados. Acaba esse zum zum zum, a especulação. E, com o petróleo nesse preço, até mesmo aliviando qualquer pressão futura sobre a Petrobras, então, vida que segue.”
Matheus Spiess, analista de investimentos da Empiricus
“Assim que li o nome do José Mauro Ferreira Coelho para comandar a Petrobras, senti um alívio. E hoje a alta da ação frente a queda do brent do petróleo lá fora é uma comprovação disso. É um nome técnico, do mercado de energia, que já passou por diversos polos do setor, que conhece de óleo e gás. E que já apareceu anteriormente defendendo a paridade internacional de preços, portanto, não é um nome que o mercado teme.
Quando tivemos a troca do Castello Branco [para o Silva e Luna], no início do ano passado, houve um temor de que isso poderia acarretar intervenção de preços, o que não se comprovou. O que temos observado é que as reformas internas de governança na companhia foram tais que, hoje, a troca no comando da empresa não significa intervenção de preços. Pode mudar alguma coisa ou outra, mas não muda a política de preços, o que é positivo.”