- A Petrobras não pagou os dividendos extraordinários esperados pelo mercado e viu seu valor de mercado encolher R$ 63,19 bilhões
- Analistas apontam que o principal risco para a empresa é a mudança da política de preços da estatal
- Especialistas se dividem sobre comprar a ação agora ou não
A Petrobras (PETR4) já perdeu R$ 63,19 bilhões em valor de mercado entre o fechamento de quinta-feira (7) e o encerramento do pregão de segunda-feira (11), mostra levantamento de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria. A perda de valor é equivalente a soma da desvalorização do ativo nos últimos dois pregões.
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Já na segunda-feira (11), as ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 1,3%, a R$ 35,65. Os papéis ordinários da estatal recuaram 1,92%, a R$ 36,27. As perdas aconteceram após a companhia informar que vai distribuir somente o mínimo estabelecido pela Política de Remuneração aos Acionistas. Ou seja, 45% do fluxo de caixa livre, um montante de R$ 14,2 bilhões.
Os outros R$ 43,9 bilhões da reserva estatutária serão represados. A decisão deve ser oficializada na Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para 25 de abril de 2024. Para piorar a situação, o presidente de República, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou o mercado em entrevista ao SBT nesta segunda-feira (11).
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“Se eu for atender a choradeira do mercado não faço mais nada. O mercado é um dinossauro voraz. Ele quer tudo para ele e nada para o povo. Será que o mercado não tem pena das 735 milhões de pessoas que não tem o que comer?”, indagou Lula.
Na visão de Adriano Pires, sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o presidente Lula cometeu um erro ao pensar que a Petrobras é uma empresa puramente estatal. “O primeiro ponto que causou todo esse transtorno foi o fato de o presidente ter pensado que a companhia é estatal e que deve santificação apenas ao governo. Isso não é verdade: a Petrobras é uma empresa de capital misto, ela pertence ao investidor privado também”, ressaltou Pires.
Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios e consultor da Essentia Consulting, aponta que o problema não foi a Petrobras ter segurado o dividendo e sim a maneira como o fato foi comunicado. “Se a gestão tivesse avisado o mercado com antecedência, em meados de novembro, com uma boa explicação técnica, como a necessidade de investimentos da companhia para ter um lucro maior no futuro, nada disso teria acontecido”, salientou Marinello.
Segundo Pires, a atitude da companhia em combinado com as falas de Lula era tudo que o mercado não esperava, visto que a gestão de 2023 foi positiva no quesito de autonomia da gestão. “O mercado se assustou porque houve uma atitude concreta. Em 2023 não houve uma intervenção real na Petrobras. Apesar de anunciado com o fim da Política de Paridade Internacional (PPI), a política de preços tem sido feita com cuidado até o momento”, detalhou.
O próprio Adriano Pires chegou a ser indicado para presidir a Petrobras no governo de Jair Bolsonaro, Ele, no entanto, declinou do cargo para seguir trabalhando em sua consultoria.
Os pontos da discórdia
A política de preços da Petrobras, na visão dos analistas, é o principal risco político que envolve a companhia.
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João Abdouni, analista da Levante, declarou que a Petrobras até mudou a política de preços em maio do ano passado. Porém, ela ficou muito parecida com o PPI, visto que a empresa tem mantido o preço muito próximo ao do mercado internacional. “Vale lembrar que, pelo fato de a Petrobras não pagar o frete para importação, a companhia pode manter os preços de venda em 10% abaixo do mercado internacional. A empresa tem respeitado essa margem”, detalhou Abdouni.
No entanto, Lula comentou na entrevista ao SBT que está devendo uma promessa de campanha: a redução dos preços dos combustíveis e de outros derivados do petróleo. “Eu tenho um compromisso de reduzir o preço do combustível, da gasolina, do gás de cozinha e o preço do óleo diesel. A gente não tem o porquê ter um preço equiparado ao preço internacional, porque nós somos autossuficientes na produção de petróleo”, disse o presidente.
A fala preocupou parte dos analistas, visto que esse é o principal risco político que a estatal oferece ao investidor. João Abdouni, da Levante, disse acreditar que essa fala de Lula não apresenta uma ameaça concreta. “Esse comentário do presidente é apenas uma mensagem dele para o seu eleitor. A fala dele não tem impacto para a Petrobras: Lula tem falado isso desde a campanha, mas já estamos há 15 meses com um governo do PT e nada mudou. Ele só fala e não faz nada de concreto”, afirmou Abdouni.
Pires, sócio do CBIE, aponta que uma solução para a redução dos preços dos combustíveis seria a Petrobras usar o dinheiro dos dividendos que tem direito a receber da Petrobras para reduzir os preços nos postos de gasolina. Assim, Lula conseguiria cumprir sua promessa de campanha e respeitar os acionistas privados da Petrobras.
Prates fica ou sai?
Outro risco político seria a própria queda de Jean Paul Prates. Para Marinello, Lula poderia até forçar uma queda dele por não ter simpatia total pela atual política de preços.
O receio é que o chefe do executivo coloque no comando da empresa alguém que mude a política de preços, o que pode impactar nas receitas e na lucratividade da empresa, frisa Marinello. “Há uma pressão política por parte do ministro de Minas e Energia sobre o presidente da Petrobras, visto que o ministro é de um partido de centro e o pagamento desses dividendos seriam positivos até para o governo atingir o déficit zero. Do outro lado, Prates é pressionado pela ala mais à esquerda do PT justamente pela demanda de preços, o que o deixa em uma corda bamba”, afirma Marinello.
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No entanto, Marinello crê que uma queda de Prates no curto prazo é pouco provável, principalmente após o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), ir a público com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para garantir que Prates continua no comando da companhia.
Para João Abdouni, se a queda de Prates ocorrer por determinação de Lula o investidor encontraria uma forte volatilidade na empresa e passaria a mensagem de uma forte intervenção estatal na empresa, o que não seria bem-visto pelo mercado.
Comprar, manter ou vender a ação?
Em meio a esses potenciais riscos estatais, os analistas se dividem entre ter ou não ter as ações da companhia. Para Marinello, o investidor deve passar longe dos papéis da Petrobras, visto que o cenário ainda parece incerto e o investidor pode perder dinheiro até que essa história encontre um bom desfecho.
“Não dá para saber se essa volatilidade dos últimos dias é de curto ou não. Os dois principais riscos políticos que envolvem o papel precisam ser definidos e não dá para saber quanto tempo isso vai levar. Por isso, o investidor deve ter muita cautela com o papel”, explicou Marinello.
Já João Abdouni, da Levante, reforçou sua recomendação de compra para o papel, pois a queda o deixou ainda mais barato e com uma boa estimativas de dividendos. “Sem os dividendos extraordinários, a Petrobras já paga 12% do valor da ação em proventos. Então o papel está muito atrativo para o investidor”, afirmou Abdouni.
O analista lembrou que o ministro de Minas e Energia disse na coletiva com Haddad que a Petrobras ainda pode pagar os dividendos extraordinários, o que seria melhor ainda para o investidor. “Se o pagamento de fato acontecer, a Petrobras teria um Dividend Yield (DY) entre 15% e 16%, o que deixaria o papel mais atrativo ainda”, explicou Abdouni.
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Por fim, o analista aponta que essa forte queda do papel nos últimos dias não é algo deve continuar no médio e longo prazo. Segundo ele, o que pode mexer com a Petrobras é se a empresa passar vender combustível abaixo do preço do petróleo.
“Não há nada de concreto sobre isso. A Petrobras teve o segundo maior lucro da sua história. Nossa recomendação para o papel é de compra. Nós não revelamos nosso preço-alvo, mas esperamos uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 20% para o investidor”, concluiu Abdouni.