- A maior queda da companhia em bolsa ocorreu em março do ano passado, em meio aos temores envolvendo a covid-19
- As desvalorizações refletem o temor dos investidores em relação a possíveis novas interferências do governo nas estatais
(Jenne Andrade e Renato Vieira) – A queda de valor de mercado da Petrobras nesta segunda-feira (22) foi a segunda maior sofrida pela empresa desde a implantação do Plano Real, em 1994. Segundo levantamento realizado pela empresa de dados de mercado Economatica, a petrolífera perdeu R$ 74,2 bilhões.
Na B3, as ações preferenciais da empresa tiveram o pior desempenho do dia, com baixa de 20,48%, e encerraram o pregão cotadas a R$ 21,67. As ações ordinárias tiveram variação negativa de 20,48%, cotadas a R$ 21,55. A maior queda da companhia em bolsa ocorreu em março do ano passado, em meio aos temores envolvendo a covid-19. No dia 9 daquele mês, a petrolífera perdeu R$ 91,1 bilhões.
O movimento de baixa ocorre depois de o presidente Jair Bolsonaro tecer críticas sobre a gestão do CEO da companhia, Roberto Castello Branco, e anunciar a indicação do general Joaquim Silva e Luna, atual diretor da Itaipu Binacional, como novo presidente da empresa. O Conselho de Administração da Petrobras ainda precisa aprovar a troca. Para o mercado financeiro, a substituição sinaliza uma ingerência política na companhia, já que o líder do executivo reclamou publicamente da política de preços da Petrobras.
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Segundo dados da Economatica, as estatais perderam R$ 113,2 bilhões em valor de mercado nos pregões de sexta-feira (19) e segunda-feira (22). No caso da Petrobras, o prejuízo foi de R$ 98,2 bilhões em dois dias.
Os efeitos atingiram outras estatais da Bolsa, que aceleraram as baixas. O Banco do Brasil (BBAS3) fechou o pregão desta segunda-feira com queda de 11,65%, aos R$ 28,83. Em valor de mercado, a perda foi de 10,8 bilhões, passando de R$ 93,1 bilhões, no inicio de sessão, para R$ 82,2 bilhões. Em dois dias, a perda acumulada foi de R$ 12,6 bilhões.
QUEDAS R$ | |||
Nome | Queda 19/02/21 | Queda 22/02/21 | Queda acumulada (19 e 22) |
Banco do Brasil | – R$ 1,798 bilhões | – R$ 10,842 bilhões | – R$ 12,640 bilhões |
Eletrobras | – R$ 619 milhões | – R$ 280 milhões | – R$ 899 milhões |
Petrobras | – R$ 28,209 bilhões | – R$ 70,042 bilhões | – R$ 98,251 bilhões |
Petrobras BR | – 513 milhões | – R$ 1,922 bilhão | – R$ 1,409 bilhão |
Total | -R$ 30,113 bilhões | – R$ 83,087 bilhões |
– R$ 113,200 bilhões
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Segundo Attuch, no entanto, será difícil tirar os planos de Bolsonaro para as estatais do papel. “O governo resolveu que o aumento dos custos dos derivados de petróleo não têm que ser pagos pelo consumidor brasileiro, se é certo ou errado, é outra história. Mas para mudar isso precisa mudar o estatuto da Petrobras ou fazer os conselheiros aceitaram algo lesivo a empresa, o que é muito complicado”, explica.
A Eletrobras, estatal do setor de energia, também chegou a cair mais de 6% durante o pregão da segunda-feira após circularem vídeos em que Bolsonaro afirma que vai “meter o dedo no setor de energia”. Contudo, os papéis conseguiram se recuperar e fecharam as negociações com leve queda de 0,17%, aos R$ 29,24. Em valor de mercado, a perda foi de R$ 899 milhões nos dois últimos pregões. “Não é só uma questão das estatais. É o tipo da notícia [demissão de Castello Branco] que tem impacto na economia inteira, porque a percepção de risco do Brasil aumenta muito”, explica Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch.
De acordo com Rafael Panonko, analista chefe da Toro Investimentos, a queda vista principalmente na Petrobras é exagerada. “O mercado fica pessimista por conta da memória curta em relação à estatal no passado, quando o Governo tinha uma ingerência muito maior. Hoje, apesar da troca, o discurso ainda é alinhado a respeitar a política de preços”, afirma.