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Fusão entre Petz (PETZ3) e Cobasi é um bom negócio para o investidor?

As negociações estavam em andamento há mais de três anos e ganharam ritmo nas últimas semanas

Fusão entre Petz (PETZ3) e Cobasi é um bom negócio para o investidor?
Loja Petz (PETZ3). (Foto: Adobe Stock)
  • A nova empresa já nasce com caixa líquido de R$ 200 milhões, uma estrutura de capital que ajuda no cenário atual de juros elevados
  • De acordo com o analista da Toro Investimentos, Gabriel Costa, a notícia agradou o mercado
  • Veja as recomendações dos especialistas e possíveis desdobramentos do negócio

O anúncio de fusão da Petz (PETZ3) com a Cobasi deixou o mercado financeiro em polvorosa. As ações da gigante do setor de animais de estimação abriram a sexta-feira (19) em alta expressiva de 42,86, e fecharam o dia cotadas a R$ 4,80, uma valorização de 37,14%.

As duas empresas têm o intuito de criar uma gigante que terá R$ 6,9 bilhões de receita bruta, 483 lojas e ao menos 20 marcas.

A Petz foi avaliada por R$ 3,3 bilhões, o que representa um múltiplo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 12%. A nova empresa já nasce com caixa líquido de R$ 200 milhões, uma estrutura de capital que ajuda no cenário atual de juros elevados, de acordo com a VG Research.

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Conforme mencionado em reportagem do Estadão, espera-se que essa união resulte em ganhos significativos, incluindo a ampliação das vendas de marcas próprias e serviços por meio da venda cruzada, uma otimização do plano de expansão com a abertura de novas lojas, uma maior eficiência nas rotas de entrega e nos centros de distribuição do e-commerce, além de uma melhor gestão das despesas corporativas.

As negociações estavam em andamento há mais de três anos e ganharam ritmo nas últimas semanas. A conclusão da operação está condicionada à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Se confirmada, a fusão resultará em uma estrutura acionária diferente da atual.

Paulo Nassar, representante da Cobasi, assumirá o cargo de presidente executivo, enquanto Sergio Zimerman, fundador e CEO da Petz, ocupará a presidência do conselho. A fusão resultará em ambas as partes detendo 50% da nova entidade empresarial. Zimerman, anteriormente detentor de 29,7% do capital da Petz, terá uma participação reduzida para 14,9% na empresa combinada. Enquanto isso, os 70,3% de participação em circulação na bolsa passarão a representar 35,1%.

A família Nassar atualmente possui 89,5% da Cobasi, enquanto o fundo de investimento Kinea detém 7,8%, e outros investidores têm 2,7%. Com a fusão, esses acionistas da Cobasi assumirão a outra metade da nova entidade resultante da união com a Petz. Para formalizar o negócio, está prevista a celebração de um acordo de acionistas entre Sergio Zimerman, a família Nassar e o Kinea.

Como o mercado recebeu a notícia?

De acordo com o analista da Toro Investimentos, Gabriel Costa, o mercado ficou animado com a notícia. “A reação se deve, sobretudo, ao preço com que as ações da Petz foram precificadas no memorando, apresentando uma elevação de mais de 100% em relação ao fechamento do pregão de ontem”, diz.

A demora para as empresas baterem o martelo ocorreu porque havia especulações sobre um possível obstáculo por parte da Kinea, segundo o analista de investimentos da Levante Inside Corp, Flávio Conde. “Acreditava-se que a gestora poderia exigir um preço elevado pela Cobasi. Essa incerteza resultou em muitas idas e vindas, deixando o mercado sem uma precificação clara”, afirma.

Para o analista da VG Research, Lucas Lima, a dinâmica competitiva do mercado pet no Brasil mudou bastante nos últimos anos, com diversos players verticais, como Mercado Livre (MELI34) e Amazon (AMZO34),entrando no segmento com preços competitivos. E o a decisão pela fusão é um acerto.

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“Nesse contexto, a margem da Petz foi pressionada nos últimos trimestres, com administração tentando manter sua base de clientes através de descontos excessivos e uma boa parte das lojas da Petz estão a poucos quilômetros das lojas da Cobasi, o que gera um grande desgaste”, diz Lima. “Portanto, a fusão deve reduzir essa pressão competitiva e proporcionar sinergias importantes em termos de despesas gerais e administrativas, logística/entregas e principalmente no plano de expansão e abertura de lojas.”

Quais são as sinergias entre Petz e Cobasi?

Segundo o head de Research da Guide Investimentos,  Fernando Siqueira, as sinergias esperadas incluem uma expansão mais organizada e eficiência no e-commerce, além da redução de custos e despesas gerais.

Flavio Conde, da Levante, fez uma lista das sinergias para o E-Investidor a fim de deixar a questão o mais claro possível:

  • Redução na competitividade de preços: com a junção de dois dos três maiores players do setor (a terceira é a Pet Love), haverá uma menor guerra de preços entre as duas;
  • A otimização do plano de abertura de lojas: ambas disputavam abrir lojas nos mesmas cidades para competir, agora essa questão poderá ser planejada a fim de melhorar a abrangência;
  • Ganhos de eficiência nas rotas do e-commerce e centros de distribuição diferentes: a necessidade de centros de distribuição e de transportes vai diminuir, pois haverá mais concentração;
  • Crosselling: vendas de produtos de marca própria poderão ser vendidos nas lojas das duas companhias;
  • Redução de gastos: diminuição de custos com despesas administrativas gerais, pois será uma empresa só. Logo, os cargos serão reajustados ou deverão se fundir;

Há riscos na fusão?

Fernando Siqueira acredita que o risco principal é a execução do processo, especialmente possíveis conflitos entre os dois proprietários, que podem possuir interesses discrepantes.

Já Flavio Conde não vê riscos na fusão, mas visualiza problemas que não serão resolvidos. “A questão da competição com a pet shop de bairro deve se manter. A Petz e a Cobasi estão limitados oferecer produtos, enquanto as bairristas são procuradas por seus serviços como banho e tosa mais baratos”, diz.

Além disso, o analista ressalta que existem dois competidores que vão continuar incomodando: a PetLove e a Amazon. Mas, observa que a questão poderia ser resolvida se a primeira fosse comprada, juntando-se às duas maiores players do setor, agora unidas.

É hora de investir?

Segundo o especialista da Valor Investimentos, credenciada à XP Investimentos, Daniel Teles, houve a chamada “relação de troca” nas negociações, que atribui R$7,10 para o valor de Petz, sendo que ontem fechou a R$ 3,50 no pregão. “A tendência é que o preço da ação atinja esse patamar”, afirma.

Para Fernando Siqueira, é improvável que haja restrições regulatórias significativas para a fusão, dada a fragmentação do mercado. No entanto, a oportunidade de investimento pode não ser tão alta, considerando a rápida valorização das ações desde a abertura.

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Já Flavio Conde acredita que a fusão deve manter um mercado num período de observação em torno dos resultados. “Já houve um otimismo no IPO, e depois um pessimismo após a abertura de capital, porque ninguém imaginava a força do pet shop local e dos concorrentes. Pagou-se múltiplos muito altos por um suposto crescimento que não foi exponencial”, afirma.

A Toro Investimentos, por sua vez, segue com a visão neutra para o papel, pois está aguardando mais detalhes sobre o andamento da transação e resultados que podem ser gerados a partir da combinação de negócios.

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