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Por que a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA faz o dólar subir

Vitória do republicano faz a moeda americana disparar; no Brasil, além das eleições nos EUA, fiscal também pesa

Por que a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA faz o dólar subir
Vitória de Trump valoriza o dólar contra moedas globais. (Imagem: Alan Santos /PR)
  • O republicano Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos Estados Unidos na madrugada desta quarta-feira (6)
  • Os primeiros impactos do resultado já estão sendo sentidos no mercado financeiro global, com um protagonista principal: o dólar. Moeda americana dispara frente às principais divisas globais
  • No Brasil, o real também está em baixa; pacote fiscal do governo poderia gerar algum alívio

O republicano Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos Estados Unidos na madrugada desta quarta-feira (6). Os primeiros impactos do resultado já estão sendo sentidos no mercado financeiro global, com um protagonista principal: o dólar.

A moeda americana opera em alta contra praticamente todas as divisas globais e deve potencializar a sua valorização à medida que investidores precificam o vitória republicana na Casa Branca e no Congresso.

Como mostramos aqui, Trump foi eleito com propostas econômicas mais protecionistas, incluindo o aumento de imposto de importação, com tarifas mais elevadas para a China. A possibilidade de manutenção dessas tensões comerciais tende a sustentar a demanda por ativos seguros, favorecendo a moeda americana. Isso já era esperado no mercado e vinha pressionando o câmbio dias antes da eleição.

Agora, com a vantagem republicana também no Congresso americano, essa expectativa começa a se materializar. “Ao encampar uma agenda claramente nacionalista e isolacionista do mundo, tal resultado, em um primeiro momento, é extremamente favorável ao dólar e as ações americanas, que deverão se beneficiar de novas rodadas de estímulos tributários e afrouxamento fiscal, o que eleva os juros americanos”, explica Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.

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O especialista explica que a conjuntura de dólar forte e aumento na curva de juros nos EUA eleva a percepção de risco e cria vulnerabilidades adicionais para os mercados emergentes, como o Brasil. O resultado disso é a depreciação de suas moedas.

Um outro ponto que joga a favor de um dólar mais forte no novo mandato de Trump é a inflação. O entendimento do mercado é que a agenda econômica apresentada na campanha é inflacionária; e, com a maioria republicana no Congresso, essas propostas podem ter maior facilidade de sair do papel.

“Com Trump eleito, as expectativas do mercado incluem a possibilidade de um retorno à sua abordagem ‘America First’, que pode significar a continuidade ou até a expansão das tarifas sobre produtos chineses. Se ele decidir aumentar as tarifas em 60% para a China e 10% para outros países, conforme ventilado, isso resultaria em uma pressão inflacionária elevada”, destaca JR Belardo, sócio e especialista em câmbio na Duo Digital.

O aumento da inflação implicaria em taxas de juros mais altas por mais tempo nos EUA, o que, por consequência, mantém o dólar valorizado. “Essas medidas são vistas como inflacionárias e potencialmente prejudiciais para a economia de outros países, especialmente para os mercados emergentes, como Brasil e México, que dependem fortemente do comércio global”, afirma o vice-presidente executivo do Grupo Travelex Confidence, João Manuel Campanelli Freitas. “Para os Estados Unidos, no curto prazo será bom, mas no longo prazo pode ser ruim por conta da inflação”, completa.

Dólar em alta no mundo

E este não é um impacto sentido apenas no Brasil. O índice DXY, que compara as flutuações do dólar em relação a seis dividas relevantes como euro, libra e ienes, tinha alta de cerca de 2% no início desta quarta-feira. O índice chegou a tocar a máxima em quatro meses.

As divisas das economias emergentes também sofrem. Por volta das 11h, o dólar era negociado a 20,6277 pesos mexicanos – a moeda do México opera no menor nível desde julho de 2022. No início da manhã, o dólar subiu a 7,1589 yuans onshore, o maior valor contra a moeda da China desde 15 de agosto.

“O México, China e Europa são vistos como os principais perdedores nesse cenário, pois provavelmente serão impactados negativamente pelo potencial de uma guerra comercial que poderá ter início no próximo ano, com efeitos no ritmo de crescimento de suas economias”, destaca Gabriel Giannechhini, portfolio manager da Gauss.

No Brasil, foco no fiscal

Na abertura da sessão desta quarta-feira, o real também sofreu. Às 09h06, o dólar bateu a máxima de R$ 5,86, com uma alta de 1,95%. Aos poucos, a cotação vai diminuindo o ritmo, mas a moeda americana ainda mantém a trajetória de valorização. Por volta das 11h, o dólar valia R% 5,78, com alta de 0,61%.

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O câmbio brasileiro já vinha sobre estresse há algum tempo, pressionado também por fatores domésticos. Na última sexta-feira (1º), o dólar alcançou o seu segundo maior valor nominal da história, fechando a semana a R$ 5,86, no ápice do risco fiscal do mercado. Como mostramos aqui, investidores cobram do governo federal um pacote de medidas voltadas ao corte de gastos, suficiente para garantir a viabilidade do arcabouço fiscal e impedir o descontrole das contas públicas no País. Essa pressão paira sobre os ativos brasileiros já há algum tempo, mas atingiu seu pico na última semana com a notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passaria dias na Europa.

A segunda-feira (4), no entanto, trouxe um revés. Haddad não viajou, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, desde então, o ministro da Fazenda tem feito reuniões em Brasília para endereçar o tema com urgência. A expectativa mais positiva em relação a um possível anúncio de cortes de gastos ajudou a promover certo alívio no câmbio. Até Donald Trump ser eleito.

Agora, mais do que nunca, especialistas veem a atuação do governo como fundamental para reduzir a pressão sobre o dólar. “No Brasil, a vitória do Trump impacta diretamente os ativos locais, traduzindo-se em uma depreciação do real e aumento das taxas de juros domésticas, o que tende a afetar de maneira negativa o ambiente macroeconômico e, consequentemente, o mercado acionário local”, explica Giannechhini, da Gauss. “Diante desse contexto, torna-se ainda mais necessário que o governo adote uma política fiscal crível, com uma revisão consistente dos gastos públicos. Do contrário, o cenário traçado se revela bastante desfavorável.”

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