Empresas costumam recomprar ações quando veem os ativos abaixo do preço justo na Bolsa. (Foto: Adobe Stock)
Os programas de recompra de ações estão em alta no mercado brasileiro. Nos últimos meses, dezenas de empresas foram à Bolsa adquirir seus próprios ativos. Somente em setembro, nomes como JBS (JBSS3), Multiplan (MULT3) e Yduqs (YDUQ3) fizeram esse movimento. E isso passa uma mensagem principal: as companhias estão achando suas ações baratas demais.
Com taxas de juros elevadas, incertezas no cenário macroeconômico e fiscal, e baixo apetite a risco de investidores, o fluxo de capital na B3 tem sido baixo. Boa parte das ações está sendo negociada com desconto, enquanto especialistas veem a Bolsa barata, mesmo depois de certa recuperação entre julho e agosto.
Em cenários assim, se a empresa tem caixa, ao invés de utilizá-lo para quitar dívidas ou financiar novos projetos, ela prefere retirar parte de seus ativos de circulação por entender que eles não estão sendo negociados a um preço justo. “De forma simplificada, ondas de recompra ocorrem quando o mercado está negociando a preços baixos, ao passo que ondas de IPO ocorrem quando o mercado está eufórico e negociando a preços elevados”, explica Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da Fundamenta Investimentos.
Um levantamento feito pela Economatica mapeou quais foram as empresas que mais recompraram ações em 2024. Os dados mostram a variação percentual da quantidade de ações em tesouraria de 380 companhias da B3, destacando aquelas que mais viram a quantidade crescer entre janeiro e outubro. Veja quem são:
Recompra impacta o acionista?
Os programas de recompra de ações fazem parte de uma estratégia de gerar valor ao acionista. Se a empresa cancela os papéis, por exemplo, o número de ativos diminui; isso significa que a posição do investidor no negócio aumenta, aumentando proporcionalmente o recebimento de dividendos. Em outro cenário, caso a companhia decida vender os ativos de volta futuramente no mercado, o acionista ganha com o lucro da operação.
Gustavo Akamine, sócio e portfólio manager de renda variável da Constância Investimentos, traça um exemplo para ilustrar: imagine que uma empresa planeja ter R$ 100 de caixa. Se ela tem 100 ações, o valor seria de R$ 1 caixa para uma ação. “Se no ano anterior, ela tivesse recomprado metade dessas ações, ela teria R$ 2 de caixa para o mesmo número de ações. Ou seja, para o acionista que não vende as ações no programa de recompra, essa geração de caixa que vem do futuro vai ser diluída em menos ações, então o retorno aumenta indiretamente”, explica.
Mas para que a recompra gere valor aos acionistas e seja algo positivo, é necessário, contudo, que ela seja feita com as ações negociando abaixo do preço considerado justo.
Publicidade
“Quando a recompra for adequada, ou seja, conduzida a preços abaixo do considerado justo para aquela empresa, ela agregará valor aos acionistas. Há de se considerar, entretanto, outros aspectos, tais como o perfil tributário do acionista”, alerta Valter Bianchi Filho, da Fundamenta Investimentos. “Se a recompra consumir capital que seria destinado para pagamento de dividendos, um acionista que receberia estes dividendos de forma isenta de impostos, mas que é tributado no ganho de capital, pode não achar uma boa ideia.”
Vale a pena investir nessas empresas?
A recompra de ações passa algumas mensagens ao investidor. Sinaliza, por exemplo, que a companhia é geradora de caixa e confia no próprio negócio a ponto de achar que seus ativos estão baratos. Mas seguir cegamente a avaliação dos gestores sobre sua própria empresa pode não ser o melhor norte para o investidor.
Sempre que uma empresa anunciar um programa de recompra, é importante avaliar se realmente aquela ação está barata, além de observar qual estratégia a companhia pode estar adotando. Em muitos casos, os programas de recomprade ações são anunciados apenas para passar um recado ao mercado, mas não necessariamente são levados até o fim. Veja mais sobre isso nesta outra reportagem.