O ano de 2025 marcou o ápice das atenções sobre o Banco Master, culminando em sua liquidação e na prisão de Daniel Vorcaro e outros dirigentes, acusados de fraudes bilionárias.
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O ano de 2025 marcou o ápice das atenções sobre o Banco Master, culminando em sua liquidação e na prisão de Daniel Vorcaro e outros dirigentes, acusados de fraudes bilionárias.
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A instituição financeira tornou-se protagonista de uma sequência de eventos que testou a confiança do mercado, expôs as fragilidades de parte do sistema bancário, levantou dúvidas sobre a saúde do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e jogou um pouco de luz sobre como a relação de executivos com os poderosos de Brasília podem blindar operações duvidosas.
Por outro lado, o episódio serviu de lição para investidores (e também corretoras), que passaram a reavaliar os riscos nos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de bancos médios.
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“Depois de toda essa questão do Master, os bancos médios sólidos começaram a se diferenciar daqueles que têm balanços mais arriscados”, comenta Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos.
Segundo ela, instituições como Will Bank (banco digital do Master que não foi incluído na liquidação do Banco Central), Voiter (vendido pelo Master, reestruturado e hoje é o Banco Pleno) e Original sentiram, ao longo do processo, o reflexo imediato na queda de demanda por seus papeis.
Enquanto isso, nomes mais robustos, como Daycoval, Paraná Banco e ABC Brasil, seguiram captando normalmente, ainda que a taxas mais baixas.
Houve reflexos também na parte de regulamentação. O caso do Master levou o Conselho Monetário Nacional (CMN) a endurecer as regras do FGC, limitando taxas de CDB a 120% do CDI.
No lado da oferta, corretoras e assessores passaram a reduzir a ênfase na cobertura de até R$ 250 mil do FGC, propaganda usada como uma forma de distração sobre os riscos. “Acho que esse discurso diminuiu por conta dessa questão do Master. Mas, fora isso, não houve grandes mudanças”, avalia Marília, ressaltando que os bancos médios mais sólidos continuam captando através de CDBs. “Não houve movimento estrutural.”
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Os CDBs emitidos pelo Master já chamavam atenção do mercado antes mesmo de o Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal, anunciar a compra da instituição bancária no final de março.
O negócio, estimado em R$ 2 bilhões por 58% do capital, acendeu a polêmica sobre a real capacidade do banco de honrar seus compromissos.
Desde então, o Master e o seu presidente, Daniel Vorcaro, que manteria o controle do negócio após o acordo, não saíram mais das manchetes.
Foi a partir de 2021 que o Master (ex-Máxima) passou a emitir certificados bancários com retornos acima da média, para milhares de investidores brasileiros que confiavam no FGC. Se o banco quebrasse, haveria a garantia de R$ 250 mil por CPF. Especialistas chamavam atenção justamente para esse fato.
O FGC estava servindo como “garoto propaganda” de títulos que prometiam retornos acima da média, a 140% do CDI. Os títulos do Master sozinho representam cerca de 42% do fundo.
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E após toda a repercussão, os CDBs do Master dispararam no mercado secundário, com retornos acima de 20%, 30% nos prefixados, pagando mais que 180% do CDI nos pós-fixados e chegaram a pagar 30% de juros reais no IPCA +. Com medo de calote, quem tinha o papel estava se desfazendo “a qualquer preço”, aumentando a remuneração daqueles que queriam arriscar título até o vencimento.
Após o anúncio do negócio com o BRB, o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) abriu uma ação para impedir a transação, em função de irregularidades. Entre elas, o fato de o Conselho de Administração do Banco de Brasília não ter convocado assembleia de acionistas. Poucas semanas depois, a Justiça do DF acatou o pedido e impediu a assinatura do contrato.
Em maio, a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para apurar o suposto envolvimento do Banco Master em crimes contra o sistema financeiro, incluindo suspeitas de gestão fraudulenta.
O Banco Central terminou bloqueando a venda do Banco Master ao BRB devido a irregularidades encontradas em auditorias, relativas a venda de ativos realizadas desde o final de 2024. Com a decisão do BC, os CDBs do Master com vencimento para junho de 2026 chegaram a pagar 181,5% do CDI na plataforma da XP Investimentos.
Em outra frente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) concluiu que fundos ligados ao Banco Master e ao megainvestidor Nelson Tanure atuaram em conjunto com o controlador e CEO da Ambipar (AMBP3), Tercio Borlenghi Junior, para inflar as ações da companhia de gestão ambiental de entre junho e agosto de 2024.
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O órgão regulador do mercado de valores mobiliários também passou a investigar possíveis irregularidades relacionadas às demonstrações financeiras do BRB, acusando 14 executivos do banco, entre eles, o CEO Paulo Henrique Costa. Logo em seguida, o BRB anunciou rescisão de contrato com os controladores do Master.
Para completar as polêmicas, Vorcaro foi envolvido na Operação Carbono Zero, que investigou a lavagem de dinheiro pelo PCC na Faria Lima. A Banvox DTVM foi citada pela Polícia Federal como uma das investigadas na operação. Os sócios dessa distribuidora tinham ligações com o executivo e deteve, até 2024, 22% de participação acionária no banco.
A crise do banco também evidenciou o risco a que os aposentados e pensionistas de fundos de previdência estão expostos no mercado. O fundo de aposentadoria dos funcionários públicos do Rio de Janeiro, o Rioprevidência, adquiriu R$ 2,6 bilhões em títulos emitidos pela instituição de Vorcaro, correspondente a 1/4 de todos os recursos do fundo. Segundo o Tribunal de Contas (TCE-RJ) havia indícios de irregularidades nas operações e proibiu novas movimentações.
Também vieram à tona empresas expostas aos títulos do Master, a exemplo da Oncoclínicas (ONCO3), que através de comunicado informou que tinha mais de R$ 478 milhões em títulos do banco, mas que havia negociado o resgate desses CDBs.
Já era tarde demais para a Oncoclínicas e também para os aposentados do Rio. No dia 18 de novembro o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Master. Na noite anterior, Vorcaro foi preso pela PF no Aeroporto de Guarulhos quando tentava embarcar para Dubai. Segundo sua defesa, ele iria viajar para tratar da venda do Master ao Grupo Fictor, operação anunciada poucos dias antes.
A prisão do executivo foi a etapa mais midiática da Operação Compliance Zero, fruto da investigação iniciada em maio. Vorcaro é suspeito de ter envolvimento em irregularidades de R$ 12 bilhões na emissão de títulos falsos e lavagem de dinheiro, numa apuração realizada em conjunto com o Banco Central e com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
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Ao longo de todo o ano, as reuniões e conversas de bastidores com a cúpula do Banco Central, festas milionárias, viagens de jatinhos com políticos e autoridades dos três poderes, gastos milionários com consultorias jurídicas foram sendo mostradas pela imprensa, revelando uma rede de conflitos de interesses. As histórias e os prejuízos envolvendo o Banco Master apenas começaram em 2025.
“Uma das principais lições é que a emissão de CDBs e outros títulos garantidos pelo FGC precisam ser mais bem regulados pelo Banco Central”, avalia Carlos Portugal Gouvea, sócio do PGLaw e professor da USP. Ele lembra que o mercado brasileiro é vítima recorrente de fraudes.
Por isso, são necessários investimentos para que os reguladores tenham capacidade de fazer auditorias profundas no sistema financeiros e no mercado de capitais, defende o especialista. “O país sobrevive, mas não conseguimos sair do subdesenvolvimento. Ficamos presos em um círculo vicioso no qual a nossa riqueza fica sendo apropriada por oportunistas.”
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