

Há no mercado brasileiro duas premissas muito defendidas por especialistas: as ações brasileiras estão baratas e o grande causador do problema fiscal do Brasil é o governo federal. Mas Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, discorda de ambas.
“Há uma percepção no mercado de que o valuation do Brasil está barato, mas particularmente não sei de onde vem isso, dado a perspectiva do endividamento brasileiro. A inflação nunca mais vai cair se não encararmos definitivamente a questão do déficit. E não é um problema deste governo. O grande câncer no Brasil se chama Congresso Nacional“, disse Xavier nesta terça-feira (25) no CEO Conference 2025.
A avaliação é de que, ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defenda o aumento dos gastos públicos, são os deputados e senadores que estão travando boa parte das medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reorganizar a trajetória fiscal do País, como a reoneração da folha de pagamentos. “Se a gente não mudar e passar a gerar superávit, não vejo lastro de política monetária que resolva. E [governador de São Paulo e provável candidato à presidência] Tarcísio (de Freitas] ou seja quem for, não vai mudar isso”, afirmou.
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Xavier, da SPX, disse que as eleições ainda estão distantes e que não consegue “fazer um trade de 20 meses”, sem saber como serão as regras do jogo.
Trade de eleição começou?
Desde que a pesquisa de popularidade do Datafolha, publicada em 14 de fevereiro, mostrou a queda da aprovação do presidente Lula a um nível recorde, a possibilidade de não reeleição petista tem feito o mercado viver uma euforia. É o que analistas estão chamando de “trade de eleição”, um posicionamento mais favorável a ativos domésticos baseado justamente na promessa de uma mudança na condução do País nas eleições de 2026.
Já está impactando o mercado? Sim. Significa que o trade chegou para ficar? Os grandes gestores do Brasil acham que não.
“Vimos um rali de 24 horas com o Datafolha, mas provavelmente ainda está cedo demais para o trade de eleição”, disse André Jakurski, sócio-fundador da JGP.
Esta também é a avaliação de Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset. Na visão do gestor do Fundo Verde, o qualitativo por trás da queda de popularidade é relevante, dado que, com exceção da alta dos preços, há poucos indicadores jogando contra Lula neste momento. O problema, no entanto, está na reação do presidente até outubro de 2026.
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“Vamos ver até qual limite Lula vai para melhorar a popularidade, qual será a usina de ideias ruins”, destaca Stuhlberger. Na avaliação do fundador da Verde, a esperança de mudança no governo em 2026 fará o mercado “aguentar” a piora do cenário até lá.