CEO do Santander fala sobre perspectivas para a empresa e analistas dizem o que fazer com as ações (Foto: Santander/Divulgação)
Após um resultado com lucro e rentabilidade acima do esperado, o CEO do Santander(SANB11), Mario Leão, prometeu elevar a rentabilidade da empresa, medida pelo Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês), dos atuais 17,5% para a faixa dos 20% no curto e médio prazo. O crescimento viria com uma gestão cautelosa da carteira de crédito combinada com uma política de redução de custos, o que para analistas ouvidos pelo E-Investidor tende a ser positivo para o acionista em meio ao cenário macroeconômico desafiador de juros elevados.
“Vamos crescer a parte de ativos onde fizer sentido. Com um portfólio cada vez mais saudável, teremos uma linha de provisões que cresce menos que a carteira. Controlando despesas e as provisões, teremos uma alavanca em nossa rentabilidade. Por isso, vejo o retorno sobre o patrimônio em 20% no curto e médio prazo”, disse Leão em entrevista coletiva com a imprensa nesta quarta-feira (29).
Mais cedo, o Santander reportou lucro líquido gerencial de R$ 4,009 bilhões no terceiro trimestre deste ano, alta de 9,4% em relação ao registrado em igual período de 2024. O retorno sobre o patrimônio líquido do Santander avançou 0,5 ponto porcentual em um ano, para 17,5%.
A margem financeira bruta, que reflete os ganhos com operações que rendem juros, foi de R$ 15,208 bilhões, queda de 0,1% em um ano e de 1,2% na comparação trimestral. Nas margens com clientes, o resultado foi de R$ 16,556 bilhões, crescimento de 11,1% no comparativo anual, e de 2,7% em três meses. A margem com mercado do Santander Brasil (SANB11) foi negativa em R$ 1,348 bilhão. No trimestre anterior, havia sido negativa em R$ 730 milhões.
“Resiliência operacional e boa disciplina de capital”
Para os analistas da Ágora Investimentos e Bradesco BBI, o trimestre foi positivo, com destaque para a disciplina em despesas e evolução das receitas com clientes, mesmo diante de perdas maiores na tesouraria devido ao juro elevado. Eles reforçam que o lucro líquido do Santanderno 3T25 ficou 8,4% acima do esperado, assim como o ROE com um resultado 1,1 ponto porcentual superior aos 16,4% que eram esperados pelos analistas.
“O resultado foi impulsionado por despesas operacionais menores (queda trimestral de 5,2%), provisões abaixo do esperado (-2,1%) e alíquota efetiva reduzida (4,4%). Apesar da pressão nos ganhos de tesouraria, destacamos estabilidade na inadimplência, expansão robusta das receitas de serviços (aumento de 6,7% no trimestre) e controle de custos, com despesas administrativas e de pessoal abaixo das estimativas”, dizem Marcelo Mizrahi do Bradesco BBI e Renato Chanes da Ágora Investimentos.
A equipe do Citi avaliou o balanço do Santander como satisfatório no terceiro trimestre de 2025. Os analistas Gustavo Schroden, Brian Flores e Arnon Shirazi atribuem o ganho de cerca de 2% no EBT, em relação às suas estimativas, sobretudo ao ligeiro desempenho melhor da margem com clientes e à baixa menor nas provisões, enquanto a margem com mercado ficou aquém do esperado.
Na qualidade dos ativos, o relatório chama atenção para a alta na formação de inadimplência, de 4,8% para 4,9%, e para a redução da cobertura, fatores que contribuíram para um menor custo de risco. O Citi também destaca que as despesas superaram suas projeções, pressionando marginalmente a eficiência, que passou de 36,8% para 37,5%. Já o índice de capital Tier 1 subiu 53 pontos-base, para 11,7%, apoiado em menores ativos ponderados pelo risco, enquanto a alíquota efetiva de imposto ficou em 6%.
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Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, aponta que os resultados indicam que o Santander segue em uma fase de estabilidade e ganho de eficiência, priorizando qualidade de crédito e preservação de margem. “O banco demonstra resiliência operacional e boa disciplina de capital, o que deve sustentar lucros consistentes nos próximos trimestres”, aponta.
O que esperar do Santander em 2026?
Na coletiva com jornalistas, o executivo delineou um plano de redução de custos e um gerenciamento do risco da carteira com uma maior seletividade para os clientes de baixa renda para os próximos trimestres. Leão comentou que 2026 tende a ser um ano desafiador devido à desaceleração da economia puxada pela Selic elevada.
Segundo Leão, isso tende a impactar o mercado de crédito privado, que mesmo com cenário complicado está longe de estar em crise. “Um patamar de Selic alto torna o cenário desafiador, mas chamar isso de crise de crédito é exagero. Podemos ver em alguns portfólios específicos uma deterioração, como o agronegócio”, afirmou Leão.
Com base nessa perspectiva, o executivo reforça que a empresa deve manter uma avaliação criteriosa antes de conceder crédito para o setor privado. Para as empresas que estão enfrentando dificuldades, ou até mesmo em recuperação judicial, como a Ambipar (AMBP3), Leão comentou que deve acompanhar a situação de perto.
“Queremos auxiliar o cliente a navegar em um momento duro. Estamos adotando as medidas com rigor. A gente segue acompanhando todas as situações muito de perto”, afirmou Leão. O Santander é o maior credor da Ambipar com R$ 663 milhões concedidos para a companhia.
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Em meio a esse cenário, o banco busca filtrar os empréstimos a serem liberados, não só para a carteira de pessoas jurídicas, mas também na pessoa física, principalmente na baixa renda. Nesse segmento, a companhia deve conceder crédito apenas a um grupo seleto, com um bom histórico de pagamentos.
“Vamos continuar abordando o crédito de forma cautelosa e técnica, vamos crescer menos que o mercado. E está tudo bem, esse crescimento menor é planejado”, afirma Leão.
Na visão de Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, essa medida da companhia, de adotar uma postura cautelosa para os próximos trimestres, está correta. “O próximo ano será eleitoral: o governo tende a liberar dinheiro via empréstimos ou benefícios sociais. Isso pode levar a um aumento significativo das provisões. Por isso, concordamos com esse conservadorismo com o banco”, explica Sant’Anna.
Quanto o Santander deve pagar em dividendos?
No geral, os analistas se dividem sobre o que fazer com o ativo. Para a Daycoval Corretora, o rendimento em dividendos do Santander deve ficar entre 7% e 8% nos próximos 12 meses. Segundo o analista, o investidor pode ter o papel na carteira se o foco for ganhar com dividendos. Ainda assim, ele sugere certa cautela com o papel.
“O upside é limitado — ou seja, trata-se de um ativo mais defensivo do que direcional, adequado para compor carteiras balanceadas, mas sem expectativa de valorização expressiva no curto prazo”, explica Mollo.
A Hike Capital calcula um rendimento em dividendo entre 5,4% e 6,5% com base no histórico recente de pagamento e no payout estimado em torno de 45% a 80%.
“Assumindo que o lucro se mantenha e a política de distribuição continue similar, minha estimativa realista seria de um dividend yield bruto de 5,0% a 6,0% nos próximos 12 meses. Um cenário mais otimista, com crescimento de lucro e manutenção de payout, poderia levar a cerca de 6,5% a 7,0%”, afirma Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital
A gestora tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 35 para o fim de 2026, alta de 19,2% na comparação com o fechamento de terça-feira (28), quando a ação encerrou o pregão a R$ 29,36. “O melhor é comprar com moderação, dada a qualidade do banco, rentabilidade elevada e yield atraente, mas sem ignorar os riscos de crédito e macro”, aponta.
Humberto Aillon, professor na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), calcula um rendimento em dividendos para o Santander entre 6,5% e 7%. Ele estima que a ação do banco pode subir para até R$ 32,10, avanço de 9,33%. Já a Ágora Investimentos projeta um retorno em dividendos do Santander em 5,7% para os próximos 12 meses. Os analistas reforçam a recomendação neutra com preço-alvo de R$ 31 para os próximos 12 meses, alta de 6,5% na comparação com o último fechamento.
“Mantemos recomendação neutra, dado o valuation atual e perspectivas de crescimento moderado, mas reconhecemos a resiliência operacional e a capacidade de geração de resultados em um cenário desafiador”, dizem Marcelo Mizrahi e Renato Chanes.
O Citi vai na mesma linha e tem recomendação neutra para as ações do Santander(SANB11). O preço-alvo é de R$ 28, implicando em potencial de desvalorização de 4,6%, ante o último fechamento. Em suma, analistas com quem o E-Investidor conversou veem o balanço como positivo, mas destacam que o banco ainda deve enfrentar desafios em função do cenário macroeconômico, limitando a alta para os papéis. Por isso, consideram o ativo como um investimento defensivo.