Executivos das empresas do Ibovespa adotam discurso mais confiante sobre crescimento, investimentos e retorno ao acionista, segundo análise do Itaú BBA. (Foto: Adobe Stock)
Um indicador pouco observado, mas historicamente relevante, voltou a chamar atenção no mercado brasileiro. Ao analisar o tom do discurso de executivos nas divulgações de resultados do terceiro trimestre de 2025, o Itaú BBA identificou que o sentimento médio das empresas do Ibovespa atingiu o maior nível desde o fim de 2023. Esse movimento, como já visto em ciclos anteriores, costuma anteceder revisões positivas de lucro e a valorização das ações.
Segundo o banco, o índice de sentimento médio do Ibovespa alcançou 8,2 pontos, a maior marca de toda a série histórica do estudo. Em termos práticos, isso indica que as empresas estão falando mais de crescimento, investimentos e futuro, e menos de defesa, riscos e justificativas – um padrão que costuma aparecer antes de uma melhora mais ampla dos números.
Para o investidor pessoa física, esse sinal importa porque o mercado tende a reagir primeiro ao discurso e só depois aos resultados. Quando executivos passam a se comunicar com mais confiança sobre planos de expansão, eficiência e retorno ao acionista, isso geralmente antecede revisões positivas de lucro e, não raramente, movimentos de alta nas ações.
A IA na liderança
O relatório também aponta uma mudança clara nos temas que dominam as falas das empresas. A inteligência artificial deixou de ser periférica e passou a ocupar espaço central, com o número de menções dobrando em relação ao trimestre anterior. Bancos e empresas de tecnologia lideram esse movimento, sinalizando que a IA já está sendo tratada como ferramenta concreta de ganho de eficiência, redução de custos e escala, e não apenas como promessa futura. Para o investidor, isso ajuda a separar quem já incorporou essa agenda de produtividade de quem ainda está atrasado.
Além da IA, ganharam força discussões sobre Capex, dividendos, recompra de ações e impostos. Esse conjunto de temas é especialmente relevante para a pessoa física, pois indica empresas mais dispostas a investir hoje visando crescimento futuro, ao mesmo tempo em que voltam a dar mais ênfase à remuneração do acionista.
Em contrapartida, perderam espaço assuntos como guidance, macroeconomia e câmbio, o que sugere menor postura defensiva e menos necessidade de explicar resultados passados.
Qual o setor mais comentado entre os executivos?
Na análise setorial, o estudo revela uma divisão bastante clara. Educação, tecnologia, construção civil e shoppings lideram o ranking de sentimento. São setores mais ligados à economia doméstica e que se beneficiam da expectativa de queda de juros, melhora gradual do crédito e recuperação do consumo. Já agronegócio, bens de capital, papel e celulose e óleo e gás aparecem como os mais negligenciados, refletindo maior exposição ao ciclo de commodities, incertezas externas e custos ainda pressionados.
Depois da conversa, vem a alta nas ações
Talvez o dado mais relevante do relatório seja a constatação de que o sentimento costuma anteceder revisões de lucro. Historicamente, empresas com notas acima de 9 no modelo de IA do Itaú BBA registraram revisões positivas de lucro em torno de 4% nos 90 dias seguintes. Já companhias com notas abaixo de 7,5, em média, sofreram revisões negativas. Em outras palavras, o tom da conversa costuma mudar antes de os números oficiais aparecerem nos balanços.
O Itaú BBA destaca quatro ações com sentimento elevado que fazem parte de sua carteira: BTG Pactual (BPAC11), Direcional (DIRR3), Smart Fit (SMFT3) e Rede D’Or (RDOR3).
O relatório sugere que o mercado brasileiro pode estar entrando em uma virada silenciosa no discurso corporativo. As empresas estão menos defensivas, mais propositivas e focadas em crescimento, eficiência e retorno ao acionista.