A tarifa será aplicada “a qualquer e todo produto brasileiro enviado aos Estados Unidos”, independentemente de outras taxas setoriais em vigor. Mercadorias redirecionadas por terceiros para escapar da cobrança também serão taxadas. Trump acrescentou que empresas brasileiras podem evitar a medida se passarem a produzir dentro do território americano.
Em resposta às declarações do republicano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica“. “A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”, acrescentou.
De acordo com Diogo Carneiro, professor na FIPECAFI, a expectativa para o Ibovespa na quinta-feira (10) é de continuidade da pressão negativa, refletindo a reação do mercado à nova taxação anunciada pelos EUA. “O dólar tende a se valorizar frente ao real, em linha com a aversão a risco e o impacto sobre setores exportadores brasileiros. O movimento reflete a incerteza quanto à resposta do governo brasileiro, que deve adotar medidas retaliatórias”, afirma – veja aqui como as medidas de Trump impactam o investidor brasileiro.
Em relatório divulgado na noite desta quarta-feira (9), o Goldman Sachs avalia que as tarifas já anunciadas ao Brasil e as esperadas para setores específicos devem elevar a taxa média efetiva dos EUA sobre exportações brasileiras em 35,5 pontos percentuais, o que pode reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil entre 0,3 e 0,4 ponto percentual, caso não haja retaliação significativa.
“Caso o País opte por retaliar, o impacto negativo na atividade econômica e na inflação poderá ser maior. Apesar da possível pressão política por retaliação, esperamos que os exportadores brasileiros peçam moderação ao governo”, ressalta o banco.
As ações mais afetadas na Bolsa
Uma das empresas que sentiram o impacto do anúncio da taxação foi a Embraer (EMBR3). Os papéis da companhia já haviam acumulado desvalorização de 3,62% durante a sessão desta quarta-feira (9), antes das medidas serem apresentadas. Após a confirmação do tarifaço, os títulos negociados nos EUA (ADRs) chegaram a ceder mais de 7% após o pregão regular – um termômetro de como pode ser a abertura do dia amanhã. Petrobras e Vale também caíram no after hours em Nova York e devem sofrer no pregão desta quinta.
Empresas brasileiras que exportam aos EUA, como JBS, listada em Nova York, Gerdau (GGBR4), Embraer, WEG (WEGE3) e Ambev (ABEV3), também devem cair nas Bolsa um dia após o anúncio desta quarta do presidente dos EUA.
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Para Carneiro, da FIPECAFI, empresas como a fabricante de aeronaves, que tem forte exposição ao mercado norte-americano, devem sofrer mais impactos inicialmente, tanto por possíveis restrições comerciais quanto por instabilidades no ambiente de negócios. “Com a expectativa de retaliação do Brasil, também devem ser afetados os setores industriais que importam componentes e máquinas dos EUA, como o automotivo e o de bens de capital”, acrescenta.
Na visão de Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments, companhias que apresentam despesas em dólar ou que estão vinculadas diretamente à moeda americana também podem registrar queda. O entendimento é de que a divisa dos EUA deve subir em relação ao real nos próximos dias. Hoje, o dólar futuro para agosto disparou no pregão e renovou sucessivas máximas, até atingir o nível de R$ 5,63, após os anúncios de Trump.
“Sem sombra de dúvidas, os mercados amanhã vão acordar sentindo essas tarifas. Acho que vai ser um dia bem importante para o cenário de Bolsa em 2025, dado que o Ibovespa vem apresentando excelentes resultados”, afirma Redivo.
Otávio Araújo, consultor sênior da ZERO Markets Brasil, avalia que os setores mais sensíveis à exportação para os Estados Unidos, como aço, alumínio e agronegócio, podem sofrer com redução da competitividade, após as tarifas de Trump. “Produtos brasileiros ficarão significativamente mais caros para o consumidor americano, o que pode resultar em perda de mercado e queda nas receitas das empresas exportadoras”, avalia.