

Quem esperou bons ventos para as ações da Tesla (TSLA) com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos (EUA) pode ter se enganado. Nos quase dois meses do novo governo, a montadora de veículos elétricos, comandada pelo megabilionário Elon Musk, perdeu US$ 655 bilhões em valor de mercado, segundo dados da Elos Ayta. O pior dia foi a sessão de segunda-feira (10), quando as ações sofreram um tombo de 15,4%. A depreciação foi responsável por cravar a maior queda da companhia em um único pregão nos últimos cinco anos.
Nesta terça (11), a Tesla subiu 3,8%, após a gigante dos veículos elétricos cair 15% enquanto os investidores consideravam a possibilidade de recessão nos EUA e um analista de Wall Street reduzia a sua previsão para as entregas da empresa no primeiro trimestre. Nesta terça-feira (11), o presidente dos EUA, Donald Trump, apareceu ao lado do CEO da empresa, Elon Musk, após dizer que pretende comprar um veículo da Tesla, em sinal de apoio ao dono da montadora.
O desempenho seguiu na direção contrária às expectativas em relação ao resultado das urnas eleitorais americanas, que confirmaram a volta do republicano à Casa Branca. Na semana das eleições nos EUA, a montadora de veículos cresceu 31,9% na bolsa de valores. A valorização superou a do bitcoin (BTC) que renovava as suas máximas históricas. A alta refletia o entusiasmo dos investidores com a influência de Musk no novo governo após ter apoiado a candidatura de Trump.
Hoje, o bilionário ocupa a presidência do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), responsável pela redução dos gastos públicos. No entanto, a sua atuação dentro do governo se transformou em uma experiência negativa para a montadora de veículos. “O mercado está receoso com a distância de Musk com a Tesla porque há muita distração. Ele tem o X (antigo Twitter), está liderando um grupo que propõe a compra da OpenAI e ainda possui uma participação política em meio a uma guerra comercial com a China”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
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A retórica política de Musk, voltada para a extrema-direita, também respinga na reputação da montadora de veículos elétricos que tem sido alvo de protestos, hostilidades e atos de vandalismo nos EUA. Em meio a esse caos, Musk disse à Fox Business, na segunda-feira (10), que enfrenta “dificuldades” para conciliar a administração dos seus negócios com o seu papel na DOGE.
A conduta do presidente americano, Donald Trump, na aplicação das tarifas de importação sobre os itens vindos do México e Canadá também se tornou um problema para as ações da Tesla. A imprevisibilidade sobre quando ocorrerá o início das taxas de importação alimentou as especulações dos analistas de Wall Street de uma possível recessão na economia dos Estados Unidos.
Além da tensão comercial entre os países atingidos, as alíquotas têm o potencial de elevar a inflação americana e impedir uma retomada do ciclo de afrouxamento monetário no país. Nem mesmo Trump descartou essa possibilidade. Como mostramos aqui, em entrevista ao canal Fox News, o chefe da Casa Branca afirmou que os EUA passam por um período de transição. “Tenho que construir um país forte, não dá para prestar atenção no mercado”, afirmou o republicano ao ser questionado sobre as reações dos índices acionários.
Aumento da concorrência e balanço aquém das expectativas
Quando se observa o operacional da montadora, não há muito a ser comemorado pelos investidores. No balanço do último trimestre de 2024, divulgado no fim de janeiro, a Tesla reportou uma receita de US$ 25,71 bilhões. O volume, além de representar uma queda de 2% na comparação anual, ficou abaixo das expectativas do mercado, que esperava um volume de US$ 27,23 bilhões, segundo dados da Avenue. O segmento de automóveis – o mais importante da companhia – sofreu uma queda de 8% em um ano e, mesmo com o recorde de volume de veículos no trimestre, a média do preço de venda foi menor.
O mercado também acompanha com preocupação a concorrência no setor de automóveis autônomos. Em fevereiro, a marca chinesa e rival da Tesla, BYD, informou ao mercado que está investindo no seu sistema de assistência ao motorista com a ajuda da Deepseek, startup chinesa que estremeceu os mercados com o lançamento do seu novo chatbot similar no fim de janeiro.
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A rival da Tesla também planeja o lançamento de um sistema de direção assistida em sua linha de carros, que inclui automóveis de baixo custo. “A notícia veio enquanto a Tesla ainda trabalha para a obter a aprovação dos reguladores chineses para uma versão supervisionada pelo motorista do software de direção autônoma. Isso foi um golpe contra a Tesla”, complementa Castro Alves.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), as ações da Tesla (TSLA) recuperam as perdas de segunda e avançam 2,73%, cotadas a US$ 228,22.
(Com informações do Broadcast)